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“Data Centric Management” no direito

Neste mercado cada vez mais exigente é necessário saber prestar um bom serviço e contentar o cliente, se possível surpreendê-lo e para isso a tomada de decisão baseada em informações é a chave.

20/7/2022

Advogados são ótimos observadores, com alta capacidade de análise e são treinados a procurar os mínimos detalhes no seu trabalho para depois desenvolver uma lógica de argumentação e defender os interesses de seus clientes. O problema é que esta lógica de raciocínio não deve ser utilizada quando se trata de tomar as decisões corretas a respeito da gestão de seu negócio.

A lógica do direito se baseia na análise do detalhe para depois descobrir a regra (lei, doutrina, jurisprudência) que deve ser utilizada na sua argumentação. A lógica da gestão, porém, é exatamente oposta, ou seja, deve-se observar sistematicamente o problema, levantar as hipóteses e teorias aplicáveis, testá-las verificando seus resultados para depois escolher a melhor solução que se aplica a seu problema (é o método científico de pesquisa). Este é o conflito entre os dois métodos, pois na lógica do direito não se pode dar ao luxo de experimentar e errar.

Quanto maior for o número de observações, ou seja, de dados e informações, maiores serão as possiblidades de sucesso no processo decisório.

William Edwards Deming ficou famoso por seus estudos e técnicas para a melhoria da eficiência produtiva americana durante a segunda grande guerra e no Japão após a guerra e cunhou a frase “Without Data you are just another person with an opinion” que considero se adaptar perfeitamente ao desafio na gestão no direito, pois as melhores decisões não são aquelas provenientes do poder de argumentação de uma pessoa e sim de informações (dados e experiências).

Podemos dividir essa discussão em dois grandes temas: A Gestão Jurídica e a Gestão do Negócio Jurídico e em ambos a importância da tecnologia é extrema.

Na Gestão Jurídica, a solução tradicional de se pesquisar as leis doutrinas e jurisprudências e responder ao cliente com palavras as “Possível, Provável e Remota” sem a determinação de prazos ou custos não mais satisfaz as exigências do mercado consumidor, ou seja, dos clientes. Estes querem cada vez mais soluções ágeis, eficazes e menos custosas e para isso os advogados devem obter mais informações e fornecer informações mais objetivas (embora saibamos que a resposta nunca será exata, pois sempre dependerá de uma decisão de juízes humanos, por enquanto).

Clientes gostariam de saber:

             Quais / Quantos casos são similares ao meu?

             Qual a probabilidade de sucesso (% de sucesso e % de fracasso)

             Qual é a estatística de sucesso para cada argumento utilizado, tribunal ou juiz julgador? Qual o melhor argumento?

             Qual a estatística de decisões favoráveis ou desfavoráveis em cada região (estado, município etc.)?

             Qual é a expectativa de tempo (novamente baseado em estatísticas) para o julgamento desse tipo de caso?

             Qual o custo previsto?

Para que o advogado possa fornecer tais informações, a adoção de tecnologia associada à jurimetria e à ciência de dados são absolutamente imprescindíveis e se tornam cada vez mais críticas à medida que se aproxima da advocacia de grandes volumes (chamada advocacia de massa).

Sistemas que geram relatórios estatísticos das informações internas do escritório associados a sistemas de extração de estatísticas de julgamentos dos diversos tribunais formam a base para a tomada da decisão estratégica sobre cada caso específico.

Baseando-se em todas essas informações, o cliente espera de seu advogado o melhor aconselhamento para o seu caso específico e que pode ser inclusive um acordo ou a desistência do processo.

Na Gestão do Negócio Jurídico não há a incerteza inerente ao julgamento, mas isso não tornam as decisões mais fáceis, pois envolvem as consequências humanas decorrentes dessas decisões.

O conhecimento das informações exatas e os dados numéricos existentes são fundamentais para a composição da correta decisão, mas lembremos que em escritórios de advocacia o único fator produtivo é constituído exclusivamente por seres humanos e a análise dos impactos humanos de qualquer decisão é importantíssima. A gestão moderna não comporta mais decisões baseadas em intuição (apesar de ser importante), achismo ou autocracia estúpida.

Todo bom gestor do “negócio” jurídico deve:

             Conhecer a composição de seus custos (diretos, indiretos e fixos).

             Conhecer a sazonalidade e composição de suas receitas.

             Saber exatamente a rentabilidade de cada cliente e cada assunto.

             Saber é a rentabilidade de áreas, setores e equipes.

             Conhecer e analisar tempestivamente a produtividade de equipes e advogados.

             Gerir a correta distribuição dos trabalhos visando otimização de custos, tempos e equipes.

São necessários:

             Plano de contas de receitas e despesas detalhado.

             Plano de carreira e remuneração atualizados com as novas gerações.

             Sistema atualizado de ERP.

             Utilização tempestiva e obrigatória de timesheet para trabalhos faturáveis e institucionais.

             Dashboards estratégicos e operacionais com informações atualizadas.

             Equipe de back-office profissional e treinada para gerar os relatórios necessários.

Para se implementar essa nova forma de gestão é necessária uma adaptação radical na atitude dos dirigentes de modo a compreender as mudanças que estão ocorrendo no mercado consumidor de serviços jurídicos. Como já dito, clientes querem serviços mais rápidos, prestados por empresas modernas, e tecnologicamente atualizadas e se possível menos custosos.

A qualidade técnica obviamente é a premissa para se estar nesse mercado, porém não basta apenas a qualidade. Para poder continuar nesse mercado cada vez mais exigente é necessário saber prestar um bom serviço e contentar o cliente, se possível surpreendê-lo e para isso a tomada de decisão baseada em informações é a chave.

José Paulo Graciotti
Consultor, sócio e fundador da GRACIOTTI Assessoria Empresarial.

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