Migalhas de Peso

A mudança climática conduz à mortalidade das árvores

Chegou a hora da comunidade decidir sobre o seu futuro e exigir das autoridades que, pelo menos, ajudem ou que se dediquem à tarefa humanitária de salvar o que resta de vegetação ou se dediquem a conservar o que os cidadãos criaram.

17/12/2018

Dois renomados cientistas, Tamir Klein, do Instituto Weizmann de Ciência (Israel) e Henrik Hartmann, do Instituto de Processos de Bioquímica Max Planck, publicaram um artigo, na revista Science, com o título que aqui utilizo1.

I

Assíduo leitor desta publicação, desde vários anos, acompanho dezenas de artigos, alertando os efeitos e as consequências da mudança climática. E constatei, em várias regiões deste planeta, com destaque aos movimentos glaciares da Antártida, desde 1978, quando a visitei pela primeira vez.

Eu, com orgulho, que me custa caro, planto, desde 1975, árvores numa reserva ambiental que tenho em minha família, na zona sul de São Paulo. Eu, com orgulho, já finquei no histórico solo que Dom Pedro II doou aos Voluntários da Pátria, mais de 600.000 árvores de várias espécies2. Com orgulho, sinto que sou admirado por este trabalho, por gente simples, do povo humilde do local (tão pobre como o do interior do Piauí) e nada além.

Tento imitar Jean Giono (1895-1970), com a predominância da natureza e com a maneira em que coloco o Homem no centro do trabalho: assim renunciando ao lírico, cumpro meu dever cívico.

II

Que, em resumo, esclareceram Klein e Hartmann sobre o discurso de que a mudança climática leva à mortalidade das árvores?

Mostraram:

1) “Em seu relatório "Classificando condutores de perda florestal global" (14 de setembro, p.1108), PG Curtis relatou uma avaliação global da perda florestal de 2001 a 2015. Eles atribuíram 99% da perda a mudanças no uso da terra e incêndios florestais, e eles pedem que as empresas eliminem 5 milhões de hectares de mudança de uso da terra por ano para evitar mais desmatamento. Sua análise subestima a seca causada pelas mudanças climáticas, tempestades e epidemias de insetos, que também contribuem para a substancial mortalidade de árvores a cada ano.”

2) “Durante o período investigado pela Curtis (2001 a 2015), a perda florestal provocada pelas mudanças climáticas aumentou, afetando grandes áreas florestais em todo o mundo. Evidências crescentes mostram que as secas cada vez mais quentes mataram a maior parte das árvores em uma área de 1,2 milhão de hectares no sudoeste da América do Norte, e os surtos de besouros do pinheiro atingiram as florestas no noroeste da América do Norte a uma taxa de 6 a 7 milhões de hectares por ano. 2005 e 2008. Perdas adicionais de florestas de grande magnitude devido à seca, gelo, neve e tempestades de vento ocorreram na China, Espanha, Chile e outros países. A ordem de grandeza desses eventos de perda florestal é semelhante à taxa estimada de desmatamento de 5 milhões de hectares por ano relatada por Curtis.

3) “A análise apresentada por Curtis fornece apenas uma visão parcial da magnitude e causalidade da perda global de florestas. Dados baseados em terra de inventários florestais nacionais e redes de enredos de pesquisa, combinados com uma melhor análise de imagens por sensoriamento remoto, são essenciais para identificar perdas florestais difusas devido à mudança climática. Dado que as temperaturas globais continuam a subir e as secas devem ocorrer com mais frequência e com maior severidade, quantificar e monitorar essas perdas florestais pode potencialmente se tornar ainda mais importante do que controlar o desmatamento causado pelo homem.”

Que socorrem os autores?

Os autores citam cinco fontes no artigo, destacando-se a que se reporta o “IPCC, Climate Change 2014: Synthesis Report; Contribution of Working Groups l, II and III to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change, Core Writing Team, R. K. Pachauri, L. A. Meyer, Eds. (IPCC, Geneva, Switzerland, 2014).”

III

Considerando que, em São Paulo, sucedem milhares de óbitos anuais decorrentes do inquinamento ambiental, e, pior para todos, há um custo enorme dispendido pelo Estado para curar ou testar as moléstias respiratórias, sobretudo de crianças, chegou a hora da comunidade decidir sobre o seu futuro e exigir das autoridades que, pelo menos, ajudem ou que se dediquem à tarefa humanitária de salvar o que resta de vegetação ou se dediquem a conservar o que os cidadãos criaram.

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1 Science, vol. 362, 16/11/2018, p. 758

2 Consulta: Clique aqui.

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*Jayme Vita Roso é advogado e fundador do site Auditoria Jurídica.

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