O conflito é inevitável no local de trabalho, seja este um departamento jurídico, um escritório de advocacia ou uma repartição pública.
Acontece, porém, que a maioria das pessoas não gosta de conflitos.
Quando perguntamos aos nossos clientes como geralmente lidam com o conflito, quase sempre eles dizem que tendem a evitá-lo. E isso não surpreende, porque a grande parte de nós avalia um conflito em termos negativos e, naturalmente, buscamos nos afastar do que não gostamos ou não nos faz bem.
E quando os questionamos se as estratégias que adotam para evitar a confrontação funcionam, novamente, eles dizem que não.
Na verdade, evitar o conflito não resolve. Não diminui a tensão e em muitas ocasiões até mesmo aumenta. Os problemas tornam-se maiores, o ressentimento cresce, as pessoas se desengajam e se sentem impotentes para resolver a situação.
A relutância em lidar com o conflito é extremamente prejudicial para o ambiente de trabalho. As boas ideias permanecem não ditas, as pessoas criam silos e os líderes não obtêm as informações que precisam, porque todo mundo tem medo de apresentar questões potencialmente controversas. O post mortem sobre qualquer falha de negócios, quase sempre revela informações críticas que não foram tratadas, porque alguém estava com medo de discuti-las.
Evitar o conflito também causa estragos nos relacionamentos. Quantas vezes seu superior ou colega de trabalho traz uma ideia que você claramente percebe que não é boa, mas prefere ficar calado para não ferir sentimentos ou por não querer brigar ou mesmo por timidez ou insegurança? Quem de nós já não teve um diálogo com um chefe ou outro advogado que lhe gerou mágoa, frustração ou raiva, mas no qual não nos manifestamos, evitando o confronto?
Embora seja compreensível que as pessoas sejam avessas a conflitos, não importa por qual razão, e ainda que no curto prazo esta atitude possa lhe trazer alívio, o fato é que no longo prazo esse comportamento de fuga não resolve o problema, que eventualmente volta, muitas vezes de forma ainda mais conflituosa.
Em consequência, se um profissional do Direito quiser parar de evitar conflitos o que ele pode fazer?
Abaixo, algumas das principais dicas que vão ajudá-lo a enfrentar este desafio:
1. Não subestime suas ideias
Falar é bom para você e para a equipe. Se você foi contratado para a posição em que se encontra é porque seu superior com certeza valoriza sua experiência e conhecimentos. Não permita que a sua preocupação em gerar conflitos ou sua insegurança o impeça de dar ideias e participar de discussões ou conversas. Lembre-se que suas ideias são tão boas e merecem ser discutidas tanto quanto as de seus colegas e de seu chefe.
2. Expresse concordância com a conjunção "e"
Nem sempre é necessário que um colega esteja errado para que você esteja certo. Experimente utilizar a palavra "e" para reconhecer a opinião do outro interlocutor e oferecer a sua própria perspectiva. Por exemplo, diga "Eu entendo que esta ação judicial é muito relevante para o escritório e eu também me preocupo como vamos conduzi-la para obtermos o melhor resultado para o nosso cliente. Como nós poderíamos resolver isso juntos?". Agindo desse modo você pode explorar outras opções sem que as demais pessoas se coloquem na defensiva.
3. Faça boas perguntas
Muitas vezes, ao fazer perguntas perspicazes você pode expressar seu ponto de vista, sem gerar uma discussão. Perguntas como "Que impacto isso terá?" ou "Quais são as consequências potenciais desta ação?" podem ajudar o interlocutor ou a equipe a pensar de forma diferente, levando em conta a sua ideia, sem criar conflito. Contudo, é preciso tomar cuidado ao utilizar esta técnica, uma vez que você pode vir a fazer perguntas que levem a outra pessoa ou os membros da equipe a parecerem incompetentes. Faça questionamentos realmente necessários ou poderá acabar colocando as outras pessoas na defensiva.
4. Use a palavra "Porque"
Você e seu colega podem discordar sobre "como" um trabalho deve ser feito, embora concordem com as razões para a sua realização. Se for este o caso, experimente entender o raciocínio e os motivos dele, perguntando-lhe os seus "porquês". A partir do momento em que vocês se alinham no "porquê" fica bem mais fácil concordar com o "como". Esta é uma dica especialmente útil quando a sugestão de um colega, superior ou subordinado não faz qualquer sentido para você ou não lhe parece razoável. Indague os seus objetivos com aquela sugestão, a fim de verificar se há um modo diferente de alcançar os mesmos resultados.
5. Cheque o grau de abertura do interlocutor
Só porque seu superior ou colega é uma pessoa firme não significa que não esteja aberto a outras sugestões. Enfrentar uma personalidade forte não precisa ser um momento de combate. Basta perguntar: "Você está aberto para comentários ou opiniões sobre este assunto?" Se a resposta for afirmativa (o que ocorre na maioria das vezes), comece dizendo: "Eu tendo a pensar nessa questão sob uma perspectiva diferente." Dessa forma você mantém a conversa neutra, sem confronto ou colocando o outro na defensiva, pois não está atacando seu ponto de vista, está apenas compartilhando o seu.
6. Pratique com antecedência
Se você sabe que participará de uma conversa ou de uma reunião em que provavelmente não irá concordar com o seu chefe, colegas ou mesmo com relação a algum tópico, a melhor saída é se preparar para essa situação, praticando o que gostaria de dizer. Pode ser com o auxílio de um amigo, familiar, marido, mulher, namorado ou namorada. Se preferir, escreva seus pensamentos num papel para que fiquem mais claros. Afinal, ao se preparar previamente você se torna mais seguro, sabendo melhor o que e como falar.
Concluindo, sempre haverá conflitos entre pessoas e isto não significa necessariamente que existirão mortos e feridos pelo caminho. Conflitos são apenas desacordos, que não devem ser temidos ou evitados. Lidar com um conflito não é a pior coisa do mundo, mas deixar de resolvê-lo pode causar grandes problemas para seu escritório, empresa e para seus relacionamentos. Para ter melhores resultados nas próximas ocasiões, experimente colocar as dicas acima em prática. Sucesso!
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