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Cooperativismo de crédito cresce no Brasil e no mundo

O panorama do SNCC do Banco Central revela que, até dezembro/23, o Brasil tinha 768 cooperativas financeiras e 17,3 milhões de associados. Em 10 anos, o número de membros aumentou 179% e o volume de crédito cresceu 674%.

30/8/2024

O panorama do SNCC - Sistema Nacional de Crédito Cooperativo, publicado anualmente pelo Banco Central, revela a expressiva evolução desse segmento econômico no Brasil, uma tendência observada em todos os continentes, de acordo com o Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito (Woccu – World Council of Credit Unions).

A mais recente edição do Panorama do SNCC, publicada pelo Bacen em julho último, contém dados consolidados até 31 de dezembro de 2023. Nessa data, havia no país 768 cooperativas financeiras singulares, com mais de 9.800 postos de atendimento, 17,3 milhões de associados (sendo 14,7 milhões de pessoas físicas) e operações de crédito somando R$ 445,8 bilhões.

Todos esses indicadores evoluíram de forma significativa ao longo dos últimos dez anos. Em comparação com 2013, o número de membros de cooperativas financeiras, que era de 6,2 milhões, aumentou 179%, enquanto o volume de operações de crédito, então de R$ 57,6 bilhões, deu um salto gigantesco de 674%.

Outro avanço notável foi registrado no número de postos de atendimento, que era de 4 mil há dez anos e cresceu 150% nesse período. Nesse particular, chama atenção outro fato: atualmente, em 338 municípios, a única alternativa presencial de acesso a produtos e serviços financeiros é uma cooperativa de crédito.

Ramos mais numerosos

OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras divide as organizações do setor em oito ramos. O mais numeroso é o agropecuário, com mais de mil cooperativas, vindo em seguida transporte, saúde e, em quarto lugar, crédito, todos com mais de 700 unidades. Os demais ramos são trabalho, produção de bens e serviços, infraestrutura e consumo. O Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2024, publicado pela OCB, traz dados relativos ao final de 2023 e dá conta de que o País tem 23,4 milhões de cooperados, número 14,5% superior ao do ano anterior. O ramo de crédito, hoje com mais de 15 milhões de associados, segundo estimativas do final do primeiro semestre, é líder nesse quadro e a tendência é que continue crescendo em ritmo mais elevado.

Menos cooperativas financeiras

Em contrapartida ao forte crescimento observado no ramo de crédito, é interessante observar que vem diminuindo o número de cooperativas singulares nesse segmento. Em 2013, havia 1.149, quase 400 a mais do que em 2023. Isso se deve principalmente a fusões e incorporações, em um processo supervisionado e estimulado pelo Banco Central, com o objetivo de melhorar a eficiência operacional e proporcionar ganhos de escala no segmento. Esse processo também visa proteger os recursos dos membros das cooperativas que têm governança deficiente e estão potencialmente sujeitas a liquidação. Desse modo, é preservada a boa reputação do cooperativismo, que sofreria sérios danos com a falência de organizações pouco eficientes ou com má gestão. É importante ressaltar que esses números, embora expressivos em valores absolutos, são modestos em valores relativos. O peso da carteira de crédito das cooperativas no SFN - Sistema Financeiro Nacional é de apenas 7,1%. E a parcela de associados pessoas físicas a alguma cooperativa financeira corresponde a 7,2% da população brasileira.

Cenário internacional

O mais recente Relatório Estatístico do Woccu foi publicado no final do ano passado, trazendo dados relativos a dezembro/22. De acordo com esse documento, há no mundo 82.758 cooperativas de crédito que operam segundo regras similares às adotadas no Brasil, com todos os associados sendo coproprietários em condições igualitárias. Em outros países, como Alemanha, França, Itália e Países Baixos, há cooperativas que, além de associados, têm clientes. É o caso de dois grandes bancos cooperativos, o francês Crédit Agricole e o holandês Rabobank. As cooperativas estão presentes em 98 países, congregando 403 milhões de associados, com uma taxa média de penetração de 13,5%. Esse percentual é calculado dividindo-se o número total de membros das cooperativas avaliadas pelo Woccu pela população economicamente ativa com 15 a 64 anos de idade. Alguns países se destacam pela elevada taxa de penetração das cooperativas: Estados Unidos, com 42,8%; Canadá, com 42,8%; e Austrália, com 36,4%. Há casos em que esse índice supera 100%, devido ao fato de muitas pessoas serem associadas a mais de uma cooperativa e essa dupla ou múltipla contagem não ser descontada. A Irlanda é um exemplo, com 130,5%, o mesmo ocorrendo com vários países do Caribe, como Dominica (primeiro ponto da América em que Cristóvão Colombo pisou), com 164,5%.

Futuro promissor

A evolução marcante do cooperativismo de crédito deve persistir no Brasil e no mundo. Pelo menos cinco fatores contribuirão para isso: Conexão com a comunidade. As cooperativas de crédito estão enraizadas nas comunidades, o que cria uma relação de confiança e proximidade com os membros, pois priorizam os interesses destes em vez de buscar maximizar resultados financeiros. Inclusão financeira. Em muitos países, as cooperativas de crédito têm sido essenciais para promover a inclusão financeira, oferecendo serviços a pessoas e pequenas empresas que podem ter dificuldade em acessar o sistema bancário tradicional. Resiliência em crises. Durante crises econômicas, como a provocada recentemente pela pandemia da Covid-19, as cooperativas de crédito geralmente se mostram mais resilientes, devido à sua estrutura de governança e ao foco no bem-estar de seus membros. Essa resiliência aumenta a confiança no modelo cooperativo. Educação e participação. O modelo cooperativo promove a participação ativa dos membros, o que ajuda a fortalecer a relação entre a instituição e a comunidade. Isso cria um ciclo positivo de crescimento sustentável. Sustentabilidade e responsabilidade social. Com a crescente preocupação com práticas empresariais sustentáveis e socialmente responsáveis, as cooperativas de crédito ganham destaque por seu compromisso com o desenvolvimento comunitário. Isso é fruto da relação financeira com os cooperados, pois praticam juros mais baixos, cobram menos tarifas e compartilham os resultados com os membros. Desse modo, desembolsando menos dinheiro e recebendo de volta parte do que pagaram, os associados ficam com mais recursos disponíveis e estes naturalmente são aplicados nos mercados locais e regionais. Isso justifica a afirmação de que as cooperativas são agentes de desenvolvimento econômico e social das localidades em que estão presentes.

Daniel de Souza
Advogado especialista em direito do agronegócio no Reis Advogados.

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