Embora não possamos explicar certos fenômenos, sentimos que eles acontecem sem sabermos como e por qual razão. Podemos não compreendê-los, mas não ignorá-los.
Com o pensamento somos capazes de desencadear emoções, sentimentos, expectativas positivas ou negativas, ações e comportamentos.
Às vezes temos necessidade de nos agarrar a alguma coisa para superar problemas, lidar com dificuldades e conflitos, ter esperança, fé e crença em que algo de melhor surgirá. A maneira como conduzimos os pensamentos pode nos beneficiar ou nos arruinar.
Assim acontece com inúmeros fatos que demonstram a capacidade do ser humano de acionar energias interiores e, inclusive, contribuir para livrar-se de mal físico e recuperar a saúde.
Em certas situações administra-se à pessoa com doença imaginária substância sem propriedade terapêutica (placebo), cujo único componente é fazê-la crer que está sendo tratada com a substância própria para combater a enfermidade criada na sua mente. Em muitos casos, o efeito placebo reduz e até mesmo elimina os sintomas reclamados.
É o poder da mente de ficar curado, sintetizado nas palavras de Sêneca, o filósofo romano: "É parte da cura o desejo de ser curado".
Acreditar em algo transcendental, independentemente de convicção religiosa, traz esperanças de que alguma coisa de bom pode acontecer. Quem não conhece as expressões "quem tem fé tudo pode", "a fé move montanhas"?
Ciência e religião podem ser vistas como compatíveis entre si.
Fala-se que Albert Einstein dizia: "Quanto mais acredito na ciência, mais acredito em Deus" e "A ciência sem a religião é manca, a religião sem a ciência é cega".
Considerando que muitas pessoas encontram na espiritualidade e religiosidade uma fonte de conforto, já se reconhece, por exemplo, que práticas como oração e meditação trazem serenidade e equilíbrio físico-mental ao enfermo, ajudando à uma recuperação mais rápida.
Conquanto fé, crença, religiosidade e espiritualidade tenham, a rigor, significados diferentes, evidências despertaram a atenção dos estudiosos fazendo crescer as pesquisas para ver até onde tais demonstrações são capazes de ter influência na saúde e na mente humana.
O interesse sobre tais fenômenos sempre existiu ao longo da história da humanidade em diferentes momentos da cultura humana. Surgiu, então, a neuroteologia ou neurociência espiritual ou bioteologia, destinada a pesquisar a relação das experiências popularmente chamadas de espirituais, religiosas ou místicas com a saúde física e mental do ser humano doente.
Poucos duvidam dos benefícios da fé, crença, religiosidade e espiritualidade para o bem-estar físico-mental dos enfermos. Até mesmo profissionais da saúde altamente qualificados, médicos e não médicos os reconhecem. A ciência e a medicina não são inimigas da fé e, ao levarem em consideração os sentimentos e as crenças de cada um, num clima de respeito e compreensão, podem construir bons resultados.
A religiosidade e ou crença não são fórmulas mágicas que vão solucionar nossos problemas, mas podem auxiliar no gerenciamento de causas, sintomas e consequências de uma enfermidade. A medicina é um ramo da biologia, ciência que se propõe estudar os seres vivos e as leis que os regem, de modo que crença, religião, fé, espiritualidade são manifestações fora do seu contexto e domínio.
Contudo, a ciência moderna, juntamente com a Organização Mundial da Saúde, aceita a espiritualidade como contribuição a ser considerada, tendo em vista os resultados observados indicarem favorecer a saúde psíquica, social e biológica e o bem-estar do indivíduo.
Entre as instituições destinadas a realizar pesquisas e estudos científicos sobre os efeitos biológicos da fé e dar apoio a iniciativas de cunho espiritualista aos pacientes que desejarem, o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo criou o Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos (Neper) e o Hospital Israelita Albert Einstein, o Núcleo de Estudos sobre Religiosidade e Espiritualidade em Saúde (Neres). A Sociedade Brasileira de Cardiologia instituiu Grupo de Estudos em Espiritualidade e Medicina Cardiovascular (Gemca) para entender como aquelas particularidades podem repercutir na saúde cardiovascular.
A despeito das evidências, face à intrincada movimentação dos bilhões de neurônios presentes em nosso cérebro, os resultados das pesquisas ainda são modestos e os pesquisadores seguem avaliando os efeitos no organismo do doente mercê da espiritualidade/religiosidade, sem ignorar que estas, por si sós, não têm a virtude de influenciar na saúde e restaurar energias.
Compromissado com as finalidades primeiras de zelar e de trabalhar por todos os meios ao seu alcance em benefício da saúde do ser humano e sem desprezar as tendências dos conhecimentos científicos, o Conselho Federal de Medicina posicionou-se no sentido de que no exercício da profissão médica não há que existir incompatibilidades entre a fé e a razão, entre a crença e o conhecimento científico desde que respeitados os princípios básicos irrefutáveis da boa prática médica (Processo-Consulta CFM 4.043/10 – Parecer 2/11 – Assunto: Relação entre a ciência (Medicina) e a espiritualidade no Brasil – Relatores Cons. Júlio Rufino Torres e Cons. Gerson Zafalon Martins, 12 de janeiro de 2011).
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