Um advogado na história do Paraná
O valioso legado que Túlio Vargas nos deixou
René Ariel Dotti*
Além dos mandatos de deputado federal e estadual, desempenhados com extraordinária eficiência e brilho, ele presidiu por vários anos a Academia Paranaense de Letras com sensibilidade, lucidez e o entusiasmo moderado dos grandes líderes.
Túlio Vargas foi também um notável secretário de Estado da Justiça, durante o fecundo governo de Jayme Canet Junior. No sistema penitenciário a sua orientação foi marcadamente sensível e dinâmica, com destaque para programas e iniciativas de humanização dos meios e métodos de recuperação social do condenado. Entre eles merecem destaque a criação do Instituto de Orientação Social Laertes Munhoz (1976) e as propostas de um Grupo de Trabalho, sob sua presidência e com a participação dos saudosos desembargadores José Munhoz de Mello e Negi Calixto, do doutor Edison José Ferreira dos Santos, do professor Luiz Chemin Guimarães e da assessora Leny Massolin Pacheco. Também colaborei naquela equipe que analisou o Projeto de Lei nº. 2/77, da Câmara dos Deputados, destinado a introduzir alterações nos códigos Penal e de Processo Penal e da Lei das Contravenções Penais.
Os livros, os artigos, as conferências e palestras de Túlio Vargas lembram a interpretação que os pósteros fazem de Goethe, o imortal autor de Fausto: "Vida e obra, uma coisa só". Se os documentos oficiais da história do Paraná e suas figuras mais representativas se perdessem por fato da natureza ou do homem, o trabalho de restauração começaria pelos seus escritos. E encontraríamos em O Indomável Republicano, A última viagem do Barão do Cerro Azul, Conselheiro Zacarias, Senhor Senador Senhor Ministro (Ubaldino do Amaral), O tribuno da liberdade (Arthur Santos) e outros tantos, os valores cívicos, intelectuais e espirituais que ele nos deixou.
Certamente a Academia Paranaense de Letras, o Centro de Letras do Paraná, o Tribunal de Justiça e outras instituições culturais e científicas prestarão à memória de Túlio Vargas as homenagens dignas e constantes, para que a sua existência terrena e a sua obra jamais caiam no esquecimento. Umas de suas características, aliás, foi sempre a de organizador de figuras e fatos públicos para registrá-los em textos específicos.
Samuel Johnson (1709-1784), escritor inglês, observou muito bem: "Não importa como uma pessoa morre, mas sim como ela vive".
O Paraná perde um de seus mais notáveis homens públicos. E eu, um grande, sensível e constante amigo.
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*Advogado do Escritório Professor René Dotti
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