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IA e blockchain: As armas definitivas contra a fraude alimentar

A fraude alimentar é um crime bilionário escondido nas prateleiras. IA e blockchain unem forças para desmascarar esse inimigo invisível! Aprendizado de máquina caça padrões suspeitos, enquanto blockchain rastrea cada passo da jornada do alimento. Juntas, essas tecnologias prometem desvendar mistérios culinários e proteger nossa saúde.

20/4/2024

A fraude alimentar é um crescente problema econômico e de saúde pública que demanda soluções inovadoras. Nesse cenário, a IA - Inteligência Artificial e a tecnologia blockchain emergem como aliadas promissoras no combate a esse desafio.

O crime alimentar abrange uma ampla gama de atividades ilegais, tais como rotulagem enganosa, substituição de ingredientes por substâncias inferiores e, até mesmo, envenenamento intencional. Estima-se que esses crimes causem prejuízos anuais de US$ 40 bilhões em todo o mundo. A indústria alimentícia é particularmente atraente para fraudadores, visto que apresenta um potencial lucrativo elevado, especialmente quando se trata de produtos de alto custo ou alta demanda.

Com o intuito de enfrentar esse desafio, pesquisadores têm explorado o uso de tecnologias emergentes, como o aprendizado de máquina e a blockchain. O aprendizado de máquina, por sua vez, é capaz de analisar grandes conjuntos de dados e identificar padrões suspeitos, sinalizando atividades potencialmente fraudulentas. Contudo, faz-se necessário o desenvolvimento de modelos e algoritmos específicos para esse fim, utilizando técnicas como aprendizado supervisionado, aprendizado não supervisionado e aprendizado por reforço.

Ademais, a tecnologia blockchain oferece uma solução promissora para rastrear a cadeia de suprimentos de alimentos de forma transparente e imutável. A blockchain consiste em um livro-razão distribuído e criptografado, no qual todas as transações são registradas e verificadas por vários nós na rede. Essa natureza descentralizada e transparente dificulta sobremaneira que indivíduos mal-intencionados alterem ou ocultem registros.

No âmbito da fraude alimentar, a blockchain poderia ser utilizada para rastrear a jornada de um produto alimentício desde a sua origem até o consumidor final. Cada etapa da cadeia de suprimentos, a exemplo da produção, processamento, transporte e venda, seria registrada na blockchain, fornecendo uma trilha de auditoria completa e imutável.

Essa abordagem traz consigo várias vantagens. Primeiramente, proporciona uma rastreabilidade aprimorada, permitindo que os consumidores verifiquem facilmente a autenticidade e a qualidade de um produto, reduzindo o risco de fraude. Em segundo lugar, promove a responsabilização, visto que qualquer tentativa de adulteração ou fraude seria prontamente detectada, aumentando a responsabilização dos envolvidos na cadeia de suprimentos. Ademais, garante a transparência, uma vez que todas as partes interessadas, incluindo produtores, processadores, varejistas e autoridades reguladoras, teriam acesso às informações registradas na blockchain. Por fim, a automação e a descentralização da cadeia de suprimentos, por meio da blockchain, podem reduzir custos e atrasos, tornando o processo mais eficiente.

Não obstante, a implementação bem-sucedida da tecnologia blockchain na indústria alimentícia enfrenta alguns desafios, tais como a falta de padrões internacionais, a necessidade de lidar com grandes volumes de dados e os custos iniciais de implementação, especialmente para pequenos produtores.

Para superar esses obstáculos, é fundamental a colaboração entre autoridades reguladoras, profissionais da indústria, organizações de todos os portes e pesquisadores acadêmicos. Essa colaboração pode conduzir ao desenvolvimento de padrões e protocolos comuns, além de soluções escaláveis e acessíveis para a adoção da blockchain na cadeia de suprimentos de alimentos.

Além disso, a integração da blockchain com outras tecnologias emergentes, como a IoT - Internet das Coisas e a IA, pode potencializar ainda mais os benefícios dessa solução. Por exemplo, sensores IoT poderiam capturar dados em tempo real sobre a qualidade e a condição dos alimentos durante o transporte, enquanto algoritmos de IA poderiam analisar esses dados e identificar padrões suspeitos, disparando alertas de possíveis fraudes.

É importante ressaltar que, embora a tecnologia ofereça oportunidades promissoras, qualquer medida antifraude não deve tornar o processo de compra de alimentos excessivamente complicado para os consumidores. Caso contrário, eles podem tentar contornar o sistema, criando novas vulnerabilidades.

Em suma, a combinação de aprendizado de máquina, blockchain e outras tecnologias emergentes, juntamente com a colaboração entre diferentes partes interessadas, pode representar um avanço significativo no combate à fraude alimentar. Contudo, é necessário um esforço contínuo de pesquisa e desenvolvimento para superar os desafios existentes e implementar soluções eficazes e escaláveis.

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Guilherme Fonseca Faro
Consultor em Direito, Educação e Negócios. Membro dos Advogados de Direita e fundador do Movimento Nordeste Conservador. Pós-graduado em Direito Público.

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