Antes de adentramos nos requisitos de uma relação contratual, devemos entender o que é um contrato de trabalho.
O contrato de trabalho é considerado como certa relação jurídica entre empregado e empregador, de trato sucessivo, no qual o seu objetivo jurídico é a contraprestação de serviço com uma remuneração por essa atividade desempenhada. Os sujeitos da relação contratual derivam da relação do empregado e o empregador.
O contrato será um acordo tácito ou expresso, no qual as partes ajustaram as obrigações e os direitos recíprocos da relação contratual.
Antigamente, a nomenclatura de contrato de trabalho era denominada como locação de serviço, conforme constava no Código Civil de 1916 (artigos 1.216 a 1.236).
Octavio Bueno Magano (1993) conceitua o contrato de trabalho como um negócio jurídico, no qual o sujeito da relação, empregado, fica obrigado, através da remuneração, a prestação de seus serviços à outra pessoa, o empregador.
O contrato de trabalho possui uma natureza contratual o qual trará as informações e condições básicas da relação de emprego, como jornada e salário. Todavia, para que o contrato seja válido, este deverá possuir alguns requisitos básicos para sua identificação nos casos concretos.
Para tanto, os requisitos da relação contratual são os seguintes: Pessoalidade, Onerosidade, Não-Eventualidade, Subordinação e Alteridade.
I. Pessoalidade: significa que o contrato de trabalho possui o título de “intuito personae”, que será realizado por uma única pessoa, sendo o empregado insubstituível por outro.
II. Onerosidade: significa todo o contrato de trabalho deverá ter o cunho oneroso, em que empregado ficará obrigado a prestar os serviços ao empregador sendo que, por esta prestação de serviço, será remunerado.
III. Não-Eventualidade: conhecido como continuidade, a não-eventualidade significa que o trabalho será prestado de forma não eventual, no qual o empregado prestará o seu serviço de forma contínua.
IV. Subordinação: é caracterizada pelas ordens que o empregador dirigiu ao empregado, para que ele cumpra as ordens a ele dadas.
V. Alteridade: a assunção dos risco do negócio não serão suportados pelo empregado.
Recentemente (11/09) o TST negou a existência de vínculo empregatícia entre motorista de aplicativo e o aplicativo Uber (Processo 10575-88.2019.5.03.0003). A 4ª turma do Tribunal Superior do Trabalho negou provimento a agravo de instrumento em recurso de revista interposto por um motorista da Uber contra acórdão do TRT-3 (MG). A decisão foi unânime.
O motorista que utilizava a plataforma tecnológica de gestão entre motoristas e usuários não atende aos requisitos da relação contratual previsto na CLT, por não estava sujeito aos poderes fiscalizador, diretivo e punitivo da empresa Uber. O ministro Alexandre Luiz Ramos afirmou "O contrato regido pela CLT exige a convergência de quatro elementos configuradores: pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e subordinação jurídica. Esta decorre do poder hierárquico da empresa e se desdobra nos poderes diretivo, fiscalizador, regulamentar e disciplinar (punitivo)".
Já o TRT-4 (RS) decidiu (05/10) que o motoboy que fazia entregas para loja de autopeças deve ser reconhecido como empregado da empresa. Segundo os desembargadores, ele atuava com pessoalidade e de forma não eventual, além da função de motoboy ser essencial para o empreendimento, o que preenche os requisitos para configuração da relação de emprego.
Importante destacar os fundamentos da decisão da relatora do caso, desembargadora Ana Luiza Heineck Kruse:
[...] embora tenha havido, de fato, um contrato de prestação de serviços, pelo qual a empresa do motoboy seria responsável pelas entregas, remuneradas com valor fixo, o contrato de trabalho é definido pela situação concreta verificada, e não pela forma apresentada. Dessa forma, caso estejam presentes os requisitos estabelecidos pela CLT como caracterizadores da relação de emprego, o vínculo deve ser reconhecido, independentemente da sua apresentação formal.
[...]
Havia inserção do trabalho de motoboy prestado pelo autor na dinâmica da atividade empresarial, do que exsurge a subordinação sob o molde estrutural. Além disso, as testemunhas confirmam a obrigatoriedade de realização dos serviços tão logo o motoboy fosse chamado, sempre durante o horário de funcionamento da loja, o que denota também a subordinação subjetiva [...].
Dessa forma, podemos concluir o quão importante é identificar os requisitos da relação contratual e aplicar em cada caso concreto. Acima podemos analisar duas situações diferentes, uma em que o TST negou o vínculo de emprego entre motorista e o aplicativo Uber, ao passo que o TRT-RS reconheceu o vínculo empregatício entre motoboy e loja de autopeças.
Portanto, cada caso exige uma análise concreta e específica para identificar se haverá ou não vínculo empregatício.
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CAIRO JÚNIOR, José. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. Salvador: Juspodivm, 2016.
RENZETTI, Rogério. Direito do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Forense, 2018.
ROMAR, Carla Teresa Martins. Direito do Trabalho Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2018.
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