Migalhas de Peso

O desenvolvimento tecnológico e os sistemas de gerenciamento de acervo

É necessários os bibliotecários não temerem a tecnologia, e sim mostrar que estes profissionais são importantes intermediários para seus usuários.

6/11/2019

                                             “ Nada é permanente, exceto a mudança” – Heráclito

O objetivo do presente texto consiste em deixar lacunas e interrogações para os profissionais que atuam em bibliotecas e centros de pesquisa na área jurídica.

Dizer que o avanço tecnológico não afetará o mercado de trabalho é uma falácia; adaptar-se e aprender é uma necessidade.

A inteligência artificial, criptomoedas, blockchain, redes neurais, algoritmos, já são termos utilizados e adaptados para diversas ciências e contextos. O sistema financeiro promete revoluções com o blockchain, o Direito debruçar-se em grupos de estudo e discussões sobre a aplicabilidade de tais tecnologias, seja na advocacia de massa, como em acompanhamentos processuais, área de contratos, utilização da estatística – a promissora jurimetria e a ciência de dados.

Enquanto aos sistemas de bibliotecas? Tem acompanhado as evoluções promissoras? O chamado Machine Learning, técnica de aprendizagem por máquina tem evoluído de forma eficaz em sistemas de gerenciamento de acervo? Caíram por terra as palavras-chave, vocabulários controlados e políticas de indexação? Futurístico demais?

Em tempos onde “inovação” é a palavra da vez, os sistemas de biblioteca caminham a passos largos – a informação é algo complexo, e possui suas teias,  como diria Max Weber  - “ O homem é um animal amarrado a teia de significados, que ele mesmo teceu”. Tal fenômeno não é diferente com a informação.

Nesta teia de significados o contexto é muito perceptível em bibliotecas especializadas – o “contexto” e a semântica de um termo é de extrema importância para fins de recuperação e disseminação da informação – aquela velha história” “manga” a fruta ou “manga” da camisa?

Onde entram os sistemas de biblioteca neste embaraço? –  É necessário um maior investimento, em pesquisa e desenvolvimento nos sistemas que trabalhe as ontologias e a semântica. Não irei tecer explicações referente aos conceitos em si.

Bibliotecas especializadas caracterizam-se por seu vocabulário técnico. Quanto mais especializado o acervo, maior a exigência em termos de catalogação, descrição de resumos e processamento técnico.  Sistemas que elaborem laços contextuais, relações entre a sigla e o termo, dispensando o trabalho complexo e sempre contínuo (tesauros e vocabulários controlados). Atuação com foco no contexto exato que o usuário necessita. Futurista demais?

Trabalhar com pareceres, em bibliotecas especializadas é preciosidade, é trabalhar a informação de forma estratégica e com alto valor econômico.  Sistemas com tecnologia avançada que captam o conhecimento tácito, o capital intelectual. Aquela ideia precisa que um sistema tradicional não consegue recuperar. Ir diretamente ao ponto para finalizar um artigo.

Trabalhos sobre banco de dados e ontologias são importantes para a área do e Direito e extrema valia para a biblioteconomia. Oliveira (2017), apresenta uma forma de recuperação através das ontologias para o banco de dados do STF, na qual foge dos padrões “conectores” – eis uma excelente aplicação da semântica; a jurisprudência, informação contextual. Outra aplicabilidade pertinente seria os precedentes e casos semelhantes recuperados em uma espécie de dossiê para o advogado, semelhante ao serviço “pesquisa pronta” disponível no site do STJ.

Estariam os desenvolvedores de sistemas de biblioteca e repositórios de gestão do conhecimento acompanhando e adaptando esta tecnologia para potencializar o valor informacional das bibliotecas, principalmente as especializadas?

Sabemos que para o desenvolvimento de sistemas altamente complexos, faz-se necessário alto investimento econômico, bem como profissionais capacitados, equipe multidisciplinar, com olhares diferentes. É necessários os bibliotecários não temerem a tecnologia, e sim mostrar que estes profissionais são importantes intermediários para seus usuários. Na onda da “inovação”, sistemas que prometem análises apuradas, porque não vemos estes avanços na área da biblioteconomia?

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*Texto atualizado em 7/11/19.

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*Jéssica Melissa Poquini é bacharel em Biblioteconomia e Ciência da Informação, pela FESPSP. Pós-graduada em Gestão de Projetos Culturais pela USP.

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