Migalhas de Peso

Um novo profissional: O mediador!

Há alguns anos, 10% se tanto do tempo em que sou Advogada, Turma de 1.975 da velha Academia do largo de São Francisco, caminho também pela rota das soluções de conflito fora do Judiciário e, certeza tenho apenas de que não gosto do adjetivo “alternativas” para esses procedimentos, velhos ou novos mas, que estão sendo adaptados às necessidades atuais como possibilidades de tornar menos ásperas e melhor resolvidas as relações humanas. O início do meu interesse foi mesmo a nossa Lei de Arbitragem, a partir do que, com esforço para detalhar as diferenças, obtive com meus parceiros da época um quadro de procedimentos distintos:

25/9/2006


Um novo profissional: O mediador!

 

Gilda Gronowicz*

 

Reflexões...

 

Há alguns anos, 10% se tanto do tempo em que sou Advogada1, Turma de 1975 da velha Academia do largo de São Francisco, caminho também pela rota das soluções de conflito fora do Judiciário e, certeza tenho apenas de que não gosto do adjetivo “alternativas” para esses procedimentos, velhos ou novos mas, que estão sendo adaptados às necessidades atuais como possibilidades de tornar menos ásperas e melhor resolvidas as relações humanas.

 

O início do meu interesse foi mesmo a nossa Lei de Arbitragem2, a partir do que, com esforço para detalhar as diferenças, obtive com meus parceiros da época3 um quadro de procedimentos distintos:

- Arbitragem;


- Negociação;


- Mediação e,


- Conciliação.

Andei calada ouvindo os entendidos, lendo livros daqui e de acolá, pesquisas – que se tornaram acessíveis no silêncio da internet - dos Estados Unidos, França, Argentina, Canadá, Chile, da nossa Portugal e, sempre que possível ouvi e li mais e mais e comecei a trocar idéias...

 

Quem encontrei e encontro nessas andanças?

 

Administradores de empresa, professores, corretores de imóveis, engenheiros, economistas, médicos... sim, médicos mas, as duas maiorias compõem-se de psicólogos e advogados.

 

Quais os perfis?

 

Estive com pessoas bem sucedidas em suas profissões de origem, pessoas em início de carreira, outros que abandonaram sua formação de origem e vislumbram novas perspectivas4, profissionais mais velhos, jovens, uns com vontade de ler, outros com vontade de estar ou pertencer, aqueles que buscam parcerias, os que preferem caminhar sozinhos, os mais diversos perfis e desejos que se possa imaginar.

 

A experiência na Pró-Mulher5 sedimentou os primeiros estudos.

 

Os psicólogos, com análise e domínio das emoções sentem-se à vontade mas, foi interessante ver o grande susto que os psicólogos do curso da PUC São Paulo tomaram ao se depararem com a realidade, em sua experiência no Setor de Conciliação do Fórum João Mendes Jr.

 

Susto maior só levei eu, advogada, quando comecei o curso de Mediação sistêmica que está inserido na área da Psicologia Clínica6!

 

a resistência que meus Colegas Advogados com os procedimentos adicionais - chamo de “plus” - para a solução de conflitos, pude constatar em duas ocasiões: durante uma palestra que proferi no OAB/Seccional de Pinheiros, quando foi complicado manter o interesse sem ter leis e normas imperativas para amparar o tema e durante um curso da Escola Superior da Advocacia, quando o nosso jovem e inteligente Coordenador7 venceu algumas mentes arraigadas em normas processuais.

 

Por que fui buscar outros rumos mais?

 

Bem, talvez inspirada por psicólogos que adentraram com garbo e afinco na área jurídica8, o que acontece já em igual intensidade com advogados, em especial aqueles atuantes da área de família que há tempos buscam conhecer das emoções.

 

Todavia, algo parece fluir muito bem na Mediação: a parceria Psicólogo & Advogado, em co-mediação, tem demonstrado excelentes resultados para todos os envolvidos.

 

Ahhh... uma parceria proveitosa até aqui e, em atuação na área pública, tive com um Mediador - Engenheiro9!

 

No Setor de Conciliação do Fórum João Mendes10 tenho uma ex-Colega do curso da PUC, Psicóloga11, com quem é excelente estar junto e até aqui sempre alcançamos bons resultados.

 

No Fórum incluímos técnicas de mediação, porém, o procedimento visa um acordo, uma finalização mais rápida do processo e, portanto, ainda virão outras etapas para implantar a Mediação propriamente dita.

 

O caminho é certamente esse, divulgar entre as pessoas essa possibilidade, o que tem sido gratificante, da mesma forma como sinto o quanto as partes ali, por terem um espaço para falar de seus pedidos, dos seus obstáculos e das suas angústias, sentem-se bem e em alguns casos, acima do resultado concreto, recuperam uma parcela da dignidade que o tempo decorrido lhes havia retirado.

 

Assim é em 1º grau, no Fórum João Mendes Júnior e, ocorre também no Tribunal de Justiça de São Paulo12, onde sou Conciliadora há quase 1 ano: no Setor do Tribunal de Justiça já estive com partes que após 8 anos de atuação em um processo, ali, pela primeira vez se encontraram e puderam conversar!

 

Conversaram, houve uma nova reunião13, conversaram e, na terceira reunião celebraram um acordo.

 

Em 1º grau, a maioria de Advogados compartilha o espaço com Psicólogos, encontrei uma Médica, Assistentes Sociais e estudantes.

