Não sei que horas são.
Uma claridade difusa se esgueira,
fagueira,
atravessando as frestas da janela,
Ligeira.
O som noturno da cidade me alcança,
difuso.
Confuso, procuro identificar sua origem.
Uma voz se ouve ao longe,
Um carro freia assustado na esquina.
Sei que ali parca luz
a rua ilumina e a escuridão desce
até ao chão e nele cresce,
sombria.
Chegará a qualquer hora o dia?
Deitado para o lado da parede,
os pés presos no lençol amarrados como em
rede,
viro-me para o outro o outro lado e com muita sede
estendo a mão
esquerda,
devagar, um pouco insensível e
lerda,
porque havia ficado presa sob a minha cabeça.
E antes que em sonho a consciência não querendo
Desvaneça,
Sinto em meus dedos e na palma da minha mão,
num toque suave a tua pele macia,
magia da química do corpo adormecido e calmo.
Me acalmo. E na bruma do tempo passado,
O pensamento, alado, volteia pelo espaço.
Então na pista do tempo um pouso breve
Que quarenta e seis anos de vida leve,
Eu faço, no primeiro momento da tua visão,
Do rosto visto em um grupo indistinto.
Um pouco longe dos olhos que logo
Identifica o instinto como um alvo agradável
À vista, ao cheiro e ao tato, que como um fato
Se deu somente no futuro dali distante em,
Sucessão de fato e fato, num redemoinho
de pensamentos gratos, de doce olfato;
do toque quente de um beijo casto
que de saudades deixa um claro rastro
medido pelo caminho longo mas logo gasto
quando o futuro chega em instante, breve.
E no toque suave em teu corpo minha
mão se atreve a sentir a seda cálida da
pele trigueira. E assim seles o resto da minha noite
Minha querida, minha pequena,
Que, ligeira, de uma se multiplicou em quatro, em cinco,
Em quantos mais? Naqueles que um afetuoso braço um forte
Abraço acolhe a mim e a todos os chegados na fila
Não tranquila da brava vida a ser vivida passo
A passo, num grande e pequeno espaço do
Coração imenso e do tempo gasto,
Menor do que o desejo intenso de guardar
Em pequenas caixinhas de lembrança
Cada momento bom que a memória alcança e
Lépida logo se lança na bruma da vida e
Da terna esperança que minha mão ainda sente
Abandonada no teu corpo quente.
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