Letargia cívica
Eduardo Dietrich e Trigueiros*
De susto em susto, uma legião de leitores e espectadores não tem tempo de se escandalizar, tamanha a velocidade com que a avalanche de lama exposta desce montanha abaixo, atingindo a tudo e a todos e maculando qualquer esperança imediata de melhoria desse estado de coisas - aliás, histórico.
O país sempre foi assim. Mentalidade colonial, tipicamente extrativista de toda e qualquer riqueza em benefício de uns poucos eleitos. Os EUA tiveram e têm a mentalidade de povoar o território, defendê-lo e ampliá-lo, enquanto que aqui, no Brasil, a preocupação eminentemente extrativista dos tempos de colônia impregnou-se na mente popular e tornou famosa e até motivo de orgulho nacional, por exemplo, a Lei Gerson.
Certamente a República já é suficientemente madura para que seu povo entenda e vença a mentalidade colonial e coronelista. Certamente já se ouviu falar no quão perniciosa é a política do pão e circo.
Então porque existe um abismo entre o raciocinar e o agir, neste caso representado pelo bem votar, destinando pessoas certas para os postos certos de comando no Brasil ? O que determina a passividade popular, expressa nos mesmos votos para os mesmos representantes, ano após ano ?
É evidente que a capacidade de se indignar foi vencida pela fome e a verdadeira cidadania pelo ritmo tresloucado da cada vez mais árdua tarefa de ganhar o pão e pagar impostos. É aí que entra em cena o assistencialismo estatal. Paternalmente o Estado garante o pão e mais, garante que tudo fique como sempre esteve. O povo lá e a cidadania cá, um bem distante do outro. Qualificar o povo para melhorar o país ? Nem pensar. Distribuir caridade, passar a mão na cabeça e dar a bênção ? Essa é a receita do continuísmo colonial.
Ninguém está mais preocupado com a educação do povo do que com o próprio bolso. Nem o povo. E a CPMF garante a continuidade desse absurdo estado de letargia cívica.
Enfim, há que se dizer que, no final das contas, essa torrente de notícias bombásticas e quase inacreditáveis têm penetração em, talvez, 15% das mentes do país, se muito. Portanto, me pergunto se o alarde não é excessivo para tão pouca repercussão.
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*Advogado do escritório Newton Silveira, Wilson Silveira e Associados – Advogados
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