Migalhas de Peso

Bancos quebrando

A declaração do ministro Mantega de que “não há bancos quebrando”, em vez de acalmar, preocupa ainda mais. Toda vez que vem alguém do atual governo manifestar alguma coisa, mesmo sendo mulher — como dizia vovó —, é melhor deixar as barbas de molho.

4/11/2008


Bancos quebrando

Sylvia Romano*

A declaração do ministro Mantega de que "não há bancos quebrando", em vez de acalmar, preocupa ainda mais. Toda vez que vem alguém do atual governo manifestar alguma coisa, mesmo sendo mulher — como dizia vovó —, é melhor deixar as barbas de molho.

Até a presente data, ainda não havia sido aventada a hipótese de quebra de bancos no Brasil e, de repente, o ministro aparece negando esta possibilidade. Negação neste governo, como já se viu em várias outras ocasiões, é o futuro de confirmações.

Não dá para entender como um banco possa vir a quebrar, cobrando o que cobra de seus devedores e pagando o que paga a seus investidores e funcionários. O Brasil é o paraíso dos banqueiros, com suas taxas de juros vergonhosas e a divulgação, até o último exercício, dos seus escandalosos crescimentos. O que produz um banco, além da agiotagem? Este, aliás um crime nefando, segundo a igreja católica, pois só quem pode vender o tempo é Deus, e os banqueiros o vendem a um custo inimaginável, cobrando o que chamam de juros, o que vem a ser a mais pura extorsão.

O que também não dá para compreender é uma declaração desta natureza em tão inoportuno e arriscado momento econômico. Tal afirmação é um perigo e poderá acarretar uma corrida aos bancos e uma quebradeira geral. Que falta que faz um bom profissional de comunicação para aconselhar esse ministro a não tocar em um assunto tão complexo e perigoso nos dias de hoje. Essa vontade de aparecer está ficando contagiosa e este contágio, a meu ver, está afetando todos. Todos querem a mídia, todos querem os holofotes, seja falando coisas importantes ou até um monte de besteiras, o importante é ter a cara no jornal.

Essa negação de um provável fato só serviu para chamar a atenção sobre algo que pode vir a ocorrer e, em economia, nada é seguro, vide a ação da presidente da Argentina que acaba de estatizar toda a aposentadoria complementar de seu país. A pequena parcela da população brasileira que ainda tem alguma coisa aplicada em bancos está começando a ficar preocupada. De um momento para outro, começou a sentir que sua provável segurança pode ir por água abaixo. Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém, mas o que todos sabemos é que sempre onde há fumaça há fogo!

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*Advogada do escritório Sylvia Romano Consultores Associados










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