Pasta, Vino e Tangente1
Jayme Vita Roso*
"Não podemos fugir nem mesmo diante dos perigos e inconvenientes que são inerentes a posicionar-se e a envolver-se. Não há saída em particular para aqueles que buscam transformações de vidas verdadeiras. É necessário, sim, ter coragem, não no sentido "capa-espada" pelo qual somos tão facilmente atraídos, mas na direção apontada por Amélia Earhart: "Coragem é o preço que a vida exige para auferir-nos paz. A alma que não conhece isto também não conhece libertação das pequenas coisas".*
Conhecem-se as maracutaias que vêm ocorrendo, há decênios, no Quirinale do Presidente da República. Lá os gastos com supérfluos são estimados em dez vezes a mais do necessário para manter a hipócrita respeitabilidade do cargo.
Conhecem-se os salários dos deputados italianos eleitos (30.000 euros por mês) para o Parlamento Europeu em Bruxelas: são os mais altos do que todos os demais e, eleitos por uma vez, quiçá, tomando posse para completar um mandato que se finda , passam a adquirir direito de aposentadoria por toda a vida, com benefícios a descendentes, além de estadias, bilhetes aéreos, verbas de representação, tratamentos médicos e odontológicos, escolas para os filhos e outros favores nababescos (em 2005, 127.000.000 Euros).
O povo italiano, após passar por desastrosos governos socialistas e pelo inferno berlusconiano, está como o brasileiro se tem mostrado: abúlico, amorfo, indiferente, gastador, predador, amoral e interessado em lucro rápido e fácil.
Para contrapor à generalizada inércia ética, dois jornalistas milaneses Gian Antonio Stella e Sergio Rizzo acabam de publicar um livro que está vendendo como panini (sanduíches). "A Casta - como os políticos italianos se tornaram intocáveis".2
As principais pérolas que coletamos – sem fazer inveja ao que ocorre no Brasil porque parelhas – são: a) o Palácio do Quirinal emprega 1500 pessoas, dentre elas dois relojoeiros, ou quatro vezes mais do que o Buckingham, da Rainha da Inglaterra, ao custo de, em 2007, 224.000.000 Euros; b) com a supressão do financiamento dos partidos nas eleições, pelo referendo de <_st13a_metricconverter productid="2003, a" w:st="on">2003, a classe política votou e o executivo sancionou algumas fórmulas pecaminosas de "reembolsos eleitorais (em 2006, 200.819.044 Euros)"; c) o Cavalieri (Berlusconi), só para ele, quando Primeiro Ministro, tinha à disposição oitenta e um guarda-costas e, embora não mais o seja, ainda mantém, às custas do erário, vinte e cinco, e, além disso no último ano do seu "governo", os aviões pertencentes ao Estado italiano, conseguiram alterar o calendário gregoriano, porque voaram trinta e sete horas por dia (logicamente, pagaram pilotos, comissárias e demais empregados, segundo as horas trabalhadas em cada dia que tinha trinta e sete horas); d) o governo Prodi, este, que andava de bicicleta antes de ser Primeiro Ministro, atualmente, conta com 105 ministros e subsecretários de Estado; e) a administração pública contratou 146.518 "aspones", em 2004, pagando-lhes a bela soma de 1.097.000.000 Euros.
A desmoralizada classe política peninsular, que não tem nenhum respaldo na opinião pública, - como ocorre no Brasil, mormente após o julgamento secreto no Senado – consegue gastar, consumir e despender sozinha, mais do que os parlamentos da Alemanha, Inglaterra e Espanha juntos.
A sobrevivência da Itália está por um fio, porque as rígidas normas comunitárias, não podem ser mais complacentes para com o desgoverno peninsular, ao desarme ético3 e à desenfreada corrupção tão combatida pelo Banco Mundial.4
O dia e a hora da verdade estarão se aproximando, se a lavagem de dinheiro e a corrupção, com o destino do dinheiro arrecadado, detectado e seqüestrado, forem apuradas e investigadas. E seria interessante acabar o trabalho de busca do dinheiro remetido de Nápoles para a Escócia, iniciado há três anos pelo Ministério Público. Quanta surpresa se teria. Auguriamo.
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*BONDER, Nilton. O crime descompensa. São Paulo: Imago, 1992. p. 76.
1 Tangente, do latim, tangens-entis. Particípio presente de tangere= tocar (acosta, alguma coisa a alguém ou coisa a fim de fazer contato). Compensação ilícita dada para favorecer um negócio ou semelhante. Por extenção, “a chi tocca, tocca”, ou a sorte vem por acaso. Dizionário Italiano, Verbete tangente, Rizzoli Libri Spa, Milão, 1988.
2La Casta, Sergio Lizzo e Gian Antonio Stella, Rizzoli Editori, Milão, 2007.
3 F. Blázques Carmona, A. Devesa del <_st13a_personname productid="Prado e M." w:st="on">Prado e M. Cano Galindo, Dicionário de términos éticos, editorial Verbo Divino, Estella (Navarra), Espanha, 1999.
4 The many faces of corruption – Tracking Vulnerabilities at the Sector Level, Editado por J.Edgardo Campos e Sanjay Pradhan, The World Bank, <_st13a_place w:st="on"><_st13a_state w:st="on">Washington, 2007. Na Parte II e na Parte III são particularmente cuidados a corrupção e o sistema de administração do financiamento público e também "para onde vai o dinheiro?".
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*Advogado do escritório Jayme Vita Roso Advogados e Consultores Jurídicos
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