Migalhas de Peso

Conselhos para jovem advocacia

É evidente que os conselhos, que são 7, que vou alistar abaixo, não contém se não a minha opinião a respeito do que seja adequado para o exercício da advocacia.

11/8/2023

(Imagem: Arte Migalhas)

É muita responsabilidade essa de dar conselhos... No entanto, eu fui gentilmente convidada pelo Migalhas para dar, justamente, alguns conselhos para os jovens advogados e para as jovens advogadas, que servem também para aqueles que ainda estão na faculdade. É evidente que os conselhos, que são 7, que vou alistar abaixo, não contém se não a minha opinião a respeito do que seja adequado para o exercício da advocacia.

Eu diria, em primeiro lugar: estude.

Em segundo lugar, estude.

Em terceiro lugar, estude.

Não vamos falar nos tristes números do Brasil, mas é mais do que sabido que temos um número excessivo de faculdades de direito, a grande maioria de qualidade questionável. Tanto é assim, que é extremamente baixa a porcentagem de formados que passam no exame da OAB. Ainda assim, temos uma quantidade imensa de advogados. Evidentemente não há um “lugar ao sol” para todos nós... Então, é necessário que você saia da “vala comum”, não seja um advogado médio, mas, ao contrário disso, seja um advogado especialmente qualificado. Daqueles que estudam o direito vigente no Brasil, a jurisprudência dos Tribunais Superiores, a história do direito e o direito comparado. E daqueles que usam, oportunamente, e não como forma de se exibir, o conhecimento que têm.

Quarto conselho:  procurem falar português. Sejam claros e convincentes: nada de latim, francesismos ou germanismos desnecessários. E, principalmente, na vida prática, nada de usar termos em inglês, salvo se imprescindíveis!

Quando eu digo que, a meu ver, o advogado tem que ser culto, pelo menos no âmbito das informações que interessam à sua profissão, não quero com isso dizer que o conhecimento deva ser usado sem alguma finalidade muito específica e com extremo senso de oportunidade.

A cultura de um profissional competente não é algo que deva ser exibido, porque não tem valor em si mesmo. As informações que nós temos devem ser, por assim dizer, “digeridas”, para serem usadas a favor do nosso cliente.

Tenho a convicção de que, se antigamente se dava valor à erudição, mesmo que fosse desnecessariamente manifestada, hoje, se dá valor, sobretudo, à clareza. Esta sim é imprescindível!

Já estamos no quinto conselho: sejam serenos. Nada é pessoal. Vocês devem ver os juízes e os clientes como “instrumentos” de seu trabalho. Nada de se irritar porque o Ministro desmarca, e marca para a semana seguinte – quando você não mora em Brasília – nada de ficar louco da vida, porque o juiz ou o desembargador não atende pessoalmente – faça um belo memorial, curto, e entregue para o assessor – nada de perder o controle por que o cliente não é simpático. Não é seu amigo. Se for, melhor. Mas pode ser só um cliente.

E aí eu passo para o sexto conselho: se ocupe, na medida do possível, apenas de coisas que te dão prazer. Senão, você não conseguirá seguir o conselho anterior. Se você se envolve emocionalmente (no bom sentido!) com o contencioso, seja esse tipo de advogado. Se o que te dá brilho nos olhos é analisar contratos, faça isso. Se você gosta de trabalhar em empresa, procure esse caminho. Não há segredo melhor para se produzir um trabalho de qualidade do que se gostar do que se está fazendo!

Sétimo conselho: se for possível, não trabalhe sozinho. Nós não somos completos... Podemos ser todos bem preparados intelectualmente, mas cada um tem o seu talento! Uns redigem peças maravilhosas, outros seduzem na sustentação oral e ainda há os que têm uma habilidade especial para conseguir clientes ótimos. Na minha opinião, é muito mais racional que essas (e as muitas outras!) funções sejam divididas entre várias pessoas. Além disso, o convívio com outras pessoas nos educa, nos faz viver experiências enriquecedoras e nos faz crescer como seres humanos.

Pode haver outros caminhos, mas me parece que o melhor é esse que se delineia a partir da observância destas regrinhas básicas. É claro que muitos deles estão ligados à minha experiência pessoal... Como pode haver muitos outros conselhos ligados à experiência de outros advogados que estão satisfeitos com o lugar que ocupam na sociedade, com a função que exercem e com o prazer que a sua ocupação diária lhes dá!

De qualquer modo, ainda que muitos dos que me leem possam (ou não) estar de acordo com essas minhas opiniões, com certeza trocar experiências e ideias é, se não a única, pelo menos a melhor forma por meio da qual evoluímos!

Teresa Arruda Alvim
Sócia do escritório Arruda Alvim, Aragão, Lins & Sato Advogados. Livre-docente, doutora e mestre em Direito pela PUC/SP.

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