1. Introdução
O conservadorismo contemporâneo abrange uma ampla gama de perspectivas e correntes de pensamento. Nesse contexto, as visões de Olavo de Carvalho, filósofo brasileiro, e Aleksandr Dugin, teórico político russo, têm ganhado destaque e influência significativa em seus respectivos países. Embora compartilhem uma crítica ao liberalismo ocidental e uma defesa de valores tradicionais, suas abordagens apresentam distinções fundamentais.
Este artigo tem como objetivo analisar as semelhanças e diferenças entre as visões conservadoras de Olavo de Carvalho e Aleksandr Dugin, destacando os contrastes em suas ideologias centrais, contextos geopolíticos, visões sobre o Estado, bases filosóficas e abordagens ao globalismo. Ao explorar essas nuances, busca-se contribuir para uma melhor compreensão das diversas vertentes do pensamento conservador contemporâneo.
2. Similaridades
2.1. Crítica ao liberalismo
Tanto Olavo de Carvalho quanto Aleksandr Dugin criticam o liberalismo ocidental, vendo-o como decadente e corrosivo para os valores tradicionais. Ambos percebem o liberalismo como uma força que enfraquece as estruturas sociais e culturais estabelecidas, promovendo a erosão da identidade nacional e da coesão comunitária.
2.2. Apoio a valores tradicionais
Carvalho e Dugin compartilham a defesa da preservação de tradições culturais e religiosas contra o que percebem como forças destrutivas da modernidade. Eles advogam por uma maior ênfase na manutenção das heranças históricas, das crenças religiosas e dos costumes enraizados em suas respectivas sociedades.
Tanto Olavo de Carvalho quanto Aleksandr Dugin têm exercido uma influência significativa em seus países, moldando o pensamento de muitos conservadores e impactando o discurso político. Suas ideias têm sido amplamente disseminadas e têm encontrado ressonância entre grupos conservadores e nacionalistas.
3. Diferenças
3.1. Ideologia central
3.1.1. Olavo de Carvalho
Olavo de Carvalho enfatiza a luta contra o marxismo cultural e o progressismo, defendendo uma visão conservadora liberal com forte base cristã. Sua crítica se concentra na proteção dos valores ocidentais tradicionais contra o que ele percebe como uma influência comunista na política e na cultura.
3.1.2. Aleksandr Dugin
Por outro lado, Aleksandr Dugin promove o eurasianismo, uma ideologia que mistura elementos de tradicionalismo, nacionalismo russo e uma rejeição tanto do liberalismo ocidental quanto do comunismo marxista. Ele advoga por uma civilização eurasiática distinta do Ocidente, com a Rússia como líder espiritual e cultural.
3.2. Contexto geopolítico
3.2.1. Olavo de Carvalho
O foco de Olavo de Carvalho é principalmente no Brasil e na América Latina, onde ele combate o que vê como influência comunista na política e na cultura da região.
3.2.2. Aleksandr Dugin
Por outro lado, Aleksandr Dugin concentra-se na Rússia e na Eurásia, advogando por uma civilização eurasiática distinta do Ocidente, com a Rússia como líder espiritual e cultural.
3.3. Visão sobre o Estado
3.3.1. Olavo de Carvalho
Carvalho defende a limitação do poder estatal e a liberdade individual, criticando o intervencionismo estatal e o que ele considera uma excessiva regulamentação da vida social.
3.3.2. Aleksandr Dugin
Em contraste, Dugin apoia um Estado forte que defenda a identidade cultural e espiritual contra a globalização ocidental. Ele vê o Estado como um pilar central na preservação da identidade nacional e na resistência às influências externas percebidas como ameaçadoras.
3.4. Bases filosóficas3.4.1. Olavo de Carvalho
Olavo de Carvalho é influenciado pelo cristianismo e pela filosofia ocidental clássica, com forte ênfase em pensadores como Aristóteles e Tomás de Aquino.
3.4.2. Aleksandr Dugin
Por outro lado, Aleksandr Dugin baseia-se no tradicionalismo integral, incluindo pensadores como René Guénon e Julius Evola, bem como na geopolítica de Carl Schmitt.
3.5. Abordagem ao globalismo
3.5.1. Olavo de Carvalho
A crítica de Olavo de Carvalho ao globalismo se concentra na proteção dos valores ocidentais tradicionais contra o marxismo e o progressismo, que ele vê como forças corrosivas para a identidade nacional e cultural.
3.5.2. Aleksandr Dugin
Dugin, por sua vez, rejeita o globalismo ocidental em favor de uma visão multipolar do mundo, onde diferentes civilizações coexistem com soberania e identidade própria. Ele se opõe à hegemonia ocidental e defende a autonomia das civilizações não-ocidentais.
4. Considerações
Embora Olavo de Carvalho e Aleksandr Dugin compartilhem uma crítica ao liberalismo e uma defesa de valores tradicionais, suas visões divergem em diversos aspectos fundamentais. Carvalho é um conservador liberal com foco na luta contra o marxismo cultural, enquanto Dugin promove o eurasianismo e uma visão multipolar contra a hegemonia ocidental. Essas diferenças refletem os contextos geopolíticos distintos em que esses pensadores estão inseridos, bem como suas bases filosóficas e ideológicas divergentes. Enquanto Carvalho baseia-se no cristianismo e na filosofia ocidental, Dugin se inspira no tradicionalismo integral e na geopolítica de Schmitt.
Compreender essas nuances é essencial para uma análise aprofundada das correntes conservadoras contemporâneas, em suas múltiplas manifestações e interpretações. O contraste entre o conservadorismo liberal de Carvalho e o eurasianismo de Dugin ilustra a complexidade e a diversidade dentro do espectro conservador, desafiando generalizações simplistas e destacando a importância de uma análise contextualizada e matizada.