Eu devia ter uns oito ou nove anos quando, em companhia do meu pai, vi um cartaz com esses dizeres no prédio da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul. Perguntei então:
-Pai, tem ladrão roubando o dinheiro dos impostos?
Ele, com um sorriso no rosto, respondeu negativamente, explicando que, na verdade, aquilo era um trocadilho (coisa que eu também não sabia o que significava, mas acabei por entender) explicando o sistema de vazão da água que sobeja do reservatório.
Hoje, depois de muito tempo passado, mais de trinta anos para ser claro, e com mais de dezoito anos atuando como advogado de empresas, ainda me pego refletindo sobre o cartaz mirado lá na infância imaginando o quão atual é a mensagem transmitida.
Que o brasileiro passa mais da metade do ano trabalhando para saldar impostos, todos sabem. Que empresas, sobretudo as pequenas e médias, sobrevivem a duras penas sem contabilizar qualquer lucro, quiçá acumulando prejuízos, mas tendo que sustentar o pesado Estado que impiedosamente cobra tudo o que julga ter direito -e mais um pouco- também é de sabença geral.
O brasileiro, empresário ou não, está farto de tanto peso. O Estado, quando pressionado por suas contas não fecharem, ao invés de equaciona-las reduzindo seus gastos desnecessários, aumenta os tributos existentes, sem falar na infinita criatividade inventiva de novos Is, Cs, Ts, um alfabeto inteiro de novos sugadores de dinheiro do povo, que sempre vêm vestidos garbosamente de salvadores da saúde, iluminação, educação etc.
Ultimamente nossos ouvidos se habituaram ao som das portas dos estabelecimentos se fechando definitivamente para o mercado. Crise, má administração, alto custo para o funcionamento? Muitas são as razões para tal derrocada, mas, fato indiscutível é que no nosso país tem sim imposto (aí incluo todos os tributos) saindo pelo ladrão! E o jargão não é somente no que diz respeito ao sobejo.
Não somente o excesso de impostos, mas também a corrupção generalizada -e aqui digo não somente das recentes descobertas, mas de todos os atos de corrupção praticados desde as priscas eras- não envelhecem a campanha publicitária pretérita e fazem o país inteiro sofrer com os problemas derivados.
Definitivamente não será um herói montado num cavalo, tanque de guerra, avião ou disco voador que vai acabar com os marajás, (lembram?) corruptos e demais aproveitadores das tetas fartas do governo, dos empregos públicos e demais mordomias e fazer com que, do dia para a noite, nos tornemos uma nação respeitada e próspera.
Ao contrário disso, a transformação da nação envolve muito esforço, estudo conjunto e participação da população, sem se olvidar que os corruptos e aproveitadores fazem parte dela, ou será que os políticos corruptos vieram de outro planeta? Certamente não.
Políticas de transparência dos atos públicos, abertura de canais com a comunidade, implantação de compliance nos órgãos governamentais poderiam ajudar a combater a corrupção.
Modernização da legislação tributária, otimização do dinheiro arrecadado, austeridade na sua administração e igual severidade na diminuição dos gastos seriam decisões impopulares, mas necessárias a fazer com que os brasileiros respirassem mais aliviados ao sentirem que o seu suado dinheiro está sendo melhor aproveitado, respeitado e até economizado, fazendo valer a frase imortalizada na voz de Margaret Thatcher: "não existe essa coisa de dinheiro público, existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos".
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*Rógerson Rímoli é advogado.