Neste mês das crianças é natural lembrar a infância. Postar fotos e ver imagens antigas remora não apenas momentos como outros pitorescos. Esta migalheira aqui não sabia, mas, quando nasceu, em 1981, logo constituiu por seu advogado automaticamente seu genitor.
Vamos pôr nos seguintes termos: ter um pai advogado é mais que conviver em edições de códigos e sim levar broncas com vigor de lei. Ou, no caso de indisciplina, ler Dom Casmurro e ter que advogar a favor da Capitu. "Convença-me da inocência da ré", fez o meu irmão, o então peralta e hoje advogado Renato Eunécio, a fazer (estranho, eu sei. Mas verdadeiro). O que nesta criação paterna veio também uma criação jurídica, de dizer "nobre colega", entre outras.
Sem saber, aprendemos o Código de Ética não apenas nas infrações infantis como também no crescimento.
E foi com espanto que notei que eu, acadêmica de Direito, sei de "um saber só d'experiências feito" como orou aos moços nosso amado Ruy Barbosa o Código que deve ser como o saber, palavra cujo radical é o mesmo do sabor na nossa Língua Portuguesa e de seus correspondentes "savoir" e "saveur" na Língua Francesa.
É preciso saber de coração, (de onde vem o saber de cor), savoir par coeur, know by heart, enfim, "não é o saber da ciência, que se libra acima das nuvens e alteia o voo soberbo". É o saber do coração do advogado, que na mesma Oração aos Moços, de meter a mão no seio e sentir com a segunda via o coração, "pois há, nele, mais que um assombro fisiológico: um prodígio moral. É o órgão da fé, o órgão da esperança, o órgão do ideal".
O ideal da advogada e do advogado é promover a Justiça, sendo indispensável à administração desta defender o Estado Democrático de Direito, os direitos fundamentais, a cidadania. Está tudo isso no caput do artigo 2º do Código de Ética da OAB, que hoje fui ler.
Apesar do saber d'experiência feita, precisei conferir para ver se havia me perdido após receber um e-mail de escritório de advocacia endereçado ao meu agora formalmente constituído advogado - e sempre pai. No começo do ano fui para a África e o deixei administrando minhas justiças.
Em uma das demandas, um fato curioso: na inicial demandavam 10% de honorários. Na resolução, 20%. Indignados, a banca dos Farias (papai e irmãos) não aceitaram. E assim a contenda continuou a se desenrolar em juízo prejudicando a mim duplamente, já que era contra o meu condomínio (e como coisa comum, também é minha parte).
O Código de Ética prestes a celebrar um ano já foi vilipendiado nos seus artigos 3º, 5º e o 28º para dizer o mínimo nesta simples causa. Imagine o que ainda há por aí neste 2016 que já teve até advogado preso e escritório revirado.
Mas, acima de tudo, a advocacia perdeu muito ao ver profissionais deixando de lado a elegância, polidez e bons tratos para com os colegas. Ao buscar a solução dos conflitos ao invés dos interesses financeiros próprios. E, simplesmente, ao não saber, nem d'experiência e nem de leitura, o Código de Ética deste sacerdócio que mesmo passados os anos da descrição de Ruy Barbosa continua sendo belo. Belíssimo.
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