O ano de 2019 não foi fácil para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), autarquia federal responsável pela preservação da livre iniciativa e livre concorrência nos mercados brasileiros e demais atribuições fixadas na Lei Brasileira de Defesa da Concorrência 12.529/2011.
Logo no início do ano, o CADE foi motivo de destaque na mídia em razão da sinalização do Governo Federal sobre a possibilidade de sua transferência do Ministério da Justiça para o Ministério da Economia. A ideia foi deixada de lado até o momento, apesar de poder ser reativada a qualquer tempo pelo Ministro Paulo Guedes, defensor do argumento de que o órgão antitruste deveria participar de forma mais ativa na implementação de políticas econômicas1.
Em junho, o CADE acabou sendo novamente alvo de disputas políticas que culminaram na paralisação de suas atividades em 2019 por quase três meses em razão da falta de quórum mínimo do Tribunal – órgão colegiado composto por seis conselheiros e um presidente com voto de minerva2, que tem poder decisório final sobre a aprovação de operações complexas de fusões e aquisições e sobre a condenação ou arquivamento de empresas envolvidas em investigações por infração à ordem econômica.
Diante da renúncia da ex-Conselheira Cristiane Alkmin Junqueira Schmidt3 e iminência do término dos mandatos dos outros três conselheiros, o Governo Federal, preocupado em evitar a paralisação do CADE, nomeou em 20 de maio dois novos membros para o Tribunal: o economista carioca Leonardo Bandeira Rezende e o procurador paranaense Vinícius Klein.
No entanto, a sabatina dos novos indicados tardou a ocorrer em razão dos diversos atritos existentes à época entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo em torno da nomeação de Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos4.
Em 17 de julho de 2019, houve a decretação de paralisação e suspensão dos prazos processuais das atividades do Tribunal do CADE em razão da falta de quórum mínimo causada pelo término dos mandatos dos ex-Conselheiros Polyanna Ferreira Silva Vilanova, João Paulo de Resende e Paulo Burnier da Silveira em julho, nos dias 8, 14 e 16, respectivamente.
Na sequência, em 1º de agosto, o presidente Jair Bolsonaro acabou retirando as indicações de Leonardo Bandeira Rezende e de Vinícius Klein para indicar5 os nomes de Luiz Augusto Azevedo de Almeida Hoffman, Luiz Henrique Bertolino Braido, Sérgio Costa Ravagnani e Lenisa Rodrigues Prado. Os nomes dos novos indicados demoraram quase dois meses para serem levados à apreciação e aprovação pelo Senado Federal.
O Tribunal do CADE somente teve o seu quórum mínimo6 recomposto em 7 de outubro de 2019, com a nomeação e posse do Conselheiro Sérgio Costa Ravagnani7 e quórum completo reestabelecido8 na sequência, com a nomeação dos Conselheiros empossados na mesma época: Sérgio Costa Ravagnani, Luiz Augusto Azevedo de Almeida Hoffmann, Lenisa Rodrigues Prado e Conselheiro Luis Henrique Bertolino Braido.
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2 Todos indicados pelo Presidente da República e nomeados após aprovação pelo Senado Federal.
3 Em 1º de janeiro, Cristiane Alkmin Junqueira Schmidt renunciou à cadeira de Conselheira no Tribunal do CADE para assumir a Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás, encurtando seu mandato, que iria até 15 de setembro.
4 Fonte: Clique aqui
5 Em 23 e 29 de agosto de 2019.
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7 De acordo com a Lei nº 12.529/2011 (artigo 9º, parágrafo 1º), o quórum mínimo para decisões deve ser de quatro conselheiros.
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*Luciana Martorano é sócia fundadora de Martorano Law e mestre em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo-USP.