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A classe média foi para o brejo e, com ela, irá a sociedade

Em qualquer sociedade, a classe média sempre foi a que permitiu que a cultura e a criatividade florescessem, pois por situar-se entre a classe alta e a baixa, seu acesso a ambas permitiu uma dualidade que trouxe um conhecimento maior da realidade. Por incorporar diferentes modos de vida, esta classe desenvolveu mais o questionamento e a crítica, pois não teve a pretensão de uma, nem a ignorância da outra.

3/8/2007


A classe média foi para o brejo e, com ela, irá a sociedade

Sylvia Romano*

Em qualquer sociedade, a classe média sempre foi a que permitiu que a cultura e a criatividade florescessem, pois por situar-se entre a classe alta e a baixa, seu acesso a ambas permitiu uma dualidade que trouxe um conhecimento maior da realidade. Por incorporar diferentes modos de vida, esta classe desenvolveu mais o questionamento e a crítica, pois não teve a pretensão de uma, nem a ignorância da outra.

Neste momento em que todas as pesquisas e as tendências estão apontando para o empobrecimento da classe média, além do fato econômico e das naturais conseqüências que uma queda de padrão acarreta, a maior preocupação se dá em termos da qualidade de vida, o que terá grande reflexo na questão cultural e da criatividade de toda a civilização.

O rico, em sua grande maioria, só está preocupado com o consumo e a diversão; o pobre, coitado, luta cotidianamente pela sua sobrevivência; e a classe média, com o seu grande potencial de consumo, permite que o rico fique cada vez mais rico e que o pobre continue vivendo às duras penas.

Esta realidade é muito perversa, mas de certa forma vem permitindo a sobrevivência de todas as categorias sociais. Não estou pensando em uma melhor divisão das riquezas, tirando dos ricos para dar aos pobres como um Robin Hood transloucado e populista, mas em uma situação que possibilite aos pobres condições de seu crescimento intelectual para, depois, acontecer naturalmente um crescimento econômico.

A classe média, pejorativamente chamada de "novos ricos" resume bem a realidade de quem um dia já foi pobre e conseguiu melhorar o seu padrão, graças ao esforço, capacidade, persistência e, obviamente, ao fator imponderável da sorte. No entanto, essa mesma classe média hoje é penalizada com os impostos que mantêm o setor político com todas as benesses dos seus cargos, além de permitir ao governo retornar às classes baixas o muito pouco que oferece em termos de segurança, educação e saúde aos cidadãos que, ludibriados por esta elite política, o mantém no poder.

E o que irá acontecer no futuro com o empobrecimento da classe média ? Os ricos levarão ainda muito tempo para ficar pobres; e os pobres, a longo prazo, ficarão mais desprovidos ainda, uma vez que o consumo da classe média não existirá mais. Paralelamente, os políticos deverão manter-se no poder explorando não mais a classe média, mas a dos miseráveis, terreno fértil para a dominação.

E, nessa nova realidade, a cultura, a inteligência e a criatividade desaparecerão, pois a educação nunca floresceu nos extremos econômicos da civilização. E, assim, teremos uma sociedade formada somente por dominantes e dominados — sociedade esta que jamais terá condições de questionar absolutamente nada. Será um novo período de trevas, onde somente o poder e a ignorância prevalecerão.

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*Advogada do escritório Sylvia Romano Consultores Associados

 


 



 

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