 

No Tribunal de Justiça de São Paulo, em 2ª instância, temos a presença marcante e atuante dos Desembargadores, Juizes aposentados e Advogados com mais de 20 anos de experiência; nos dois Setores, os Conciliadores desenvolvem o trabalho com a doação de uma parcela do seu tempo e do seu conhecimento ao Judiciário e à sociedade, como Voluntários e, de certa forma, todos nós ali praticamente nos queremos, além de Conciliadores, veros Mediadores.

 

Os Juizes têm convicção de que derivam naturalmente da Magistratura para a Mediação e, assim também os líderes religiosos, que invocam além de Mediadores, a função de Árbitros capazes para todas as causas, mas aí é, digamos, concorrência desleal, eis que contam com uma ligação mais estreita com o divino... de todo modo, a grande experiência e o conhecimento das mazelas humanas que os líderes espirituais detêm realmente são de enorme ajuda para os seus fiéis.

 

Já disse que a MEDIAÇÃO, acima de tudo, é uma NOVA MENTALIDADE, um NOVO PARADIGMA, que parte da lógica conflitiva para a lógica colaborativa.

 

Bem, mantenho ainda esse conceito, entre outros, porque a certeza maior é a da incerteza das relações humanas e, como tal, da incerteza do conhecimento; a pretensão de interferir com essas incertezas traduz um Novo Conhecimento e, o Mediador também é uma Nova Pessoa, um Novo Profissional.

 

Quem é essa Nova Pessoa, esse Novo Profissional?

 

Já há dúvidas sobre quem ou como deve ser essa Pessoa:

- com nível superior ou não?

- capacitada por cursos regulares?

- experiente no atendimento das pessoas?

- com conhecimento da profissão em outros países onde já é regulamentada?

- organizada em associações?

Em uma palestra na Associação dos Advogados, seccional de Pinheiros, dissemos que

"O MEDIADOR é um profissional de nível superior, capacitado com técnicas especiais de análise, intervenção e escuta, uma profissão nova no Brasil, de caráter transdisciplinar".

Percebo hoje que na ocasião faltou dizer muito: faltou dizer da neutralidade na atuação, da ética, da sensibilidade, da apuração na escuta, da força para suportar dores alheias e controlar os próprios reflexos e as próprias emoções e, certamente muitos outros aspectos.

 

De cursos, práticas, congressos, workshops, experiências das mais diversas, no setor privado, no setor público, como Voluntária14 ou profissional, imersões de final de semana ou estudos de semestres ou de anos, testes, atuações, leituras, pesquisas, trocas, monografias e similares, com tantas pessoas diferentes e de diferentes profissões, está sendo formado e vai emergir

 

Um Novo Profissional: O Mediador!

 

Ainda não tenho certeza sobre quem ele é e, quando tiver material suficiente pretendo escrever um livro sobre esse novo profissional que atua em busca de melhores perspectivas nas relações entre as tão diferentes pessoas desse imenso palco humano.

___________

 

1Turma Pinto Antunes, 1.975, da Faculdade de Direito da USP – Universidade de São Paulo.

 

2Lei 9307 de 23/09/1.996, com vigência após longa tramitação e debates legislativos

 

3Dr.Egídio Carlos Moretti, economista Fernando José e dra. Rosiris Umbelina de Ponte Paula e Silva.

 

4Cássio Filgueiras, advogado, um dos realizadores da cartilha “Mediação – Uma Prática Cidadã”., UNESCO – UNINOVE.

 

5PRÓ-MULHER Família e Cidadania, coordenação da psicanalista e Mediadora dra. Malvina Éster Muszkat

 

6COGEAE-PUC SP, Mediação: Intervenções Sistêmicas para Resolução de Conflitos e Disputas <_st13a_personname productid="em Diferentes Contextos" w:st="on">em Diferentes Contextos, coordenação das psicólogas professoras dra.Mônica Haydée Galano e dra. Rosa Maria Stefanini Macedo.

 

7Escola Superior da Advocacia ESA/OAB Pinheiros, Curso de Mediação, Conciliação e Arbitragem, diretora dra. Ada Pellegrini Grinover, coordenação dr. Luiz Fernando do Vale de Almeida Guilherme

 

8dra. Giselle Câmara Groeninga, SBP Sociedade Brasileira de Psicanálise, IBDFAM, Instituto Brasileiro de Direito de Família, parceira da advogada dra. Águida Arruda Barbosa no BG MEDIAÇÃO INTERDISCIPLINAR.

 

9Eng. Mathias Wolff, integrante do Instituto FAMILIAE, trabalho junto à Prefeitura Municipal de São Paulo, regional de Pinheiros.

 

10Fórum Cível João Mendes Júnior, Setor de Conciliação, coordenação Juíza dra. Maria Lúcia de Castro Pizzotti Mendes, diretora do Setor, Helena Batista Segalla.

 

11Psicóloga e Mediadora dra. Rosana Rocha Prado.

 

12Tribunal de Justiça de São Paulo, Setor de Conciliação, coordenação Desembargador dr. Hamilton Elliot Akel, assistente Eunice Leite Lagrasta.

 

13Nos Setores de Conciliação do Judiciário paulista, uma nova reunião é chamada "redesignação da audiência de conciliação".

 

14Programa Advocacia-Mediação/Depto.de Assistência e Serviço Social da Federação Israelita do Estado de São Paulo e União Brasileiro-Israelita do Bem Estar Social - UNIBES.

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*Da Turma Pinto Antunes, 1975, da Faculdade de Direito da USP – Universidade de São Paulo

 





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