Na abertura do III Encontro Nacional de Comunicação do Judiciário, realizado nos últimos dias 5 e 6 de dezembro, o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, foi contundente em afirmar: o Judiciário se comunica mal.
A afirmação é corroborada pela recente pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) que apurou que apenas 5% dos entrevistados se considera bem informado quando o tema é a justiça.
Assim como fez o ministro em sua declaração - cujo tom, em alguns momentos, beirou um “puxão de orelha” nos assessores de comunicação presentes - o resultado da pesquisa joga no colo desses profissionais que atuam nos tribunais do país uma grande responsabilidade.
Traduzir o vocabulário do Judiciário, explicar a complexidade de seus trâmites, desenvolver campanhas de informação sobre direitos já fazem parte da missão de quem tem o ofício de comunicar sobre o funcionamento do "menos acessível entre os poderes" - de acordo com o jornalista Heraldo Pereira, também presente no encontro. O maior desafio, a meu ver, está em tornar essas ações de fato efetivas, ou seja, estabelecer canais de comunicação que sejam realmente úteis, capazes de cativar a atenção e contribuir para a formação dos cidadãos brasileiros.
A missão já seria árdua se considerássemos apenas o fato de que há por aí uma oferta de informações muito mais atraente do que caputs e incisos, que disputa a rolagem do dedo indicador de pessoas de todas as idades. Ela se torna ainda mais hercúlea quando se tem um dia a dia profissional em que a idealização e execução de campanhas de interesse público não são exatamente uma prioridade. Assoberbados com tarefas operacionais - que vão de publicar comunicados na intranet a atender pedidos de registro fotográficos de ocasiões nem sempre relevantes - os profissionais de comunicação de instituições públicas ficam reféns de fluxos de trabalho semelhantes aos de balcão de rede de fast-food. Entregam textos, releases, cartazes e vídeos o dia inteiro, fazendo malabarismos para equilibrar a produção em ritmo quase industrial com os incêndios que precisam apagar com baldinhos. No interior das organizações, quase sempre são vistos como meros divulgadores, e não raras vezes são lembrados com prioridade apenas quando o assunto é diminuir despesas e enxugar equipes.
Na pesquisa já mencionada, apesar de ter ocupado a posição "menos pior" no quesito confiança quando comparado aos outros poderes, o Judiciário é visto com preocupação pela maioria dos respondentes e tem descrédito de 44% deles. Quando o assunto é a aproximação da população, o primeiro lugar da lista de medidas a serem tomadas, de acordo com os resultados, é a promoção de campanhas educativas que familiarizem os cidadãos com direitos e procedimentos legais.
Para gerar relevância para a Justiça e educar a população é fundamental que se conte com ações comunicacionais verdadeiramente estratégicas, que suplantem a divulgação de informações e que sejam capazes de criar vínculos com pessoas. Tamanha empreitada, entretanto, só pode ser desenvolvida com uma mudança na cultura interna das instituições. A visão da comunicação como área acessória e tarefeira precisa ser substituída pela de uma atividade que requer continuidade, planejamento e diretrizes claras, assim como instrumentos e recursos adequados.
Durante a abertura do encontro, o chefe do Supremo criou um comitê para o desenvolvimento de uma política de comunicação integrada a todo o Judiciário. Espera-se que tal documento não se limite a mera normatização de atribuições, e sim que seja o pontapé inicial para se ter mais governança na área, assim como para a adoção de uma nova filosofia comunicacional nas cortes brasileiras, permeada por mais diálogo, abertura e planejamento efetivo com foco no cidadão.
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*Aline Castro é vice-presidente do Fórum Nacional de Comunicação e Justiça, mestre em comunicação institucional e diretora de comunicação do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.