É bem conhecida a história de João da Silva Neves Manta, o advogado cuja situação de doença e penúria deu origem à Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo. Dormindo sobre jornais numa casa abandonada no bairro de Vila Mariana, em São Paulo, ele comoveu os gestores da Secional. A ação de socorro a Neves Manta e a constatação de que muitos outros advogados careciam de atenção especial da sua entidade de classe fez brotar, pelas mãos da OAB SP, a CAASP, que neste 3 de fevereiro completa 86 anos.
A evolução da CAASP ao longo do tempo foi contínua. Passo a passo, conduzida por gestores abnegados cada qual ao seu tempo, a Caixa caminhou até se tornar a maior entidade assistencial de classe do Brasil, ampla em termos de alcance territorial, múltipla quanto aos serviços que oferece à advocacia.
A CAASP, consagrada como “braço assistencial da OAB SP”, desafia-se à medida que se torna desafiadora a realidade da sociedade brasileira, da qual advogados e advogadas não se descolam. O momento socioeconômico do país obriga a mudanças de rumo, redefinição de prioridades e adoção de novas posturas.
Quantos “Neves Manta” temos hoje a esperar por socorro? Certamente, muitos mais que no longínquo dezembro de 1935. O notável desenvolvimento do país ao longo do Século XX parece sofrer impacto reverso neste início do Século XXI. A miséria e a fome, que pareciam chagas superadas, ressurgem com força.
Advogados e advogadas carregam a vantagem social - em tese - da formação acadêmica, o que lhes abre diferenciais no mercado de trabalho. Mas diploma não é tudo. Nenhuma categoria profissional passa impune por um país de economia recessiva, de desemprego no mais elevado patamar em décadas e de pobreza crescente, tudo agravado por uma pandemia avassaladora.
Somem-se às agruras mencionadas a necessidade de se manter sintonia com a modernidade tecnológica, cada vez mais entrelaçada com as rotinas de trabalho. Mas, quanto custa um equipamento de informática de boa qualidade? Quanto custa aprender a lidar com ele? Quantos advogados e quantas advogadas têm condições de desfrutar dos benefícios da tecnologia? Tais questões também estão no foco da Caixa de Assistência.
Nossa obstinação à frente da CAASP é, portanto, posicioná-la como um anteparo contra as exclusões a que estão sujeitos advogados e advogadas, tanto aquelas motivadas por problemas de saúde e escassez econômica quanto as que decorrem de inadaptação à modernidade do mercado de trabalho. Para tanto, implementa-se nesta quadra uma gestão transparente e inovadora na Caixa de Assistência, próxima da advocacia onde quer que ela esteja, amparada na qualidade do seu corpo técnico e na consciência dos seus diretores.
Pela primeira vez em seus 86 anos, a Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo conta com uma mulher como presidente, a exemplo do que acontece na OAB SP aos 90 anos de vida. Nosso orgulho é enorme. A honra, imensurável. A representatividade feminina no sistema OAB, formalmente contemplada, significa instituições mais atentas e atuantes na defesa das minorias, na luta contra as mais diversas formas de discriminação.
Rejuvenescida aos 86 anos, a CAASP esmera-se no amparo à advocacia e se faz presente também nas contendas identitárias, pelo exercício pleno da cidadania, por uma democracia que não seja para alguns, mas para a totalidade da sociedade brasileira.