Não é de hoje que o mercado jurídico brasileiro, apoiado em uma atuação segregada, com completa separação de matérias e de atuações entre seus profissionais, dá sinais de esgotamento, avolumando-se advogados que não conseguem colocação por não enxergarem para além do seu campo de atuação.
Nessa linha, tornam-se essenciais mecanismos que permitam uma atuação jurídica macro, que consiga entender a completude da operação para a qual se presta determinada assessoria, especialmente no ramo da consultoria empresarial, com serviços que efetivamente agreguem valor, tornando-se investimento e não despesa.
Sob essa ótica, compete ao operador do direito se reinventar e utilizar de ferramentas que estejam em confluência com as novas práticas de mercado, deixando para trás o que W. Chan Kim e Rennée Mauborgne chamam de “Oceano Vermelho”, isto é, ambientes de competição tradicionais, com pouca margem de atuação e trava de ingresso de novos players, com mínima ou inexistente inovação, seja no modelo de negócios ou tecnologia relacionadas.
Assim, cabe ao advogado “destruir” os conceitos e formas tradicionais de trabalho para conseguir trazer soluções que se ajustem aos novos tempos, criando segmentos e novas linhas de ação.
Porém, como fazer isso? Para construção desse formato de trabalho não é necessário “reinventar a roda”, mas observar soluções já existentes. É nesse cenário que surge a pergunta: o que advogados podem aprender com designers?
Como resposta a esta indagação surgiu uma ferramenta hoje muito utilizada por empreendedores e bastante versátil, que merece e deve ter seu devido destaque, chamada de design thinking. Isto é, o processo de pensar como designers, que invariavelmente chegam a soluções para problemas comuns, sempre tendo como centro o indivíduo e seus anseios.
Trazendo esta percepção para o mundo jurídico, trata-se do processo de pensar soluções, possibilidades, serviços para situações rotineiras, estabelecendo uma forma inovadora de convergir interesses. Esse processo pode ou não estar atrelado a alguma tecnologia, como é o caso de legaltechs.
Como parte integrante dessa nova visão de mundo, as fases de implementação de soluções compreendem: inspiração, com estudo do problema e pesquisas; ideação, com brainstorming de ideais e soluções aplicáveis; experimentação, com a adequação de uma percepção ao ordenamento e mecanismos jurídicos existentes, tirando-a do papel; e a implementação, que é a efetiva apresentação da resposta.
Cuida-se, portanto, de um processo de análise aprofundada da situação até se chegar a um produto final, passível de aplicação prática e de venda como solução jurídica. Ou seja, percepção de “dentro para fora”.
Esse tipo de processo permite maior número de compreensões de uma mesma situação, trazendo uma solução que se acopla a uma celeuma jurídica de forma inovadora, dando destaque ao profissional envolvido, que foi capaz de compreender com maior precisão o cerne da questão a fim de resolvê-la.
Com isso, cria-se um diferencial, com serviços compatíveis ou mesmo superiores às expectativas de quem os contrata, saindo da vala comum, ingressando em um nicho de mercado promissor e bastante específico, o chamado “Oceano Azul”.
Dito isso, não só advogados, mas profissionais dos mais diversos ramos podem e devem aprender com designers, tornando-se capazes de entregar melhores resultados quando mudam seu mindset1 e focam no modelo de negócios de seus clientes, oxigenando um ramo que até então parecia saturado, como é o caso da advocacia.
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1 Configuração, direcionamento mental.