Diz o professor Olavo de Carvalho que o Brasil é uma espécie de balde cheio de caranguejos. Alguém já viu caranguejos no balde? Os que cometem a ousadia de tentar sair dele são puxados para baixo pelos demais.
Está bem, amigos, vocês não gostam de Olavo de Carvalho (e sei que ele é um autor polêmico), fiquemos então com Tom Jobim: "O sucesso no Brasil é a pior das ofensas pessoais".
Tom Jobim cunhara essa frase referindo-se à Sonia Braga, que foi a primeira atriz brasileira a fazer sucesso no cinema americano. Na época, anos 80, ela fora simplesmente esquecida pela mídia, foi colocada na "espiral do silêncio".
Ah, outros exemplos, no meio artístico, que poderíamos citar, como - por exemplo - Rodrigo Santoro, Morena Baccarin, dentre outros artistas brasileiros que triunfaram na Primeira Divisão do Cinema Mundial e são esquecidos por aqui.
Voltemos ao tema do artigo.
Amigos leitores, não quero desestimular ninguém a escrever livros, artigos, tampouco a fazer cursos de pós-Graduação. Ocorre que ao fazer isso, algumas pessoas à sua volta olharão com desdém, quiçá com raiva, sua tentativa de escapar do balde.
Isso já aconteceu comigo mais de uma vez, ok. Meu primeiro livro foi lançado no ano de 20071. Lembro que no lançamento convidei um grupo de amigos de infância. Simplesmente nenhum deles compareceu. Olha que apareceu gente que eu nem lembrava que existia, mas de um específico grupo não apareceu uma sequer viva alma.
Felizmente o lançamento do livro em questão foi um sucesso e a primeira impressão2 esgotou-se no próprio lançamento.
Recentemente concluí e defendi com êxito, na Universidade Autónoma de Lisboa, minha Dissertação de Mestrado.
Ouvi, infelizmente, de alguns colegas - em grupos de WhatsApp - os seguintes comentários: "o Papini agora se acha o f...d.~o...só porque virou mestre".
Gente, pelo amor de Deus, quem me conhece pessoalmente sabe que eu sou exatamente a mesma pessoa, desde que me formei. Não menosprezo meu conhecimento, tampouco sou arrogante em razão dele. Menos ainda em razão de um título.
(Aliás, vou contar um segredinho a vocês: no mestrado - e também no doutorado - você "emburrece um pouquinho", ou fica mais bitolado. Afinal, são dois ou três anos estudando um único assunto. Provavelmente não há ninguém no planeta que conheça melhor que eu o tema específico da minha Dissertação, contudo, foram 30 meses nos quais eu quase nada li que fosse ligado a outros temas.)
Ocorre que a inveja, infelizmente é um traço da cultura latina e em especial da brasileira. Como dissera Jobim e outros, aqui, o sucesso pessoal é uma ofensa; ou, como diz o ditado: "amigo é alguém que suporta seu sucesso".
Com esse texto não pretendo desestimular ninguém a escrever um livro ou cursar uma pós-graduação, mas saibam que esta será uma consequência natural desta jornada, ok. Aliás, sempre que possível - e meu coordenador pedagógico na Uniararas, o dr. Julio Cesar Ballerini Silva, também autor nesta Revista Eletrônica, é minha testemunha de que sempre procuro incentivar meus alunos a cursar um mestrado/doutorado.
PS - Existem algumas ilusões a respeito do mestrado e do doutorado. Não obstante essa qualificação lhe abra portas, seu salário não irá triplicar em razão dela.
PS 2 - O mestrado ou o doutorado não significa que alguém é mais ou menos inteligente. Na realidade, o grande mérito em concluir um mestrado ou doutorado chama-se resiliência (3) e obstinação. Equivale a correr uma maratona: O número de pessoas que desistem no meio da jornada é superior, muito superior, àqueles que não conseguem concluí-la.
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1 Direito & Democracia - Ordem Constitucional x Neoliberalismo, All Print, 2007, São Paulo.
2 Apenas se usa o termo "segunda" ou "terceira edição" quando o conteúdo da obra é alterado em relação à edição anterior. Por exemplo, neste momento estou trabalhando na segunda edição do meu livro: "Medidas Atípicas no Novo CPC - Suspensão de Passaporte e CNH do Devedor".
3 Para usar a palavra da moda.