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Plano brasileiro de IA 2024-2028: Diretrizes e impactos na governança jurídica

O artigo examina o PBIA 2024-2028, destacando diretrizes estratégicas, desafios jurídicos e ações para soberania tecnológica, inclusão social e ética na regulação da IA no Brasil.

19/12/2024

IA - inteligência artificial tem se consolidado como um dos principais motores de transformação econômica e social do século XXI. Diante disso, o Brasil lançou o PBIA - Plano Brasileiro de Inteligência Artificial 2024-2028, um marco estratégico que busca alavancar a capacidade tecnológica do país em cinco áreas prioritárias: infraestrutura, capacitação, serviços públicos, inovação empresarial e regulação. O investimento significativo de R$ 23 bilhões reflete a ambição do Brasil em posicionar-se como uma potência global em IA.

Este artigo tem como objetivo realizar uma análise jurídica do PBIA, avaliando seus impactos normativos e práticos. Discute-se, também, a integração entre o PBIA e outras iniciativas legislativas, como o PL 2338/23, que institui o marco regulatório da IA no país.

1. Estrutura do PBIA e suas ações estratégicas

O PBIA é estruturado em cinco eixos principais, com ênfase em

O art. 38 do PBIA estabelece diretrizes específicas para a adoção de sandboxes regulatórios, que permitem o teste de soluções inovadoras em ambientes controlados. Essa iniciativa é essencial para mitigar riscos e fomentar a inovação com segurança jurídica.

2. Integração com o marco regulátorio da IA no Brasil

O PBIA complementa o PL 2338/23, que estabelece as bases regulatórias para o uso da IA no país. Essa sinergia é fundamental para alinhar políticas públicas e criar um ecossistema favorável à inovação.

Principais pontos de conexão:

3. Comparativos internacionais e boas práticas

O PBIA inspira-se em modelos de sucesso, como o EU AI Act, que prioriza a transparência e a responsabilidade no uso de IA. Contudo, a realidade brasileira exige adaptações para enfrentar desafios específicos, como desigualdade de acesso à tecnologia e limitações de infraestrutura.

Exemplo: Na União Europeia, sandboxes regulatórios têm sido usados para testar soluções em áreas sensíveis, como saúde e segurança. O Brasil pode adotar medidas similares, com ênfase em setores prioritários definidos no PBIA.

O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial 2024-2028 representa um marco estratégico para o desenvolvimento tecnológico e econômico do país. Contudo, sua implementação requer uma abordagem integrada, que alinhe inovação tecnológica, regulação ética e inclusão social. A sinergia entre o PBIA e o marco regulatório de IA é essencial para garantir a segurança jurídica e fomentar um ecossistema de inovação responsável.

Para o futuro, é imprescindível:

  1. Fortalecer a infraestrutura: Investir em tecnologia e conectividade para ampliar o acesso às soluções de IA. Isso inclui a ampliação da cobertura de internet de alta velocidade em regiões remotas, a modernização de data centers para comportar tecnologias de IA de maneira segura e eficiente, e a criação de hubs tecnológicos regionais que funcionem como centros de inovação e capacitação. Além disso, o PBIA enfatiza a necessidade de investimentos públicos e privados em infraestrutura de ponta, como redes 5G e tecnologias de computação em nuvem, essenciais para suportar a expansão das aplicações de IA no país. O objetivo é garantir que tanto setores urbanos quanto rurais tenham acesso equitativo aos benefícios da inteligência artificial.
  2. Promover a capacitação: Criar programas abrangentes de treinamento para formar uma força de trabalho preparada. Essa capacitação deve incluir tanto habilidades técnicas, como análise de dados e desenvolvimento de algoritmos, quanto competências éticas e legais relacionadas ao uso da inteligência artificial. Além disso, é essencial integrar o aprendizado de temas como segurança cibernética, proteção de dados e impacto social das tecnologias. O PBIA propõe parcerias com instituições educacionais para criar programas de educação continuada e capacitar profissionais em todos os níveis de formação, assegurando que a mão de obra nacional esteja apta a atender às demandas de um mercado altamente competitivo e tecnológico.
  3. Incentivar a colaboração internacional: Aprender com experiências globais e adaptar boas práticas ao contexto brasileiro. Essa colaboração deve incluir a participação em consórcios internacionais de pesquisa em inteligência artificial, permitindo que o Brasil tenha acesso às mais recentes inovações tecnológicas e boas práticas regulatórias. Além disso, o PBIA incentiva a assinatura de acordos bilaterais e multilaterais com outros países, visando o intercâmbio de conhecimento e a promoção de parcerias público-privadas que fortaleçam o ecossistema de IA. Também é essencial que o Brasil participe ativamente de discussões globais sobre ética e governança da IA, contribuindo para a formulação de normas internacionais que reflitam os interesses e as necessidades locais.

O PBIA tem o potencial de consolidar o Brasil como uma referência global em inteligência artificial, mas seu sucesso depende de uma implementação eficaz e de uma governança jurídica robusta.

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1 BRASIL. Plano Brasileiro de Inteligência Artificial 2024-2028. Disponível em: http://www.gov.br. Acesso em: 18 dez. 2024

Jamille Porto Rodrigues
Advogada e Professora de Direito Digital, Inteligência Artificial e Novas tecnologias aplicada ao Direito e Marketing Jurídico.

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