A visita do Papa
Sylvia Romano*
Agora estou esperando a vinda do Papa, que vem para canonizar o primeiro santo brasileiro. Tenho acompanhado as notícias sobre os preparatórios de sua visita, vendo cidades sendo arrumadas, comunidades treinadas para participarem das solenidades, fornecedores de lembranças oficiais criando diversos produtos para marcar o fato e sempre reclamando dos falsificadores de lembranças não autorizadas pelo clero. Outro dia, assisti a uma matéria jornalística falando das roupas que serão usadas pelos bispos e padres que, pelo luxo e esmero na produção, fariam frente até ao grande filósofo e carnavalesco brasileiro Joãozinho Trinta. Até ai estou de acordo com tudo, afinal quem gosta de pobreza é intelectual, todos gostam mesmo é de luxo.
Paralelamente, vejo personalidades de destaque já começando a tentar por todos os meios serem convidados para alguma cerimônia, a qual obviamente acabará sendo documentada pela imprensa e lhe dará grande visibilidade. Da mesma forma, porém, já foram vetadas algumas celebridades que deram seu apoio a campanhas que incentivavam a utilização de preservativos nas relações sexuais. Divorciados também não poderão estar presentes, pois não são bem-vindos à Igreja, bem como os solteiros com vida sexual ativa.
Vendo tudo isso, admito que ando um pouco preocupada com o sucesso dessa importante visita — que sempre se caracterizou pela sua capacidade de mobilizar multidões, especialmente aqui no Brasil, país com o maior número de católicos do mundo. Se forem levadas a sério as recomendações quanto aos tipos de pessoas que terão permissão de se aproximar do pontífice, pergunto: Quem estará no evento? Um bando de crianças de até 12 anos e uma porção de velhas carolas e beatas?
O mundo mudou e já faz tempo. Na última visita papal ao Brasil, grande parte dos 2 milhões de pessoas que foram às missas estava lá muito mais pelo caráter festivo do evento do que por seu cunho religioso. E hoje, com a Igreja atravessando um momento de reafirmação de suas doutrinas e ameaçada pelo crescimento pentecostal, ela deveria parar de pregar dogmas ultrapassados e passar a assumir preocupações mais práticas e importantes para tentar reconverter uma população de fiéis cada vez mais descrentes com sua religião.
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*Advogada do escritório Sylvia Romano Consultores Associados
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