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Temperatura política sobe enquanto Lula e Bolsonaro se enfrentam em segundo turno

O famoso Centrão mantém seu destaque e a articulação com esses partidos continua sendo essencial para a governabilidade. As projeções mostram que esse grupo formado por cinco partidos que costumam acompanhar o fluxo de quem governa o Executivo elegeu 241 deputados.

7/10/2022

O ex-presidente Lula (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) disputarão o segundo turno para a presidência do Brasil em 30 de outubro após um resultado surpreendentemente apertado. No primeiro turno, Lula obteve 48,43% dos votos, enquanto Bolsonaro obteve 43,20%. Lula alcançou 57 milhões de votos em 14 estados, principalmente em seu reduto eleitoral no norte e nordeste, enquanto Bolsonaro conquistou mais de 51 milhões de votos em 12 estados e no Distrito Federal, principalmente no centro-oeste, sul e sudeste. É importante ressaltar que os principais institutos de pesquisa não refletiram, em sua maioria, os resultados das eleições nas esferas federal e estadual.

Comparado ao primeiro turno de 2018, Lula obteve 25,6 milhões de votos a mais do que Fernando Haddad (PT), que agora disputa o segundo turno para o governo do estado de São Paulo. Bolsonaro, por outro lado, ganhou 1,7 milhão de votos a mais do que no primeiro turno há quatro anos contra Haddad.

Esta será a primeira vez desde a redemocratização do Brasil que o segundo turno será disputado por dois ex-presidentes. Lula, que governou por dois mandatos entre 2003 e 2010, e Bolsonaro, que é presidente desde 2019 e busca um segundo mandato, são protagonistas da polarização política que se expandiu nos últimos anos.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quase 30 milhões de brasileiros não compareceram às urnas, embora o voto seja obrigatório dos 18 aos 70 anos de idade.  Dos 123,7 milhões de votos, quase 3,5 milhões foram nulos e 2 milhões em branco. Lula e Bolsonaro vão se esforçar para convencer esses eleitores ao mesmo tempo em que tentarão angariar quase 10 milhões de votos conquistados pelos chamados candidatos da terceira via, como Simone Tebet, Ciro Gomes e outros.

Lula explora o legado social e econômico de seus dois mandatos como presidente e a forma como conseguiu construir um cenário favorável ao lado do companheiro de chapa e antigo inimigo Geraldo Alckmin, com diversos jantares realizados para dialogar com o empresariado. O presidente Jair Bolsonaro, naturalmente, explora as recompensas do aumento do Auxílio Brasil, um PIB mais forte, inflação e desemprego mais baixos.

Embora Lula não tenha dado detalhes sobre a composição de sua Esplanada dos Ministérios – o que deixa o mercado apreensivo – não vencer o primeiro turno pode levá-lo a fazer concessões mais moderadas e favoráveis ao mercado para convencer o eleitorado nesta reta final.

Governabilidade

Em 2023, o partido do presidente Bolsonaro, o PL, terá a maior bancada da Câmara dos Deputados, com projeção de 100 deputados, enquanto o Partido dos Trabalhadores de Lula projeta 80 deputados. Dos 27 senadores eleitos (1/3 da casa), 16 são aliados de Bolsonaro, oito são de Lula e três são independentes.

O presidente Bolsonaro mostrou força e conseguiu atrair votos para aliados no Legislativo. Oito ex-ministros do governo Bolsonaro conquistaram cadeiras no Congresso. Cinco deles para o Senado: o vice-presidente Hamilton Mourão para o Rio Grande do Sul; Damares Alves (Direitos Humanos) no Distrito Federal; Marcos Pontes (Ciência & Tecnologia) em São Paulo; Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) no Rio Grande do Norte; Tereza Cristina (Agricultura) em Mato Grosso do Sul, estado impulsionado pelo agronegócio. Sergio Moro, ex-ministro da Justiça que rompeu com o governo em 2020, venceu no Paraná. Dois ex-ministros conquistaram cadeiras na Câmara dos Deputados: os polêmicos Ricardo Salles (Meio Ambiente) para São Paulo e Eduardo Pazuello (Saúde) para o Rio de Janeiro.

Dois outros membros do gabinete do governo Bolsonaro disputarão segundo turno para os governos estaduais: Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país e o estado mais rico da federação, que espelha a disputa federal entre um aliado de Bolsonaro e Fernando Haddad, do PT. No Rio Grande do Sul, Onyx Lorenzoni (ministro de quatro pastas diferentes, Trabalho e Previdência por último) disputa o governo do estado com Eduardo Leite, do PSDB, partido que saiu enfraquecido dessas eleições.

No primeiro turno nos governos estaduais, os aliados do presidente Bolsonaro venceram em oito estados, enquanto os de Lula venceram em quatro. Nos estados onde haverá segundo turno para governadores, Lula e Bolsonaro reúnem cada um o apoio de seis candidatos que lideraram as urnas no último domingo.

No geral, os resultados do Senado reforçam uma agenda conservadora, e a Câmara está alinhada ao presidente Bolsonaro. Se reeleito, fica mais forte no Congresso. Por outro lado, se Lula vencer, terá mais dificuldade em aprovar suas agendas e contará com forte oposição.

No entanto, o famoso Centrão mantém seu destaque e a articulação com esses partidos continua sendo essencial para a governabilidade. As projeções mostram que esse grupo formado por cinco partidos que costumam acompanhar o fluxo de quem governa o Executivo elegeu 241 deputados federais – vitais para obter a maioria na Câmara composta por 513 parlamentares.

Maria Eduarda Callai Negri
Head de Relações Institucionais e Governamentais (RIG) do Di Blasi, Parente & Associados. Com formação acadêmica que engloba graduação em Relações Internacionais, pelo Centro Universitário de Brasília, e duas pós-graduações, em Administração de Empresas pela FVG e em Transformação Digital pela BBI Chicago, ela possui experiência profissional em variados setores de RIG: PATRI Políticas Públicas & Public Affairs, SEBRAE Nacional, Embaixada dos Estados Unidos e Ministério da Fazenda.

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