Juizite Crônica
Luiz Ricardo Gomes Aranha*
Tenho moral para criticar porque, já velho, em quase fim de carreira, não preciso agradar, e tenho moral simplesmente porque tenho, aliás, recentemente escrevi para defender os juízes na ridícula e demagógica acusação que se lhes fazia de praticar nepotismo. E, como eu previa, os que, e são poucos, faziam, mesmo, nepotismo censurável, continuam fazendo, com outros, novos (e piores) estratagemas.
E tenho grande razão para criticar porque, assim agindo, rendo homenagem aos magistrados, maioria, que são solícitos, recebem advogado a qualquer hora, despacham, não fazem de seus escrivões porteiros de castelo, nem de sues gabinetes “guetos” impenetráveis.
Aos senhores juízes que, sob as mais variadas e esfarrapadas desculpas, até o princípio do contraditório alegam, (então, como ousam despachar iniciais, conceder liminares sem oitiva da parte contrária?) fogem dos advogados como se fossem, estes, portadores do maligno, arautos da desgraça de fazer incômodos, atrapalhar audiências, interromper telefonemas corporativos, tenho conselhos, quem sabe respeitosas sugestões.
Pretendem-se, um dia, chegar aos tribunais maiores, se querem se aposentar com a justa e necessária fama de magistrado respeitado, mudem de conduta. Seus colegas que agem diferentemente, mas são fofoqueiros como todos nós e todos nós que somos fofoqueiros como todos os advogados, falam mal, criticam, censuram, ironizam pelas costas. Proibidos de os ver, vendemos sua imagem com a distorção que nos interessa já que a verdadeira e real nos é negada. Confiram o rol dos agraciados com o prestígio que dá acesso aos sodalícios e aos merecimentos, inclusive brasilienses, e verão que os ungidos, se não são, todos, “queridos”, pelo menos não são execrados. Federais ou Estaduais, juízes que trancam suas portas, algumas afrontosamente almofadadas, fecham suas nobilíssimas carrancas, vestalizam-se no pódio, só despacham pela mão de seus áulicos servidores, são como médicos que detestam doentes, advogados que não suportam suas causas, radialistas que guardam horror ao microfone, poetas que detestam palavras, futebolistas que não gostam da bola (embora, neste caso, sejam muitos).
Mais cedo ou mais tarde vão para o oblívio, opróbrio, olvido, abjeção e outros solenes palavrões aurélicos, iguais aos que os advogados que não os enfrentam, de medo ou sabujice, clamam pelos corredores do fórum, tão logo rejeitados ou frustrados de não os ver. Excelentíssimas e Majestosas Majestades Togadas, é evidente que há muitos advogados, muitos mesmo, que são indelicados, imprudentes, chatos, grosseiros, inoportunos, muitos são ignorantes, alguns, por pasmo, são quase analfabetos, tudo isto é verdade.
Ocorre que, mesmo eles, com toda sua imperfeição humana, são indispensáveis, como os senhores, à consecução da justiça, mesmo eles merecem atenção, até porque, bons ou maus, os advogados representam o preço que V. Exas pagam para terem seu justo e razoável contracheque. São, assim, ossos do seu lindo ofício.
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*Vice-presidente do IAMG - Instituto dos Advogados de Minas Gerais
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