Parece-nos uma grave insensatez de nossas autoridades governamentais em permitirem a realização dos festejos carnavalescos no país em meio à epidemia do coronavírus. É desvario e ausência de responsabilidade. O governo brasileiro, após decretar estado de emergência, se absteve de dar respostas céleres para combater a epidemia, que se torna, a cada dia, mais abrangente no contexto global.
Enquanto os Estados Unidos proíbem, temporariamente, a chegada em seu território de pessoas vindas do continente chinês, as empresas aéreas American Airlines e United Airlines cancelam seus voos para a China. O Japão confina, em transatlântico, os passageiros em quarentena, sem poderem desembarcar naquele país. Nações europeias adotam medidas de urgência e extremamente necessárias para amainar os efeitos desta epidemia.
Já o Brasil segue na contramão e age com grande contrassenso. Nada mais propício para a proliferação do coronavírus do que a vinda de turistas em nosso país, que não tem como controlar o estado de saúde dos estrangeiros. E segue o baile. Teremos aglomerações provenientes de blocos carnavalescos, desfiles de escolas de samba, carnaval de rua e até matinês para crianças. Situações totalmente favoráveis à propagação do coronavírus.
Pesado tributo para a humanidade, derivado de seu próprio progresso, o qual pressupõe a conexão entre os países em que são realizadas, frequentemente, viagens facilitadoras do comércio internacional. Nossas autoridades estão levando muito tempo para compreender a dimensão da crise, pois a decretação de um estado de emergência requer uma resposta coordenada de toda a sociedade, evidentemente sob a organização dos dirigentes em todas as esferas de poder.
Há temor em adotar medidas antipopulares e que possam afetar a nossa economia, restringindo o setor hoteleiro e os esperados ganhos com a intensificação do turismo. Mas é óbvio ser de suma importância a consideração de se adiar os festejos carnavalescos para uma época mais oportuna. A prioridade deveria ser a saúde pública, não havendo necessidade de grandes inquirições para imaginar as consequências de uma provável disseminação do coronavírus.
Obviamente, a manutenção do carnaval traz significativa dificuldade aos agentes de saúde para controle, tratamento e erradicação de qualquer epidemia que assole o Brasil. O futuro se mostra nebuloso, pois a expectativa é de que as primeiras amostras de uma vacina para conter o vírus irão demorar cerca de três meses para surgirem, e o índice de propagação deverá ter um exponencial aumento, com a letalidade do coronavírus recrudescendo a níveis inimagináveis, até que surja o preventivo. Portanto, deveríamos traçar um plano de contingência contra este invisível inimigo da humanidade, o que se mostra imperioso, já que no curtíssimo prazo até o carnaval, é possível ocorrer um contágio epidêmico que pode acometer aglomerações por meio do contato físico. Portanto, o carnaval deveria, sim, ter sido cancelado ou adiado, evitando que a saúde da população seja comprometida. Mas o que prevalece são medidas demagógicas inaceitáveis no atual contexto da grave epidemia que assola o planeta.
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*Carlos Ely Eluf é advogado titular do Eluf Advogados Associados.