Santa ignorância e a profissão do advogado
Sylvia Romano*
Nos últimos dias, acompanhamos pela imprensa mais um capítulo dos acontecimentos envolvendo o casal de “bispos” de uma dessas novas religiões que surgiram no vácuo das tradicionais que, de certa maneira, esqueceram de suas “ovelhas” e continuaram com o seu reacionarismo perante o mundo moderno, contestando costumes e necessidades de seus seguidores e permanecendo com os mesmos dogmas tradicionalistas que, no passado, acabaram levando a uma impiedosa inquisição.
A Fé sempre rendeu muito dinheiro, basta ver a fortuna do Vaticano, bem como de outras religiões espalhadas pelo mundo. A venda de “indulgências” e a garantia da felicidade suprema sempre foram as melhores estratégias de marketing de praticamente todas as crenças. Graças, talvez, à sua incontestabilidade, já que tratam-se de comercializações isentas de reclamação dos seus consumidores — afinal, ninguém pode voltar da morte para requerer os seus direitos no paraíso prometido.
O que mais chama a atenção neste momento é a fidelidade de alguns seguidores que, mesmo diante de provas incontestáveis e de todos os indícios apresentados e provados, continuam acreditando em “armações” e “calúnias” que visam derrubar um povo de Deus. Haras, mansões no exterior, milhões e milhões de reais, antenas de televisão, programas luxuosos e outros sinais de grande riqueza não importam. Dólares na bíblia são iguais a dólares na cueca... Santa ignorância a minha, afinal, os últimos estão junto às palavras de Deus!
Quanto ao causídico que representa seus clientes junto ao Ministério Público, ele está perfeitamente certo ao responder à mídia a lisura de seus clientes. Afinal eles não roubaram de ninguém; apenas convenceram um bando de seguidores a dar o dízimo para que a sua igreja possa garantir aos seus pastores e bispos uma vida de luxo e poder, pois, afinal, a “Santa Ignorância” de seus devotos assim permite e deseja.
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*Advogada do escritório Sylvia Romano Consultores Associados
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