Eis que de repente o Presidente colombiano convida a ‘raposa para tomar conta do galinheiro’, desculpem a frase, entretanto é muito usada no vocabulário pátrio. Algum leitor consegue imaginar a OTAN e os EUA controlando e fiscalizando o território da Amazônia? Não? Pois comecem a imaginar a viabilidade do fato, inclusive com convite para o controle e a fiscalização realizada por um dos países que integram a Amazônia Sul Americana.
Passamos uma vida defendendo a soberania da Amazônia brasileira e de repente, não mais que de repente, tomamos conhecimento, através de um artigo, que o Presidente da Colômbia resolveu ‘entregar o ouro’. Foi publicado, dia 11/10/22, o artigo de Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), sob o título “Internacionalização da Amazônia”, que já havia sido publicado anteriormente em O Estado de S.Paulo, onde o autor faz revelações surpreendentes, seguem alguns trechos:
“O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, em entrevista recente, deu informações sobre entendimentos mantidos com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e com os Estados Unidos para, ‘em vista da importância da crise climática, ter ajuda na região da Floresta Amazônica’. Disse que ‘tinha conseguido alcançar importantes objetivos com os EUA e a Otan’. ‘Com os EUA, o que estou tentando é levar o diálogo para outras áreas, além do combate às drogas, que fracassou.’ ‘Foi criada a primeira unidade militar, com 12 helicópteros Black Hawk, mais de polícia do que militar, para ajudar a combater as queimadas na Amazônia.’ ‘Será uma mudança completa no que a ajuda militar dos EUA tem sido até aqui. É uma grande conquista. Já há três helicópteros em ação. Vou continuar nesta linha porque me parece que neste caminho podemos construir um diálogo muito mais positivo com os EUA.’ Por outro lado, Petro mencionou que ‘o objetivo das conversas com a Otan, da qual somos parte, é trazer a Organização do Tratado do Atlântico Norte para cuidar da Floresta Amazônica, para emprestar colaboração tecnológica’.
A aproximação com a Otan naquela época, por influência dos EUA, pode ser atribuída à presença da Rússia e da China na Venezuela e às tensões ideológicas e políticas com o vizinho, cuja relação está hoje normalizada. Por outro lado, Joe Biden, no dia 21 de setembro passado, em comunicação à presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, formalizou a designação da Colômbia como um aliado estratégico fora da Otan. Em comunicado divulgado pela Casa Branca, Biden afirma que essa designação é ‘um reconhecimento da importância da relação entre os EUA e a Colômbia e das contribuições cruciais da Colômbia para a segurança regional e internacional’. ‘A Colômbia é a pedra angular de nossos esforços compartilhados para construir um hemisfério próspero, seguro e democrático.’ O status de ‘aliado importante não pertencente à Otan’ é concedido pelos EUA a 18 países, com benefícios em questões militares e comerciais, inclusive a Argentina, desde 1998, e o Brasil, desde 2019, incluído por Donald Trump, até agora os únicos latino-americanos.
A iniciativa colombiana de chamar a Otan e os EUA para ter presença na Amazônia deve ser vista com cautela, mas, do ponto de vista do Brasil, se confirmada, é de extrema gravidade por suas possíveis implicações estratégicas, ambientais, políticas e de defesa.
O novo conceito estratégico da Aliança Atlântica definido em 2010 ampliou o escopo e o raio de atuação da aliança — não mais restrito ao teatro europeu, como ocorre hoje no conflito na Ucrânia e no Indo-pacífico. Uma interpretação literal desse conceito indica que a Otan passaria a poder intervir em qualquer parte do mundo, inclusive no Atlântico Sul, para defender os interesses dos países-membros em áreas como agressões ao meio ambiente, antiterrorismo, ações humanitárias, tráfico de drogas, ameaças à democracia, entre outras. O governo brasileiro, naquele momento, por meio do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, expressou reservas ‘às iniciativas que procurem, de alguma forma, associar o 'norte do Atlântico' ao 'sul do Atlântico', área geoestratégica de interesse vital para o Brasil’. ‘As questões de segurança relacionadas às duas metades desse oceano são distintas.’
Mais de dez anos depois, as considerações de Jobim, que refletiam o pensamento prevalecente entre os militares e o da diplomacia nacional, são ainda mais relevantes, no contexto da adesão colombiana à estrutura da Otan e da anunciada intenção dos EUA de retomar sua influência no Hemisfério Ocidental, em face da presença crescente da China e da Rússia na América do Sul, numa espécie de ressurreição da Doutrina Monroe.”
Mais espantosa que a declaração do Presidente Petra é o fato que tais declarações já haviam sido publicadas no poderoso (ainda?) jornal O Estado de São Paulo sem grandes repercussões. Vejam bem não estou cobrando posição do governo e sim dos próprios brasileiros de outras regiões. Paciência, não é novidade, nós na Amazônia temos convivido com a passividade da maioria dos nossos irmãos de outras regiões diante dos ataques que vimos sofrendo por parte da comunidade internacional.
Vivemos em uma época que a tal comunidade internacional vem relativizando a soberania da nossa Amazônia e a atitude do Presidente da Colômbia pode vir a ser a ‘pá de cal’ na nossa soberania. Vou encerrando aqui lembrando a todos o que disse Stephen Hawking – “Não deve haver limites para o esforço humano. Somos todos diferentes. Por pior do que a vida possa parecer, sempre há algo que podemos fazer em que podemos obter sucesso. Enquanto houver vida, haverá esperança”.