O torturante Bandeide
Edson Vidigal*
Como diz o ditado, todo sabido tem o seu dia de besta.
Isto depois de ter dito várias vezes ao Presidente Lula que não seria candidato, mas o sendo, e na última hora derrotando o Senador Tião Viana, o candidato do Presidente da República.
José Sarney está hoje naquela de que se arrependimento matasse já estaria morto.
Não está ainda morto, é certo. Mas está moribundo.
É moribundo político que muito dificilmente sairá com saúde moral da UTI política em que a família acabou por segregá-lo.
Há décadas, desde que saiu da Presidência da República, que JosÉ Sarney vem tentando se escafeder dos imbróglios da política.
Foi convencido de que com Collor Presidente precisaria de um mandato para não ser preso.
Collor havia prometido que mandaria prendê-lo. Pura intimidação e os dois hoje, Sarney e Collor, parecem amiguinhos de infância.
Depois do primeiro mandato de Senador pelo Amapá, e essa história é comprida, Sarney foi ficando. Mas sempre com um pé e um olho fora, querendo sair.
Seu sonho é a consagração igual a um Jorge Amado como escritor e a um Bandeira Tribuzi como poeta.
Sua poesia, às vezes surrealista, mas sempre fantástica, especialmente quanto a maribondagens, rivaliza com Coelho Neto, o príncipe dos poetas, de quem retira a paráfrase do seu poema preferido – Ser pai é desdobrar fibra por fibra / ser avô é padecer no paraíso...
Hoje, Sarney estaria muito feliz com as liturgias da Presidência do Senado sem perder tempo com os almoxarifados, despensas e lixeiras, se a decisão de encarar a disputa contra o Senador Tião Viana não fosse movida apenas por razões paternalistas.
Acreditava Sarney que poderia emparedar o Presidente Lula levando-o a demitir o Ministro da Justiça Tarso Genro ou, no mínimo, alguns de seus subordinados mais importantes.
Como Presidente do Senado poderia tirar seu filho Fernando e alguns dos seus operadores do foco das investigações da Receita Federal e da Polícia Federal. Não tirou.
E ainda, de quebra, tirar do cargo o Governador do Maranhão Jackson Lago, restabelecendo através da filha Roseana a sua oligarquia decadente e cruel. Tirou.
O Maranhão, depois de 40 anos da oligarquia Sarney, disputa com Alagoas o último lugar em tudo que não presta no Brasil, o maior atraso econômico, a maior pobreza social.
O doutor Tancredo Neves advertia sempre que a esperteza quando é demais vira bicho e engole o esperto.
Sarney nessa cena de agora bem que nos faz lembrar aquele bolero de João Bosco e Aldir Blanc, na voz de Elis Regina.
Sentindo frio em minh'alma / te convidei prá dançar... / são dois pra lá / dois pra cá... E ainda tem aquela ponta do torturante bandeide no calcanhar.
_______________
*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA
__________________