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Israel: paciência ou brutalidade?

As notícias que nos chegam da batalha na faixa de Gaza vêm permeadas de informações pouco corretas e, muitas vezes, de ventos carregados de sandices contra Israel.

20/1/2009


Israel: paciência ou brutalidade?

Maristela Basso*

As notícias que nos chegam da batalha na faixa de Gaza vêm permeadas de informações pouco corretas e, muitas vezes, de ventos carregados de sandices contra Israel. O fato é que precisamos colocar os pontos nos is. Comecemos recordando que em Gaza não temos uma guerra tradicional, nem a violência é capaz de distinguir entre os "bons mortos" e os "maus mortos". Ali é impossível prever quem são os executores e quem são as vítimas. Novas táticas, adaptação rápida e truques letais usados pelo Hamas fizeram de Gaza, nos últimos anos, um labirinto mortífero de túneis, armadilhas explosivas e bombas extremamente sofisticadas de controle remoto.

Israel não tem um inimigo de guerra, como nas históricas guerras do passado. Há armas escondidas em mesquitas, escolas, residências. Os líderes do grupo articulam suas estratégias nos subterrâneos do maior hospital de Gaza. Seus militantes combatem em trajes civis, emergem de túneis disparando armas automáticas e mísseis antitanques e depois se abrigam sob a terra e se protegem atrás de alvos humanos. A infiltração do Hamas entre civis (homens, mulheres, crianças) é uma dificuldade dramática para o exército de Israel. O horror perpetrado pelo Hamas chega ao ponto de exporem civis nos telhados dos edifícios a fim de evitarem os ataques.

A resposta dos soldados israelenses, longe de desproporcional, tem sido usar novas armas, como as bombas inteligentes e de pequeno diâmetro (GBU-39), com pequena carga explosiva, capaz de penetrar o solo e atingir túneis, minimizando os danos colaterais em áreas urbanas. Esses mesmos soldados alertam os civis a abandonar as áreas de batalha, e não é verdade que estão instruídos a bloquear o corredor humanitário que leva remédios e mantimentos aos habitantes de Gaza. Desde o começo da ofensiva terrestre, os comboios de assistência humanitária, conforme informou o "The New York Times", vêm cruzando sem cessar a passagem de Kerem Shalom. Em 31 de dezembro, só para citar um único dia, mais de cem caminhões entraram em Gaza com suprimentos. Também não custa lembrar que os hospitais israelenses, a cada dia, continuam a receber e a tratar os palestinos feridos.

É inegável que há uma enorme assimetria ética, moral, filosófica, institucional e estratégica entre os israelenses e os militantes do Hamas. Os primeiros lutam pela defesa de seu território, pela sua autodeterminação e sobrevivência do seu povo. Razões chanceladas pelo direito internacional. Os segundos são fundamentalistas-extremistas que não representam a causa palestina e nem falam em nome dos árabes. Foram eles que interromperam, em dezembro último, a trégua combinada com Israel, declararam nula a agenda de paz, avançaram em direção a Israel retomando as missões suicidas. E tudo isto enquanto parte de seu comando descansa de forma segura em Damasco. São eles que alijaram os demais irmãos árabes do Fatah e da Autoridade Nacional Palestina do processo de consolidação da paz e da convivência pacífica entre eles e com os vizinhos judeus.

A diferença crucial entre esses combatentes é que os membros do Hamas, em nome da causa palestina, abrem fogo contra civis, enquanto os israelenses objetivam alvos militares e, sem que o desejem, causam baixas civis. Os primeiros cometem crimes de guerra; os segundos causam danos colaterais – ainda que terríveis.

È fato inegável que a luta de Israel não representa ameaça a segurança internacional. Ao passo que a aliança entre Hamas, Hizbollah e Irá não apenas compromete o Oriente Médio como também a paz mundial.

E o resto do mundo se pergunta que Deus ou causa é esta que empurra os jovens suicidas contra o povo judeu (mulheres e crianças) e depois procura abrigo nas brechas do direito internacional em sinistras teses de ódio insano. Que causa é esta, niilistas ao extremo, que reduz os comentários sobre a batalha de Gaza a um problema de excesso de brutalidade de Israel.

Aqui entre nós, Deus não tem nada com isto. Para os militantes do Hamas, seja lá o Deus que tiverem, trata-se de um jogo de forças para ver quem vence ao final entre as várias facções e grupos árabes e, mais do que isto, quem consegue dar cabo do povo judeu. E aí não estão em jogo apenas questões ideológicas e religiosas, mas, sobretudo, econômicas e geopolíticas. Para os judeus, independentemente do grau de religiosidade, trata-se de uma guerra pela sua autodeterminação, existência como Estado soberano e sobrevivência de seu povo.

Não há dúvida de que a vida tem sido difícil para ambos os lados e, ao mesmo tempo, desconfortável e insegura para o resto do mundo. Inútil é procurar saber quem errou mais ou menos. Israel cometeu erros e o Hamas também. Contudo, saídas para a paz existem, uma trégua é possível e uma nova agenda de discussões pode ser redefinida, desde que o ponto de partida seja o reconhecimento mútuo e a certeza de que o povo judeu e o povo palestino, dentro das suas fronteiras, são Estados independentes, com direito à coexistência pacífica. Enquanto isto não acontecer vamos continuar escutando os ecos das palavras de Golda Meir: "nós podemos perdoar os árabes por matarem nossas crianças, mas nós não podemos perdoá-los por nos forçar a matar as suas crianças. Nós somente teremos paz com os árabes quando eles amarem suas crianças mais do que nos odeiam".

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*Advogada. Professora de Direito Internacional da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP

 

 

 

 

 

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