Primeiramente, tecnológico. Como o mundo do direito foi um dos últimos a sofrer os impactos da revolução da tecnologia da informação, o setor ainda está em definição. Exceto pelos já tradicionais sistemas de gestão processual, velhos conhecidos, todos os outros produtos são novidade, estão em teste, em desenvolvimento. Trata-se do nascimento de uma indústria e de uma área de desenvolvimento que é, por natureza, transdisciplinar. Portanto, temos o desafio de lidar com empresas nascentes, com startups e com tecnologias ainda não consolidadas.
Segundo, pragmático. A adoção de tecnologias novas sempre confronta práticas de trabalho estabelecidas e, portanto, provoca as pessoas a repensarem suas maneiras de atuar. Além disso, é natural que os indivíduos se sintam seguros com o que lhes é familiar, e manifestem resistência na adoção de novidades.
Por fim, cultural. O mundo da advocacia tem uma baixíssima tolerância a falhas e possui grande apego à tradição. No mundo do direito, o esquecimento de um prazo põe todo o processo a perder. Uma vez enviada uma manifestação ao juiz, uma vez feita a proposta de um contrato, não se pode retroceder. A ideia de um desenvolvimento por etapas, progressivo, iterativo vai ao encontro a esta visão de mundo, mas assim são as tecnologias novas, assim é o desenvolvimento de sistemas e de software.
Apesar dos desafios, nossa missão conta com o apoio da época. O estágio atual da tecnologia faz com estes obstáculos tenham que ser vencidos pela organização em questão, sob pena de serem vencidos por outras. Quem souber superá-los alcançará, no curto prazo, posição diferente dos seus pares e, no longo prazo, apenas quem os vencer sobreviverá. É nesse cruzamento de barreiras de um lado, mas de urgência pela mudança que nosso trabalho se posiciona.
Para tanto, decidimos pela criação de uma nova unidade de negócios, com nova cultura adequada a estes novos tempos, entretanto atenta às necessidades do andamento atual dos serviços. Esta unidade conta com estrutura própria, administração e recursos próprios e com profissionais do direito, mas também com profissionais que poderiam ser ao direito considerados estranhos. Contamos com engenheiros, matemáticos e cientistas da computação.
Por fim, a condução desta unidade ficou sob minha responsabilidade, na medida em que tenho uma longa trajetória de formação e atuação jurídica, mas também trabalho com desenvolvimento de tecnologias da informação há muitos anos. Esta característica me tornava sempre algo de intermédio, nem bem um, nem bem outro. Mas os novos tempos permitiram a sublimação desta contradição, felizmente, presenteando-me com o acima descrito cenário, que requer esta figura no meio do caminho.
Estamos preparados.
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*Roberto Vasconcelos Novaes é mestre e doutor em Filosofia do Direito. Professor universitário há 16 anos e atualmente leciona Empreendedorismo nos cursos de Direito, CBA e MBA em Gestão de Negócios do IBMEC-MG. É coordenador de Sistemas e Inovação no escritório Marcelo Tostes Advogados, onde coordena equipes de desenvolvimento e implantação de softwares para a advocacia.