Migalhas de Peso

Choque de realidade

Existem males que vêm para o bem, e nesses tempos de crise esta definição merece uma reflexão. No final da década de 80, o saudoso Governador Mário Covas, então candidato à presidência da república, afirmava que o Brasil precisava de um choque de capitalismo.

16/3/2009


Choque de realidade

Marcelo Luiz Martins Balau*

Existem males que vêm para o bem, e nesses tempos de crise esta definição merece uma reflexão. No final da década de 80, o saudoso Governador Mário Covas, então candidato à presidência da república, afirmava que o Brasil precisava de um choque de capitalismo. Infelizmente, Covas não se tornou presidente, e o candidato vencedor, Collor, promoveu o choque de capitalismo, não nos termos pretendidos pelo Governador, mas conforme o pensamento das elites dominantes do país.

De lá para cá, passaram-se vinte anos, quatro presidentes da republica, crises da Rússia, Argentina, México, Tigres Asiáticos, Nasdaq, e por outro lado, nos últimos seis anos, atingimos o maior período de crescimento global continuado, que euforia!

Durante esse período de glória do capitalismo foram instituídos diversos fundos de investimentos, fundos soberanos, fundos de derivativos (hedge fund) e daí por diante. IPOs? Foi uma farra, grande parte das empresas foram captar recursos na bolsa de valores, e algumas delas, não satisfeitas com a abertura do capital na Bovespa (o céu é o limite), foram a Wall Street, Meca do capitalismo, realizar novo IPO para obter mais recursos.

No plano privado, a vida ficou ordinária e chata. Em qualquer conversa com amigos, colegas de trabalho, familiares, somente um assunto dominava e persistia: bolsa de valores, investimentos, ganhos (pasmem, ninguém perdia), índice Bovespa, Petrobas PN, Home Broker...

O capitalismo estava correndo um grande risco, no mundo coorporativo as empresas estavam majorando suas receitas em operações financeiras típicas do setor bancário e os particulares despejando suas energias e esperanças em aplicações na bolsa de valores. O negócio da empresa e a carreira do profissional ficaram em segundo plano, pois o imediatismo e a mídia consagravam o novo neoliberalismo.

As empresas apostavam e desejavam aquele diretor financeiro com experiência no mercado de capitais e o profissional almejava aquele curso de três semanas que ensinava a aplicar em ações e ficar rico.

Tudo era tão fácil, o valor de mercado de algumas empresas superava o PIB de muitos de países, surgiram centenas de milhares de novos bilionários e milionários, o dinheiro corria solto. Dinheiro esse, virtual. Eu nunca vi aquela "bolada" que meu vizinho ganhou na bolsa de valores, o carro dele continua o mesmo, a mesma casa. Afinal, só ganha(ou) quem intregaliza(ou), mas quem seria o afoito de integralizar quando as expectativas de ganhos eram infinitas.

De repente, veio a crise, melhor: o choque de realidade. Afinal, a forma mais antiga e justa de criar riqueza é o trabalho. Assim, as empresas devem concentrar suas energias e investimentos em seu negócio, seja mediante aquisição de novos negócios ou expansão, programas de gestão, capacitação técnica dos colaboradores, enfim, ganhar e gerar riquezas na atividade fim da empresa.

Já o profissional tem que se concentrar no aprendizado, na capacitação técnica, no planejamento da carreira, e trabalhar na atividade que lhe dê satisfação, paixão e, porque não, dinheiro.

Ah, e a bolsa de valores? Deixemos para os especialistas.

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*Advogado do escritório Lima & Falcão Advogados





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