Esdruxularia
André Daibes*
O sistema eleitoral brasileiro adota o critério de quociente eleitoral por partido ou coligação. Segundo tal critério, são somados todos os votos dados a determinado partido ou
Percebamos que a opção por esse sistema decorre da valorização dos partidos políticos como instrumentos de representação da vontade popular (ou seja, quem vota no candidato X, não vota somente na pessoa do candidato X, mas também - e talvez principalmente - no partido ou coligação ao qual o candidato X está vinculado). O voto, assim, é dado à locução candidato-partido, e não somente ao candidato.
O princípio do quociente não é, em si mesmo, esdrúxulo ou tendencioso, como querem fazer crer alguns comentaristas de última hora!
O que é esdrúxulo, sim, é a desvalorização do partido político como instituição. O que é esdrúxulo, sim, é a adoção da sistemática de quociente sem a existência da fidelidade partidária.
Ora, quando determinado eleitor vota no candidato X, vota também em seu partido, com tudo o que isso significa em termos de ideologia, de programa, e valores. Não há como dissociar esse vínculo. O mandato eletivo, apesar de sua natureza pública, não se diferencia essencialmente do contrato de mandato civil: o eleito deve obediência à vontade do eleitor, sem o que estará agindo, inexoravelmente, com excesso de poder.
A personalização política é um sintoma grave de nossa doença institucional. Mas ela não é, em si própria, a doença, é apenas a "febre", o ponto visível do verdadeiro problema.
O fenômeno PRONA-Enéas-Havanir decorre, em verdade, de uma profunda crise política e institucional, nascida com a Ditadura, mas que a democracia não conseguiu expungir (até porque nossa democracia tem muito ainda de ditadura). Faltam-nos líderes, faltam-nos idéias, faltam-nos ideais...
Ou revisamos e valorizamos nossas instituições políticas, ou estaremos fadados ao desvario...
_________________
* sócio do escritório Armelin, Daibes, Aldred, Fagoni, Cunha e Matos Advogados.