Migalhas de Peso

Devoro-me ou te decifro: embargando o mito

Aquele que faz uma cruzada contra a "ameaça comunista” é o mesmo que corre a caiar o meio-fio do Kremlin, antes mesmo do primeiro estampido, afinal, qual a posição do Brasil no conflito Rússia versus Ucrânia?

18/3/2022

 

(Imagem: Arte Migalhas)

Alguém precisa interpor embargos de declaração em face do Presidente da República.  À própria pessoa dele.

Contraditório, obscuro, omisso. Confuso... acima de tudo, confundidor.

Uma Esfinge que se finge. Devoro-me ou decifro-te.

As contradições são tantas que as ferramentas do Direito não dão nem para o começo de conversa.  Até o "impeachment", nele, soa esquisito, sem congruência. É insuficiente, quase risível.  

Trata-se de um fenômeno de contradição e o efeito que produz em sua horda deve ser profundamente estudado. Talvez uma simples camisa-de-força seja a melhor solução. 

Aquele mesmo que se apresenta como liderança dos militares, em verdadeira antítese dos valores de honra e lealdade das forças armadas, vinha de se ver expulso do Exército por colocar insidiosamente bombas nos próprios quartéis, à cata de uns cobres, um aumento do soldo.

Aquele que veste um figurino estilo "conservador nos costumes”, tipo carola, fiel provedor, mantém relações tumultuadas com ex-mulheres, fica brigado durante anos com os filhos... Sem falar da manutenção de apartamento para "comer gente", pago pelos cofres públicos. É também quem prega contra o aborto para o público externo; mas, pelas razões erradas (refratário que é a seus deveres), defende-o no ambiente interno, inclusive à mãe de sua filha.

Aquele que se diz "pela vida”, mas “vive” em simbiose com a indústria de armas letais, as mesmas que vêm aparelhando, como nunca, as milícias e o crime organizado.

Aquele que faz uma cruzada contra a "ameaça comunista” é o mesmo que corre a caiar o meio-fio do Kremlin, antes mesmo do primeiro estampido (afinal, qual a posição do Brasil no conflito Rússia versus Ucrânia?).

Promove passeata para "fechar o STF" e contra a política tradicional (e dita corrupta), mas no dia seguinte suplica ao antecessor, ícone da política tradicional (e dita corrupta), para ajudá-lo a desenhar uma cartinha de amor a ministros do STF.

Aquele que pede para que se odeie o centrão, mas assume que “ele é o centrão”. Adora a ditadura, flerta com a tirania, mas se diz democrata. Cujo governo prega e pratica a censura dizendo-se liberal.

Consegue a façanha de se colocar como vítima dos insucessos de sua própria gestão, dela se descolando quando lhe convém. Segue a linha de sempre combater, destruir; jamais consensuar, construir. Até a si próprio.  Devoro-me.

Enfim, age como um anti-artista, uma "amorfose rastejante", versão troncha da metamorfose de Raul.

O anti-artista, facinoroso que é, não tem a mínima graça ou talento para a criação. Desgraçadamente, até agora mostrou que veio para destruir. E – decifro-te – segue sem embargo.

Paulo Calmon Nogueira da Gama
Mestre em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela PUC-Rio, Desembargador do TJMG.

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