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Assassinato de Isabella Nardoni ganha ares de romance policial

Todos os ingredientes de um bom romance policial estão presentes no desenrolar das investigações do assassinato de Isabella Nardoni. Polícia e Ministério Público de um lado, esforçando-se para esclarecer o crime. De outro, os advogados de defesa, lançando dúvidas sobre a suspeita que até o momento recai sobre o casal.

6/5/2008


Assassinato de Isabella Nardoni ganha ares de romance policial

Mário Gonçalves Júnior*

Todos os ingredientes de um bom romance policial estão presentes no desenrolar das investigações do assassinato de Isabella Nardoni. Polícia e Ministério Público de um lado, esforçando-se para esclarecer o crime. De outro, os advogados de defesa, lançando dúvidas sobre a suspeita que até o momento recai sobre o casal.

Até a palavra estigmatizada "madrasta" parece reviver a figura do "mordomo" de célebres romances policiais. Deve-se, aliás, muito aos clássicos desenhos de Walt Disney esse estigma que faz da "madrasta", em regra, uma pessoa má.

A cada dia, um ou mais capítulos novos de uma trama que está comovendo a opinião pública, e aguçando a curiosidade geral. Pode parecer macabro, mas à natureza humana historicamente interessam as grandes desgraças alheias. Despertam, ao que tudo indica pelo que se vê hoje do caso Nardoni, as mesmas emoções de um bom romance policial.

Especula-se de tudo. A reconstituição do crime ultrapassa muito os muros do condomínio onde Isabella foi morta. Chegou à casa noturna onde a irmã de um dos suspeitos atendeu telefonema e teria dito "meu irmão fez uma grande bobagem" (fato que vem sendo negado veementemente pela própria). Buscam-se testemunhas auriculares fora do condomínio. Gente do outro lado da rua ou do próprio prédio teria ouvido "pára, pai" e uma suposta briga do casal dez minutos antes da hora provável da morte de Isabella.

Tudo para montar um quebra-cabeça assustador, cujas principais peças parecem ainda estar faltando. Como num romance policial, os autores do crime provavelmente só serão conhecidos no último capítulo. Se forem conhecidos sem sombra de dúvidas. O mordomo ainda pode ser inocente.

São poucos os crimes que geram tamanha curiosidade. Salvo por alguns casos como o lendário "Rua Cuba" e a morte de PC Farias e namorada, o caso Isabella Nardoni desperta interesse só comparável ao do assassinato novelesco de Odete Roithman.

O processo penal pode ter sido mais civilizado pela ampla defesa e o contraditório. As penas já não são tão cruéis na maior parte do mundo. Mas a natureza humana ainda se ressente dos tempos mais sombrios.

Por vezes dá até para se sentir o cheiro de carne queimada das execuções penais de um passado menos civilizado que insiste não ser totalmente vencido na história da humanidade. Arenas eram utilizadas para entreter o público jogando-se condenados a leões ou a gladiadores. Praças públicas foram durante muitos anos logradouros de execuções, a pretexto de intimidar os que pensassem cometer crimes, onde o que se assistia não era propriamente o constrangimento pedagógico da massa, mas interesse e emoção de finais de campeonatos em torno de enforcamentos e pessoas queimadas vivas em grandes fogueiras.

Tudo contribui para fazer da desgraça um espetáculo. Ninguém quer acreditar na pior hipótese, o mundo das hipóteses não oferece perigo. É melhor abrigar-se no faz-de-conta midiático e fugir da cena do crime. A imprensa dá todos ingredientes. Cerca a casa dos suspeitos, tenta noticiar se encontraram a família e os filhos sobreviventes e outras fofocas que nada têm que ver com a morte de Isabella. Põe no ar opiniões de abelhudos, desde a dona de casa até o engravatado que andar pela avenida Paulista no horário do almoço. Afinal, o show tem que continuar.

Este é o mundo da internet. Não é preciso brigar por um lugar privilegiado nas praças para assistir à execução (ou execração) de suspeitos ou criminosos. Basta ligar a televisão, acomodar-se na melhor poltrona do sofá e saborear um saco de pipocas bem gostoso.

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*Advogado do escritório Demarest e Almeida Advogados












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