Melancólico fim
Sylvia Romano*
O grande sonho da maioria, tenho certeza, é ter uma existência longa, prazerosa e produtiva. Ver os mais jovens chegarem e assumirem suas responsabilidades para que então, no seu último período de existência, possa gozar da tranqüilidade e do descanso de uma vida trabalhosa e cansativa, deixando de lado as responsabilidades profissionais, o stress do dia-a-dia e a insegurança financeira, que permeou toda a sua fase profissional. É o tempo da merecida aposentadoria.
Esse foi o sonho de toda uma geração, que hoje é sexagenária, ou melhor, uma geração que está chegando ou chegou à sua última fase da vida. Esse grupo acreditou, como se dizia até a bem pouco tempo, que chegaria à idade de não se fazer absolutamente nada, não por preguiça, mas por ter atingido a etapa do descanso, pois afinal, trabalhou durante todo o seu período mais útil e atingiu o patamar que talvez não possa mais contribuir, como fizera por toda a sua longa vida.
Ledo engano quando este trabalhador, hoje cansado, começou a sua carreira e lhe prometeram que, após 35 anos de luta e esforço, seria recompensado com uma aposentadoria primeiramente de até 20 salários; depois esse valor foi reduzido para dez salários; até a adoção, a bem pouco tempo, de um "fator de expectativa de vida", segundo os que mandam, "um cálculo atuarial". E, assim, acabaram com os sonhos de toda uma geração de senhoras e senhores que terão de amargar um final de vida miserável, dependente e triste.
A maioria teve filhos, muitos plantaram árvores, alguns até escreveram livros. Todos sonharam, poucos realizaram e, com certeza, a grande maioria que sonhou com um período de descanso e respeito terá de se conformar em ser dependente da caridade dos seus ou de outros para conseguirem chegar ao final de tudo — graças, como sempre, aos que mandam e que nunca têm a sensibilidade de saber da realidade humana. Estes que foram eleitos para servir e, não, para serem servidos; para defenderem os que precisam e, não, para protegerem somente os seus interesses, como acha a maioria que está muito bem-posta na vida nos palácios onde nós, eleitores, os colocamos.
Que melancólico fim para uma geração que sonhou muito, contribuiu mais ainda e que hoje está bem pior do que quando começou, pois naquele tempo ainda se podia sonhar.
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*Advogada do escritório Sylvia Romano Consultores Associados
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