Ministro Hélio Quaglia Barbosa e desembargador Roberto Stucchi, meus amigos
Ovídio Rocha Barros Sandoval*
Hélio trazia o testemunho do jovem bem educado, de rara inteligência e de um dedicado amor ao estudo do Direito e já era conhecedor respeitável do Direito Administrativo que aprendeu a gostar a partir de sua convivência amiga com o notável professor Hely Lopes Meirelles, quando Secretário da Segurança Pública, sendo Hélio seu oficial de Gabinete.
Stucchi trazia a marca de uma personalidade alegre, educada, inteligente, com um fantástico pendor e dedicação ao estudo do Direito.
Fomos aprovados, com a alegria de termos os nossos nomes entre os cinco primeiros classificados, entre 730 candidatos. No mesmo dia – 13 de janeiro de 1969 – tomamos posse e iniciamos nossas carreiras.
Ficamos amigos por quase quarenta anos e por admirá-los, acompanhei toda a escalada de cada um deles nos degraus da Magistratura, com grande entusiasmo.
Quando assumi, como Juiz titular, a comarca de Guariba em 29 de novembro de 1969, tive a alegria de receber a sua jurisdição por intermédio do Hélio, que ali judicava há quatro meses, como Juiz Substituto da Circunscrição de Araraquara. No início de dezembro, fiz a correição anual nos Cartórios e me entusiasmei ao tomar conhecimento do fantástico trabalho de Hélio naquela comarca. As duas primeiras páginas do meu relatório encaminhado à Corregedoria-Geral de Justiça foram utilizadas para apontar e descrever o excelente trabalho por ele realizado e dizia, quase em profecia, que estávamos diante de um fantástico Juiz. O tempo se encarregou de demonstrar essa verdade. Em seguida acompanhei a sua ida para a comarca de São Simão onde, em troca de olhares, da janela do salão do Júri, com uma jovem que passava pela calçada, acabou encontrando a sua querida esposa. Acompanhei a sua chegada <_st13a_personname w:st="on" productid="em São Joaquim">em São Joaquim da Barra e a posterior ida para a comarca da Capital. Quando foi indicado para Juiz titular da 19ª. Vara Criminal, em lista de merecimento, a nomeação era feita por decreto do Governador. De forma espontânea entrei em contato com meu amigo e Secretário da Justiça o saudoso professor Waldemar Mariz de Oliveira Júnior para testemunhar que o Hélio era um Juiz magnífico. Foi nomeado e poucos anos depois chegou ao Segundo Tribunal de Alçada Civil. Enviei um ofício ao Presidente daquele Tribunal cumprimentando aquela Colenda Corte de Justiça que recebia um Magistrado de excelsas virtudes. Escrevi ao Hélio para cumprimentá-lo por sua nomeação e, em resposta, ele me disse que iria mostrar a carta para sua mulher e filhos, para que tomassem conhecimento do testemunho de um verdadeiro amigo sobre sua pessoa, em um santo orgulho. Chegou a Desembargador e, posteriormente, a Ministro do Superior Tribunal de Justiça. Quando o meu querido e saudoso amigo Ministro Domingos Franciulli Netto resolveu trabalhar para a indicação do Hélio para compor a lista dos indicados a uma vaga no Superior Tribunal de Justiça, entrei de corpo e alma na feliz empreitada e tive a oportunidade, quando a lista dos indicados já se encontrava no Palácio do Planalto, assistir um outro querido Amigo – Saulo Ramos – dizer, por telefone, ao Senador Sarney: "O Dr. Hélio Quaglia Barbosa é um Juiz admirável". O Superior Tribunal de Justiça teve a honra de haver abrigado em seu seio, um verdadeiro Juiz e Ministro.
A contribuição do Ministro Hélio Quaglia Barbosa para o Poder Judiciário brasileiro é inestimável. De seu labor colhem-se centenas de sentenças, de pareceres na Corregedoria-Geral da Justiça de São Paulo em questões administrativas, de centenas de acórdãos e votos que engrandecem os anais forenses.
O Ministro Hélio Quaglia Barbosa soube ser um Homem magnífico e um Juiz fantástico.
Da mesma forma acompanhei a carreira do Desembargador Octavio Roberto Cruz Stucchi. Na comarca de Espírito Santo do Pinhal proferiu sentença admirável em uma difícil ação de anulação de testamento e deixava a marca do verdadeiro Juiz. Ainda jovem, em virtude de seu indiscutível merecimento, galgou todos os degraus da carreira, chegando ao honroso cargo de Desembargador. No dia de sua posse, perante o Órgão Especial do Tribunal de Justiça estava presente e assisti, encantado, a uma das mais emocionantes e marcantes posses de um Desembargador. Stucchi foi recebido e saudado por seu pai Desembargador Octavio Stucchi – único caso na história de nosso Tribunal. Emocionei-me ao ouvir o pai saudar o filho, dispensando o seguinte tratamento: "Senhor Desembargador Octavio Roberto Cruz Stucchi". Sua trajetória foi luminosa e Stucchi nunca deixou de gostar de gente, de ser simples e puro de coração. Ao lado de sua vocação de Magistrado, era bom, alegre e sempre disposto a servir aos anseios da Justiça. Infelizmente, nos últimos dois anos, veio a padecer de uma grave moléstia, sendo operado diversas vezes. Não se abateu um único instante, continuava o mesmo Stucchi. O Desembargador Laerte Nordi, outro querido Amigo, contou-me que foi visitar o Stucchi no Hospital e notou a presença de alguns processos ao lado de sua cama. Indagou a razão daqueles autos estarem em seu quarto, vindo a receber a seguinte resposta: "são processos que estudei para preparar meus votos" . Gravemente enfermo, ainda achava tempo para ser Juiz. Exemplo admirável para todos os Magistrados de nossa terra.
No último mês de fevereiro, os meus queridos amigos partiram para a Casa do Pai e passaram a viver uma nova dimensão do Amor, na lembrança daqueles que os amaram em vida.
A Humanidade empobreceu e o Poder Judiciário ficou privado da presença de dois fantásticos e verdadeiros Juízes
Em momento, onde se escasseiam as verdadeiras vocações, com Juízes, em grande maioria, transformados em burocratas de gabinete, os exemplos deixados pelo Ministro Hélio Quaglia Barbosa e Desembargador Octavio Roberto Cruz Stucchi enchem nossos corações de Esperança – quem sabe, as novas gerações possam abrigar Homens e Juízes, verdadeiramente, vocacionados!
Meus queridos Amigos, até sempre.
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*Advogado do escritório Advocacia Rocha Barros Sandoval & Ronaldo Marzagão
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