Migalhas de Peso

A prova dos nove

Como venho dizendo e repetindo, nada em BolsoNero é verdadeiro.

15/2/2022

(Imagem: Arte Migalhas)

A persistência que a família Bolsonaro vem demonstrando para que a suposta facada de Juiz de Fora volte a ser usada como elemento de campanha eleitoral é a prova cabal de que tudo não passou mesmo de uma farsa. 

Neste final de semana, o filho Carlos "Zero Dois", o vereador federal Carluxo, reproduziu e disseminou pelas redes sociais uma mensagem do perfil "Anonymous" que assegurava que Adélio Bispo teria prestado depoimento à polícia federal, gravado, em que teria dito que fora contratado pela campanha de Fernando Haddad para cometer o atentado contra o então candidato, hoje presidente Jair Mentiras BolsoNero. 

A mentira, certamente mais uma produção do gabinete do ódio comandado pelo próprio Carluxo, não durou nem 48 horas. A polícia federal já desmentiu e até o juiz do caso se pronunciou, destacando a inimputabilidade de Adélio que o impossibilita de prestar depoimento, seja como réu ou como testemunha.

Não satisfeitos, os membros do clã presidencial divulgaram ontem, quatro anos depois da falsa facada, um vídeo supostamente gravado em 7 de setembro de 2018, instantes após o então candidato ter retomado a consciência ao fim do procedimento cirúrgico a que fora supostamente submetido. Nele, o presidente aparece deitado numa cama de hospital falando com normalidade, sem embaraço, mencionando "deus", "jesus", dizendo-se abençoado e escolhido para cumprir uma "missão", precedido por uma "oração" do farsante Magno Malta. 

Especialista em enganar crédulos passando-se por pastor evangélico, Malta já produziu, ou ao menos reproduziu, uma imagem "fake" em que a cabeça de Adélio foi inserida em lugar da de outra pessoa que se encontrava em meio a uma multidão, tendo o ex-presidente Lula à frente. O falsário sequer se preocupou com a desproporção notória da cabeça de Adélio, recortada e inserida em sobreposição à fotografia original, em relação a todas as demais pessoas presentes. 

Essa persistência só reforça que tudo de fato é realmente falso, tudo é farsesco, a começar do próprio episódio da inverossímil facada. Qualquer pessoa, grupo, entidade, empresa ou partido político que quisesse realmente cometer um atentado contra um candidato a presidente da República jamais encomendaria um crime de tal magnitude a um sujeito com visíveis distúrbios mentais e para praticá-lo em meio à multidão, E a faca! Uma pessoa com um resquício de inteligência contrataria um franco-atirador, um "sniper", um especialista que disparasse o tiro a partir do teto ou da janela de um apartamento de um prédio qualquer, de onde o alvo se tornasse fácil de ser atingido e o atirador estivesse protegido, a salvo de ser identificado, contido pelos seguranças ou linchado pela turba enraivecida. 

A par disso, há toda uma série de "pontas soltas" que envolvem o episódio, bem demonstradas no documentário produzido pelo portal Brasil 247 e apresentado pelo jornalista Joaquim de Carvalho, disponível no YouTube. A mais gritante é o fato de que, rodeado de diversos delegados da polícia federal que faziam a segurança do candidato, o limítrofe Adélio Bispo furou o cerco e, erguendo o braço direito sobre a cabeça de um dos seguranças, conseguiu o feito de atingir o abdômen de Bolsonaro com a força necessária para perfurá-lo e penetrá-lo gravemente. Detalhe intrigante: os delegados ali presentes, que falharam clamorosamente na missão de proteger o candidato, foram por este, depois de eleito e empossado, todos eles premiados com promoções. Fizeram por merecer, com certeza. 

Enfim, como venho dizendo e repetindo, nada em BolsoNero é verdadeiro. Tudo nele rescende a falsidade. E o seu desespero e dos que o cercam, diante da preferência do eleitorado brasileiro cada vez mais consolidada em favor do adversário petista, leva-os a cometerem erros primários como essa desastrada notícia falsa do depoimento que não existiu. 

Luís Antônio Albiero
Procurador Municipal (São José dos Campos, SP). Graduado pela UNIMEP (Piracicaba). Foi vereador (Capivari, SP), advogado do Banespa, assessor jurídico (ALESP), Procurador da Câmara de Americana (SP).

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