Este texto é, na verdade, um convite para que escritórios de advocacia que sempre apoiaram as ações do Jurídico de Saias (JdS), conheçam o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo grupo Black Sisters in Law (BSL). Mas este convite não deve ser confundido com um apelo à generosidade dos escritórios, uma ação caridosa. Trata-se de um convite para conhecer a potência de um grupo de mulheres pretas, advogadas, plenamente capazes de exercer a profissão e atender clientes, em toda sua diversidade. Esta é uma oportunidade de negócios.
Em fevereiro de 2023 o Jurídico de Saias teve seu primeiro encontro com o grupo Black Sisters in Law. Pra quem não conhece, o Black Sister in Law, ou as Sisters, como elas se chamam, é um grupo de advogadas mulheres e negras que começou em meados de 2022 sob a liderança da advogada Dione de Assis1, e que hoje conta com mais de 1500 mulheres advogadas, negras, atuantes no país. Este encontro inicial, inclusive, serviu como desafio para que nós, Saias, enfrentássemos a realidade óbvia, porém praticamente invisível no desigual e conservador mercado em que atuamos. Se é difícil ser mulher no mundo jurídico, imagina então, ser uma advogada preta.
Dentre as inúmeras situações a serem reparadas, chama especial atenção o número levantado dentro do próprio grupo das BSL, em que se constata que a maioria das profissionais ali inscritas, embora tenham lutado arduamente para se graduar na faculdade de Direito e muitas vezes completar inclusive pós-graduação, mestrado e doutorado, atuam de forma autônoma em pequenos escritórios próprios. A maioria das advogadas do grupo se concentra na atuação nas áreas trabalhista, criminal e previdenciária, simplesmente por lhes parecerem as mais óbvias para quem tem a necessidade de sobreviver da advocacia de forma autônoma. Esta modesta estatística nos dá pistas da estreiteza de oportunidades, que não acontece por falta de estudo, paixão pelo direito ou capacidade técnica, mas sim porque elas se veem quase sempre restritas ao entorno de sua realidade histórico-social.
Faltam-nos, infelizmente, estudos e números precisos acerca da presença de mulheres negras advogadas nas bancas de advocacia mais relevantes do país, e mesmo nos departamentos jurídicos de empresas. A FGV-IBRE publicou2 um estudo interessante que revela a participação de mulheres negras no mercado de trabalho em geral, o qual nos permite um vislumbre do abismo percentual que certamente se demonstrará quanto ao número de advogadas negras devidamente inseridas neste mercado3. O estudo, em resumo, demonstra que as mulheres negras são as que possuem menor participação no mercado, menor rendimento médio, e que apresentam os maiores índices de desemprego comparadas com homens negros e brancos, e com mulheres brancas.
Diante do cenário acima, o JDS e BSL firmaram uma parceria que tem, inicialmente, o intuito de apoiar a divulgação do trabalho das Black Sister in Law num convite à ação inclusiva de todos os parceiros na jornada da Diversidade e Inclusão. Mas isso é só o começo. Vamos nos aliar em inúmeras ações e não queremos estar sozinhas. Escritórios, parceiros, aliados podem juntar-se a esse movimento potencialmente transformador. Sigamos juntos!!
1 Advogada, sócia do escritório Galdino, Coelho, Pimento e Ayoub Advogados.
2 Janaína Feijó, FGV-IBRE
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3 Lembrando que assim que os novos dados do IBGE de 2022 deverão confirmar a estatística de 2010, em que aproximadamente 25% da população do país é formada por mulheres negras.