Torneios
Edson Vidigal*
Tem viciado em jogo por dinheiro e nem sempre o risco a que se entrega é pela necessidade de amealhar. É pela pura emoção que isso possa lhe causar.
Começam quase sempre apostando ninharias e quando menos se espera as apostas são altas.
São incontáveis as estórias sobre os insucessos de quantos sem força para não ceder à tentação do jogo decaíram na vida, horrivelmente.
Há muita diferença entre os que não se curam e estão sempre de volta ao baralho e os que, nunca tendo sido chegados a isso, não se perdem no caminho de volta ao trabalho.
Há os que entram na política e fazem dela um cassino possível a todo tipo de jogo. Só que as apostas que fazem, ganhando ou perdendo, são pagas por nós, os outros.
Pagamos com a fé que nos roubam, com a esperança que nos surrupiam a cada vez que a roleta das inconsciências manipuladas e as engrenagens do sistema lhes declaram vencedores, digo melhor, sorteados.
Os viciados em competição, até onde os observo, parecem menos danosos. Para eles, competir é participar. Não interessa muito se numa corrida dessas de São Silvestre, por exemplo, em que lugar estarão, ao final, classificados. Décimo primeiro, ou centésimo, a alegria é a mesma.
Semana que vem eu quereria estar na Finlândia. não ainda para participar, mas inicialmente só para assistir ao Campeonato Mundial de Carregamento de Esposas.
Você está rindo? Os finlandeses realizam todo ano esse campeonato para o qual acorrem participantes do mundo inteiro. Servem também como prova imorredoura de amor.
Vou procurar saber se alguém do Brasil, ou mesmo do Maranhão, já andou por lá levando a tiracolo a sua respectiva. Ou se está inscrito e vai mesmo levar.
Pense num ente amoroso saindo dessas plagas tropicais só para levar a amada a um campeonato desse na Finlândia, pense! Este mês haverá verão por lá. Não com esse sol radiante de chamar gringos para o Ceará.
E sabe como é o campeonato? Cada competidor tem de carregar nos ombros, no estilo macaquinho, a sua parceira feminina por uma extensa trilha de obstáculos.
O vencedor é aquele que conseguir chegar primeiro, mas sem deixar a esposa pelo caminho, é claro.
Depois, a parceira é levada a uma balança para ser pesada. Só depois. O equivalente ao peso dela será dado ao vencedor como prêmio. Em cerveja.
As coisas ultimamente parecem andar mesmo assim, muito esquisitas. Não ligo o meu rádio uma vez que não ouça sobre as secretices dos homens secretos no cassino secreto em que transformaram o Senado.
Dizer cassino é amenizar bastante, até porque nem rima com o que todo mundo está achando que é. Ligo a minha televisão e está lá o homem se explicando, a crise não é minha, a crise é do Senado. Ah meu Deus, até quando?
Em sendo assim, se não estamos conseguindo mais aturar isso tudo por aqui, tantos viciados em jogos de poder apostando tudo, mas só com o que não é deles, em sendo assim, gente, voltemo-nos para a Molvânia. Na Molvania vence a Olimpíada Anual quem consegue beber mais aguardente de acelga. O drinque tradicional é um conhaque de alho.
Espanta demônios, sim.
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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA
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