Migalhas de Peso

A COP27 e os banqueiros

Uma festa de banqueiros caridosos à cata de novas vítimas.

23/11/2022

Acompanhando, com muita preocupação, o desenrolar da COP27 cheguei à conclusão que tenho razão, os meus receios não são infundados. A COP27 foi uma festa de banqueiros ‘caridosos’ à cata de novos clientes para vender dinheiro (financiar). A mor parte da clientela dos bancos estava presente, inclusive os novos potenciais compradores, que são nada mais nada menos que os países mais pobres e os ‘em desenvolvimento’. Todos devidamente preparados para o sacrifício no altar dos bancos como um rebanho em direção ao abate.

Caso alguém duvide disso basta ler o artigo “Mostre-nos o dinheiro: mundo em desenvolvimento na COP27 busca detalhes de financiamento” com autoria de Simon Jessop e Kate Abnete Virginia Furness, publicado pela Reuters em 9/11/22, o dia mais importante da COP27 onde o ambientalismo mostra a sua verdadeira face, que transcrevo alguns trechos:

“As finanças ocuparam o centro do palco nas negociações climáticas da COP27 nesta quarta-feira, com especialistas da ONU publicando uma lista de projetos no valor de 120 bilhões de dólares que os investidores podem apoiar para ajudar os países mais pobres a reduzir as emissões e se adaptar ao clima.

Um projeto de transferência de água de US$ 3 bilhões entre Lesoto e Botsuana e um plano de US$ 10 milhões para melhorar o sistema público de água nas Maurícias estavam entre dezenas de projetos listados, incluindo 19 na África. ‘Agora podemos mostrar que existe um fluxo significativo de oportunidades de investimento nas economias que mais precisam de financiamento’, disse Mahmoud Mohieldin, um dos especialistas nomeados pela ONU, conhecidos como Campeões de Alto Nível da Mudança Climática da ONU, em comunicado para acompanhar o relatório.

Em um esforço para responder ao argumento dos financiadores do setor privado de que é muito arriscado investir mais em mercados emergentes, os especialistas, que ajudam os governos anfitriões da COP a se envolverem com os negócios, reuniram uma lista de projetos que poderiam ser financiados mais rapidamente.

‘Precisamos agora de uma colaboração criativa entre desenvolvedores de projetos e financiamento público, privado e concessionário, para liberar esse potencial de investimento e transformar ativos em fluxos’, disse Mohieldin, campeão de alto nível da COP27.

No entanto, outro relatório divulgado na terça-feira sugeriu que os países em desenvolvimento precisariam garantir US$ 1 trilhão em financiamento externo a cada ano até 2030, e depois combinar isso com seus próprios fundos, a fim de cumprir a meta mundial de evitar mudanças climáticas descontroladas.

Por outro lado, os principais bancos de desenvolvimento do mundo emprestaram US$ 51 bilhões a países mais pobres em 2021, com investidores privados contribuindo com apenas US$ 13 bilhões, disse um relatório recente dos credores.

Entre uma série de acordos separados anunciados na quarta-feira, o Egito disse que assinou parcerias para seu programa Nexus of Water-Food-Energy (NWFE) para apoiar a implementação de projetos climáticos com investimentos no valor de US$ 15 bilhões.

A França e a Alemanha também assinaram acordos de empréstimo para estender 300 milhões de euros (US$ 300,69 milhões) em financiamento concessional à África do Sul para apoiar sua mudança da energia a carvão.

Itália, Grã-Bretanha e Suécia estavam entre os doadores que prometeram mais de US$ 350 milhões para financiar soluções baseadas na natureza para a crise climática em países como Egito, Fiji, Quênia e Malawi.”

Afinal qual o objetivo das COPs? Não surgiram para fazer acordos para que os emissores de gases de efeito estufa que provocam as alterações climáticas causadas pelos seres humanos fossem obrigados a corrigir suas ações? Na minha modesta opinião o ‘mundo enlouqueceu’ e as COPs tornaram-se uma armadilha mortal para os países pobres e os em desenvolvimento. Enquanto os países mais ricos que são os maiores emissores de gases de efeito estufa estão, inclusive, voltando à utilização de combustíveis fósseis, o maior sintoma é a participação de 636 lobistas das indústrias de petróleo e gás no evento. Taís países ricos querem impingir aos países pobres e em desenvolvimento a necessidade de se endividarem para cumprirem as regras, que eles mesmos não cumprem, para que reduzam os gases de efeito estufa na atmosfera.

O que se pode inferir, ainda, no artigo publicado pela Reuters relatando o que ocorreu na COP27 no dia 9/11/22 é que os banqueiros internacionais já vem ‘sangrando’, há muito, os países africanos sabotando os seus desenvolvimentos com dívidas para serem pagas nos próximos 100 anos com o sacrifício de seus povos. É uma vergonha o que está acontecendo.

Espero que o nosso país não caia nessa armadilha. Não queremos financiamento e sim o pagamento por serviços ambientais, já vimos há bastante tempo preservando o meio ambiente seguindo a lei mais dura e exigente – o Código Florestal e estamos entre as nações que menos emitem gases de efeito estufa. O que nós brasileiros aguardamos é que os países ricos nos indenizem por poupa-los de uma enorme tragédia ambiental produzida por eles mesmos. Sinceramente não gostaríamos que o nosso país se endividasse como o fizeram os países africanos, para que todos nós e as nossas próximas gerações carreguemos nas costas tal endividamento.  

Baseado na afirmativa do braço ambiental da ONU, que as alterações climáticas são uma obra dos seres humanos, atrevo-me a afirmar que os países ricos, maiores emissores de gases de efeito estufa, deveriam indenizar toda a humanidade pelos males que estão nos causando desde que os primeiros fiapos de carbono saíram das fábricas, usinas e fundições de West Midlands, no Reino Unido, há 200 anos.

Gil Reis
Consultor em Agronegócio.

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