Migalhas de Peso

Umas coisas

Às vezes são clichês, não são adágios.

23/7/2009


Umas coisas

Edson Vidigal*

Às vezes são clichês, não são adágios.

Clichês são frases curtas que se inventam e que de tanto serem repetidas impressionadamente se fazem passar como brotadas da observação geral, e até se confundem, muitas vezes, com as constatações difundidas pela sabedoria popular.

Tipo assim. O cara tem estrela. Ou então, o bicho é invencível. Com ele ninguém pode. Só o baixinho do canivete pode acabar com essa sorte dele.

Os adágios, estes sim, resultam da observação atenta e serena, e demorada, das pessoas e, por isso, quando alcançam aos ouvidos do mundo capazes de ouvi-los e as bocas gerais competentes para repeti-los aí sim ó meu camarada, se foliam a ouro.

Quem não conhece o adágio que adverte que o risco que corre o pau corre o machado? E aquele outro, nada melhor que um dia após o outro com uma madrugada no meio?

Maior que um adágio tipo um assim nem tudo que reluz é ouro vi numa noite rara, sim porque não sou de andar vadio aí pelas noites públicas, vi numa noite dessas de quase fim de semana uma camarada com uma blusa com enfeites prateados que só me chamaram a atenção, os enfeites sim, ela nem tanto, porque me disseram que ela, a moça, é contra o capitalismo.

Não sei se quem estava na mesa à minha esquerda era de direita ou se quem estava à minha direita era de esquerda, e vice - versa. Mas a moça se diz por aí de esquerda, au, au!

Hoje em dia essas coisas parecem tão démodé, para não se dizer, em alguns casos, até ridículas, que aparecer uma moça nem tão feia assim, mas nem tão moça como ainda acha que é, chamando a atenção só por espalhar que é contra o capitalismo, já nem causa tanto frisson.

A primeira vez, se bem me lembro, que ouvi essa palavra capitalista eu era menino e apareceu alguém lá do bairro Ponte, onde moro hoje em Caxias, dirigindo um jipe sem capota. É que ele está virando capitalista, era a justificativa.

Então, ficou na minha cabeça que esse negócio de ser capitalista não devia ser tão ruim assim. Passei a cadastrar visualmente os capitalistas locais. Depois vi que para ter fon-fon trabalhavam, trabalhavam.

E não me pareciam pessoas ruins. A humanidade local quase toda parecia se satisfazer em estar em derredor deles.

Hoje em dia é que tem essa rapaziada célere cobrando adiantado taxas de proteção em práticas claramente tipificadas pelo Código Penal.

No México se diz exclamando – caracho!

A primeira vez que ouvi isso foi de um senhor de fisionomia respeitosa, um ar majestoso, aliás ninguém mais ninguém menos que o Presidente da Suprema Corte do País.

Logo associei sua exclamação à semelhança fonética da língua portuguesa brasileira e me danei a rir, admirado eu também, mas sem saber, e nem eu quis saber, o significado real dessa expressão.

E já nem me lembro agora do que deu margem àquela reação com um caracho tão eloquente do vetusto magistrado, e eu ali um tanto escandalizado, logo eu, bom individuo, no dizer do samba, cumpridor fiel e assíduo dos deveres do meu lar.

Agora, no meio de nós por aqui, não entre nós, graças a São Benedito, e quem sabe talvez até por obras de São José do Ribamar, a gente vê pintarem umas coisas que sendo algum palavrão incabível na exclamação, talvez o melhor de reação a fazer seja soltar à maneira mexicana o riso escancarando as gargalhadas – caracho, siô! Caracho!

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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA





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