Migalhas de Peso

E Delfim Neto leva vantagem sobre sua época?

Trajetória de Delfim Neto, memórias familiares, legado político e cultural em São Paulo.

1/10/2024

São passados mais de vinte anos.

Eu, em "MercadoComum", somente posso agradecer a gentil acolhida do professor Carlos Alberto Teixeira de Oliveira.

E ela irradiou-se, por Minas Gerais, invadindo-me os sentimentos.

"Eu sempre sonho que uma coisa gera Gerais.

Nunca nada está morto.

O que não parece vivo, aduba. Parece estático, espera." - (Adélia Prado, do poema "Leitura")

Assim posso rememorar o lindo conhecimento das famílias "Delfim" e "Vita", originado do histórico Bairro do Cambuci, em São Paulo.

"Até a minha sogra Tereza foi amiga da mãe Maria."

Povoado por imigrantes italianos, desde que os peninsulares começaram a povoar o estado e a cidade de São Paulo.

O abrigo dos imigrantes contemporâneos segue seu destino com outras etnias.

"O brabo cheiro da amizade" terminou com o professor Antonio Delfim Neto e João Brasil Vita, ambos da mesma geração e de muita amizade, porque "tu lembrarás que a primavera passa e depois volta e a mocidade passa e não volta mais."

E Brasil Vita foi menos ousado e menos ambicioso que Delfim Neto, muito embora, candidato a vereador, da Pauliceia, tivesse 200.000 votos, ou mais, como ocorreu numa eleição.

Delfim jovem e universitário, e simples como o que Guerra Junqueira cantou em seus versos.

Cursou então o Liceu Siqueira Campos no Bairro do Cambuci.

Jovem, órfão de pai, seguiu a carreira de universitário de economia no mesmo prédio que o abrigou na rua Maria Antônia. Também posso rememorar que foi colega de meu primo Sérgio Zacarelli e também participou do governo de Laudo Natel. Zacarelli secretário de Planejamento e Delfim secretário da Fazenda do Estado de São Paulo. Ambos catedráticos da USP.

E daí, a ascensão de Delfim: o mais jovem ministro da Fazenda com 38 anos e depois do Planejamento e da Agricultura.

Embaixador do Brasil em Paris, deputado Federal, consultor e outras tantas coisas mais no que gostava e, para esbanjar, ministro da Agricultura.

Assinou o Ato Institucional 5 (AI-5) que, a partir de 12/68, conferiu ao presidente da república poderes excepcionais, ato que contou com outros personagens e que foi capitaneado por meu professor Luiz Antônio da Gama e Silva, ministro da Justiça.

Discutido, Delfim Neto fez escola, enquanto geriu a Fazenda nos governos Costa e Silva, Junta Militar e Médici, como o fez como ministro do Planejamento do Brasil (1979-1985).

Preferiu retirar-se nos últimos anos para o antigo casarão localizado no bairro do Pacaembu, transformado de escritório que abrigou sua biblioteca de 250.000 títulos, posteriormente doada à USP - Universidade de São Paulo. Lá se transformou como oráculo de delfos e recebeu centenas de personagens titulados do Brasil desta época, e, politicamente, pertenceu ao partido libertador para, por fim, apoiar a candidatura de Lula em 2022.

Sem pretensão de abusar do estro de Adélia Prado, mas renová-lo:

"Entendi depois o que queria dizer: toda convicção é apostólica." - (Os Acontecimentos e os Dizeres) (op. cit.)

Jayme Vita Roso
Advogado.

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