Migalhas de Peso

Contratação de advogados

A modernização tecnológica transformou a advocacia em comércio, priorizando preço e rapidez sobre a competência.. Defende-se uma reforma que preserve o valor humano do direito.

11/10/2024

Atualmente estou atuando na advocacia faz cinquenta e cinco anos e por isso acredito ter um histórico sobre o que vem acontecendo nos contratos entre advogados e clientes, alterando-se a procura do bom advogado para a busca do pequeno preço ou da grande influência, em uma evidente comercialização, quando a procura sempre foi pela competência, moral, seriedade e conhecimento profundo do advogado contratado.

Acredito que a eletrônica, a inteligência artificial, a jurisprudência embutida nos computadores, a colagem de defesas e recursos já elaborados para teses repetitivas, a necessidade de se escrever pouco, até porque o movimento processual não permite um estudo maior , acrescido de memoriais, enfim, toda essa parafernália do que se diz chamar de progresso, tudo isso está transformando os escritórios de advocacia em lojas comerciais , e com o volume de universidades formando milhares de advogados por semestre, temos  a contratação, não pela competência mas pelo mais baixo preço oferecido.

Vejam, não estou fazendo uma queixa pessoal ou de meu escritório que já alcançou e ultrapassa um volume fantástico de clientes, mantendo muitos deles por dezenas de anos, em razão de ter uma equipe fabulosa de profissionais, reconhecida em todo o país.

O que quero dizer é que a profissão de advogado está sendo transformada em sua contratação, procurando os clientes contratações específicas, ou de baixo preço, não mais em razão da capacidade jurídica do escritório a ser contratado.

Quando estou com um problema de saúde, e tenho plano para garantia, ou recursos, não procuro o médico que cobra menos para me tratar, mas busco o de reconhecida competência.

O mesmo acontecia na advocacia quando se buscava o melhor profissional, quer pela experiência, doutorado, mestrado ou pela notoriedade em determinada matéria.

E sempre foi assim, passando o advogado iniciante por estágio em grandes escritórios, aprendendo as teses, conhecendo os magistrados e servidores, bem como estudando com profundidade para então alcançar um nome que lhe desse a possibilidade de obter honorários em decorrência de sua competência.

Então as grandes empresas  buscavam as melhores defesas e os tribunais recebiam peças de direito notáveis que eram debatidas em alto nível.

Atualmente o contratante, ou contrata algum advogado que tem fama de conhecer determinados servidores que fraudulentamente dizem conseguir bons resultados, ou contratam escritórios que cobrem o menor preço possível porque oferecem petições  criadas em seus computadores, defesas realizadas até mesmo por servidores técnicos em computação que não são advogados, demonstrando o Jurídico interno do contratante à Diretoria, que conseguiu reduzir o gasto da empresa com a advocacia.

E como nos tribunais o movimento processual é intenso, de forma a não possibilitar humanamente que um magistrado estude os milhares de processos que tramitam em seu gabinete, nos processos mais simples surgem os assessores que auxiliando os magistrados, retratam nas decisões outras já encontradas no google ou instrumentos de igual teor, ou ainda realizadas pela inteligência artificial, tudo de acordo com a possibilidade de maior celeridade nos julgamentos, daí a procura de advogados que garantam, principalmente, prazos, juntada de procurações, pagamento de custas e outros procedimentos que nada têm a ver com o mérito do processo.

E em razão desse progresso eletrônico, que a maioria chama de progresso mas que em grande parte é um retrocesso no que se refere ao direito,  surgem inúmeras Faculdades, formando milhares de novos advogados, muitos seguindo carreiras profissionais diversas através de concursos, mas um enorme volume ingressando  na advocacia e sentindo  o enfraquecimento do direito, uma das mais lindas profissões, violentado por uma comercialização decorrente da aplicação equivocada do avanço eletrônico no que existe de mais humano e pessoal que é o direito.

Sempre tivemos  um meio ambiente satisfatório na maioria dos países e, a partir de determinada época, com tanto progresso no mundo sujando nosso Universo, estamos em uma fase  de defender o meio ambiente dessa guerra feita por nós, contra nós.

Da mesma forma, sempre tivemos o direito como regulador da conduta humana, garantindo a justiça, a igualdade, a paz e o desenvolvimento.

É através do direito que alcançamos os valores morais da sociedade, mantendo  a ordem social , mas estamos ingressando em uma fase que, em razão dessa mesma aplicação dos avanços eletrônicos nos tribunais , escritórios e mesmo nas faculdades, surge essa poluição da profissão, que o homem vem ampliando, como ampliou no meio ambiente em decorrência de inovações que pensava ser o progresso.

É necessário, em defesa do direito e da advocacia, que façamos a diferença entre usar a eletrônica administrativamente, na aceleração dos processos, como  deve ser feito, mas não confundir esse avanço com o estudo profundo do mérito debatido no direito, mediante uma ampla reforma processual para que o direito seja visto ne sua qualidade humana e não como um comércio a ser respondido, em pouco tempo, mediante inteligência artificial.

José Alberto Couto Maciel
Sócio fundador do escritório Advocacia Maciel.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Artigos Mais Lidos

ITBI na integralização de bens imóveis e sua importância para o planejamento patrimonial

19/11/2024

Cláusulas restritivas nas doações de imóveis

19/11/2024

Estabilidade dos servidores públicos: O que é e vai ou não acabar?

19/11/2024

Quais cuidados devo observar ao comprar um negócio?

19/11/2024

A relativização do princípio da legalidade tributária na temática da sub-rogação no Funrural – ADIn 4395

19/11/2024