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Bafômetro: Aspectos técnicos, legais e criminais nas autuações da lei seca

A lei seca impõe sanções rigorosas para motoristas com 0,34 mg de álcool por litro de ar alveolar, incluindo detenção e suspensão da CNH.

8/11/2024

A lei seca, regulamentada pela lei 11.705/08 e atualizada pelas legislações subsequentes, apresentou um marco no combate à combinação de álcool e direção no Brasil. Entre os principais instrumentos de fiscalização está o bafômetro, também chamado de etilômetro, que mede a concentração de álcool no ar expelido pelo condutor e ajuda a garantir a segurança nas vias públicas. Neste artigo, abordamos os aspectos técnicos, legais e criminais relacionados ao uso do bafômetro nas autuações pela lei seca, explorando seu funcionamento, a base normativa e as implicações penais do teste.

Aspectos técnicos do bafômetro

O bafômetro mede a concentração de álcool nos pulmões do motorista, refletindo o nível de álcool no sangue. Ele funciona por sensores que detectam o etanol presente no ar alveolar, gerando uma leitura rápida e precisa que orienta a fiscalização. No Brasil, todos os bafômetros utilizados em fiscalizações devem ser certificados pelo INMETRO, com calibração periódica para garantir a confiabilidade dos resultados.

Alguns fatores podem, no entanto, afetar a precisão do bafômetro. A presença de produtos contendo álcool, como enxaguantes bucais, ou o tempo entre a última bebida ingerida e o teste podem gerar leituras imprecisas. Para que o resultado tenha validade jurídica, é crucial que o teste seja realizado em condições adequadas, com aparelhos calibrados e dentro das normas previstas.

Aspectos legais nas autuações da lei seca

A legislação brasileira é rigorosa quanto ao limite de álcool permitido: a partir de 0,05 mg de álcool por litro de ar alveolar, o condutor já está sujeito a sanções administrativas, como multa e suspensão da CNH. Além disso, mesmo sem um valor detectado, a recusa em realizar o teste do bafômetro configura infração administrativa, conforme o art. 165-A do CTB - Código de Trânsito Brasileiro, com conclusões coincidentes a uma constatação de alcoolemia.

Direito à recusa e consequências administrativas

O direito constitucional à não autoincriminação permite que o condutor se recuse a realizar o teste. Entretanto, a recusa gera avaliações administrativas automáticas, com multa e suspensão do direito de direção. Essa regra foi questionada judicialmente sob a alegação de violação do princípio da presunção de inocência, mas o STJ já decidiu que as deliberações administrativas (e não criminais) decorrentes da recusa são compatíveis com o ordenamento jurídico, especialmente pelo interesse de proteger a segurança pública.

Garantias de defesa: Calibração e procedimentos

Para que um resultado de bafômetro seja utilizado como prova, é necessário que o dispositivo esteja devidamente calibrado e que o teste seja realizado em conformidade com as normas do CONTRAN. Irregularidades, como falta de calibração ou condições adversas no momento do teste, podem invalidar a autuação, constituindo provas válidas para defesa administrativa ou judicial.

Além do resultado técnico, o condutor pode apresentar outras provas, como testemunhas ou exames clínicos, para contestar a autuação. A legislação brasileira admite essas provas para corroborar ou questionar o resultado técnico, ampliando a garantia de defesa do motorista.

Consequências criminais nas autuações pela lei seca: O que está em jogo

A lei seca impõe sanções rigorosas para coibir o uso de álcool por motoristas, e suas implicações criminais vão além das deliberações administrativas. A seguir, examinamos as principais consequências criminais para os condutores flagrados com níveis de álcool no sangue, além dos limites legais permitidos.

Crime de embriaguez ao volante: Penalidades

O art. 306 do CTB - Código de Trânsito Brasileiro caracteriza como crime de trânsito dirigir com uma concentração de álcool igual ou superior a 0,34 mg de álcool por litro de ar alveolar, medida pelo bafômetro. Este limite foi estabelecido para identificar níveis de alcoolismo que possam afetar diretamente a capacidade de direção do condutor. As deliberações incluem:

Detenção: De seis meses a três anos, conforme a gravidade da situação e o histórico do motorista. A detenção pode ser convertida em penas alternativas, dependendo do caso e do entendimento judicial.

Multa criminal: Além da multa administrativa prevista pelo CTB, a especificação criminal pode incluir uma multa adicional, determinada em dias-multa, que o juiz estabelece de acordo com a situação econômica do réu.

Suspensão ou proibição de dirigir: O condutor pode ter sua habilitação suspensa ou até ser proibido de dirigir, a depender da gravidade da infração e do julgamento do magistrado.

A recusa ao bafômetro e suas implicações

Embora a recusa ao bafômetro não configure crime por si só, ela gera uma sanção administrativa e pode servir de acusações para que a autoridade policial busque outros elementos de prova para caracterizar o crime de embriaguez ao volante. Em casos de recusa, a autoridade pode verificar a presença de sinais claros de embriaguez, como:

Esses elementos, combinados, podem justificar uma acusação criminal, independentemente do resultado do bafômetro.

Condicionantes e agravantes da pena

Além do nível de álcool no sangue, outros fatores podem influenciar a aplicação das consequências:

Acidentes com danos: Se uma embriaguez ao volante resultar em acidente com danos materiais, lesões corporais ou homicídio, as lesões são agravadas. A ocorrência de vítimas pode fazer com que o crime seja classificado como lesão corporal culposa ou homicídio culposo, com prejuízos ainda mais graves.

Reincidência: Motoristas reincidentes em crimes de trânsito relacionados ao consumo de álcool podem enfrentar penas mais severas, incluindo penas de prisão mais longas e aumento no período de suspensão da habilitação.

Possibilidades de defesa

No âmbito criminal, o condutor tem o direito à ampla defesa e pode contestar a validade do teste com base em eventuais irregularidades. Entre os argumentos possíveis estão:

Falhas na calibração do Bafômetro: Se o aparelho não estiver devidamente calibrado, o resultado pode ser questionado.

Procedimentos Policiais Irregulares: Erros no procedimento de abordagem, como ausência de testemunhas ou coação, podem ser usados na defesa.

Consequências na vida do condutor

Além das sanções legais, as instruções criminais por embriaguez ao volante podem ter implicações na vida pessoal e profissional do condutor, incluindo antecedentes criminais, dificuldades em obter emprego e impactos na confiança pessoal e familiar.

Conclusão

A aplicação da lei seca e o uso do bafômetro nas autuações exigem uma abordagem equilibrada, que combine rigor na fiscalização e respeito aos direitos constitucionais. A parte técnica do etilômetro deve ser impecável, com procedimentos claros e precisos, garantindo que o teste reflita fielmente o estado do condutor. No aspecto legal e criminal, o motorista tem o direito a um processo justo e à ampla defesa, podendo questionar a validade dos resultados em caso de falhas na execução dos procedimentos.

O bafômetro, portanto, é um aliado importante na segurança viária, mas seu uso deve sempre observar os requisitos técnicos e legais para garantir a integridade e a justiça das autuações.

Jorge Domingos de Jesus Rocha
Bacharel em direito, cursando mestrado em Direitos Humanos. Cursando especializacao em Direito de Trânsito. Pos graduado em Direito Processual Penal.

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