Migalhas de Peso

Oportunidades na aproximação brasileira de mercados asiáticos

Se o Brasil quiser ter mais protagonismo nesses mercados, será necessário, além de potencializar ações de promoção comercial, avaliar acordos comerciais entre o Mercosul e a ASEAN. Um bom início para essas negociações é a negociação em andamento entre o Mercosul e Cingapura.

9/5/2019

Com a retração do crescimento econômico dos países europeus e dos Estados Unidos, a Ásia está retomando o seu lugar como o centro econômico do mundo. Em particular, destaca-se o Sudeste asiático, mercado pouco explorado pelo Brasil, e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), bloco econômico com mais de 600 milhões de habitantes e que engloba dez países. 

Segundo dados do International Trade Center (ITC), em 2018, os países da ASEAN representaram 7,5% das importações mundiais. Há cinco anos atrás, em 2014, essa participação era de 6,5%. Houve, portanto, um dinamismo maior das compras internacionais dessa região em relação ao mundo.

Mesmo em um cenário desafiador do comércio internacional, o crescimento médio anual das importações desses países foi de 4,3% contra 0,26% do resto do mundo entre 2014 e 2018. De forma semelhante ao modelo chinês, esses países apresentaram forte crescimento econômico ancorado nas exportações, se beneficiando do Investimento Estrangeiro Direto asiático e da sua integração nas cadeias globais de valor, o que possibilitou também a ampliação de suas importações.

Paradoxalmente, no período analisado, o Brasil perdeu participação nesses mercados. Em 2018, nosso market share nas importações da ASEAN foi de 0,69% contra 0,87% em 2014. Esse bloco representou 4,8% das nossas exportações para o mundo em 2018, chegando a US$ 11,6 bilhões, com crescimento de 4,5% em relação a 2017. 

Em 2014, o bloco do Sudeste Asiático representava 5% das nossas exportações para o mundo. Percebe-se, portanto, que é fundamental que o Brasil retome e amplie seu posicionamento nesse mercado, de modo a ampliar a relação comercial com os países da região, até porque somos superavitários nessa relação.

Alguns de nossos setores de “Alimentos, bebidas e agronegócios” possuem alto interesse nesses mercados, como as cadeias de soja; milho; carne de frango; reciclagem animal; couro e peles e etanol e derivados.

No caso do setor de couros e peles, por exemplo, de forma a atender o crescente setor calçadista desses mercados, mantivemos, em 2017, participação de 7,3% e 7,6% no Vietnã e na Tailândia, principais importadores da região. 

Conforme o “Mapa Estratégico de Mercados da ApexBrasil”1, alguns cases de sucesso em setores de maior valor agregado também podem ser destacados. Por exemplo, entre 2014 e 2017, as exportações de “Máquinas e aparelhos de uso agrícola, exceto trator” do Brasil para a Tailândia cresceram 32,6% em média ao ano. Atualmente o Brasil detém uma participação de 10% nesse mercado. 

Já para a Malásia, nossas exportações de “Tratores” cresceram em média 189% ao ano no mesmo período e mantivemos uma participação de 8,4% nesse setor nas importações malaias em 2017.

Para a Indonésia, país com a quarta maior população do mundo, nossa exportação de “Produtos farmacêuticos” cresceu 56,6% em média ao ano, no mesmo período, possibilitando um market share de 3,5% do Brasil nesse país em 2017. Vale destacar que a expectativa de vida nesse país cresceu dramaticamente entre 1970 (45 anos) e 2010 (69 anos para homens e 71 para mulheres), o que vem abrindo espaço para esse tipo de produto. 

O bloco do Sudeste Asiático já possui uma extensa rede de acordo com mercados estratégicos da Ásia e da Oceania como China, Índia, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia, os quais além das preferências tarifárias, ainda contam com proximidade geográfica e redes logísticas altamente integradas. 

Além disso, alguns dos países da ASEAN são signatários do CPTPP (Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífico), o que amplia sua abertura tarifária a parceiros das Américas, como Canadá, México, Peru e Chile. 

Vale destacar que, do ponto de vista ofensivo e de exportações, a ASEAN pode ser um dos melhores mercados para a celebração de acordos por parte do Brasil. Ao longo da última década, os países membros do bloco apresentam elevados índices de crescimento e expressiva participação no comércio internacional. O Brasil, que registrou intercâmbio comercial de aproximadamente US$ 19,5 bilhões com a ASEAN em 2018, ganharia ainda mais no aprofundamento das relações com o com o bloco.

O novo governo brasileiro parece despertar para isso. A coordenação de políticas e de medidas econômicas e comerciais voltadas, entre outras áreas de interesse do governo, para a aproximação com os países da Ásia-Pacífico é perceptível nas missões da Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Tereza Cristina, e do Secretário-Adjunto de Comércio e Relações Internacionais do MAPA, Flávio Bettarello à Ásia no início de maio.

As agendas da Ministra - China, Japão, Indonésia e Vietnã - e do Secretário-Adjunto – Filipinas, Taiwan, Tailândia e Vietnã - são parte dos esforços do governo brasileiro de abertura de novos mercados para produtos brasileiros, como frutas e carnes, além da manutenção e ampliação da pauta exportadora do agronegócio.

Ademais, se o Brasil quiser ter mais protagonismo nesses mercados, será necessário, além de potencializar ações de promoção comercial, avaliar acordos comerciais entre o Mercosul e a ASEAN. Um bom início para essas negociações é a negociação em andamento entre o Mercosul e Cingapura.

___________

1 APEXBRASIL. Mapa Estratégico de Mercados. 2019. Disponível aqui.

___________

*Josemar Franco é é graduando em relações internacionais pela Universidade Católica de Brasília e faz parte da equipe de Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados.

 *Igor Celeste é mestre em estudos estratégicos internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente, é o coordenador de inteligência de mercado da Apex-Brasil.      

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Artigos Mais Lidos

ITBI na integralização de bens imóveis e sua importância para o planejamento patrimonial

19/11/2024

Cláusulas restritivas nas doações de imóveis

19/11/2024

Estabilidade dos servidores públicos: O que é e vai ou não acabar?

19/11/2024

O SCR - Sistema de Informações de Crédito e a negativação: Diferenciações fundamentais e repercussões no âmbito judicial

20/11/2024

Quais cuidados devo observar ao comprar um negócio?

19/11/2024