Caro leitor, permita que, aos 32 anos de idade, intitule-me jovem advogado. Esse ano completo dez anos da minha conclusão do bacharelado e sinto que estou apenas dando início à minha carreira.
É curioso dizer isso, aos 32. Lembro-me que, aos 22, quando havia acabado de deixar a faculdade e já tendo passado na OAB “de primeira”, pensava que era um advogado pronto para qualquer embate. Aos 23, iniciei o mestrado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Ao retornar ao Brasil, já me imaginava um profissional completamente preparado, pronto para ser sócio de qualquer grande escritório de advocacia. Ledo engano. Os anos passaram e vi que ainda me falta muita experiência e aprendizado.
O objetivo da presente carta, ainda que escrita por um advogado em início de carreira é tentar mostrar ao jovem profissional uma opinião pessoal a respeito do atual panorama da advocacia brasileira. Isso porque, ao ler o noticiário, o jovem profissional ou estudante pode imaginar que a advocacia, nos tempos atuais, é uma profissão em plena decadência.
E essa sensação é justificada. O Brasil possui 1,3 mil faculdades despejando, todos os anos, milhares de bacharéis e outros milhares de advogados no mercado. Não é incomum entre os colegas de faculdade, verificarmos que muitos, sem espaço no mercado, optaram por abandonar o Direito. Além disso, vemos advogados desistindo da profissão para tentarem a vida em outros países, em profissões tais como entregador de pizza, pintor, dentre outras1.
Tudo isso, naturalmente, pode ensejar o jovem profissional ou estudante a ter enorme receio em trilhar o caminho da advocacia. É compreensível. Justamente por isso que vemos boa parte dos estudantes, desde o início da faculdade, buscando o caminho dos concursos públicos. Além de bem remuneradas, os cargos públicos oferecem benefícios tais como a estabilidade e aposentadoria, o que atrai o jovem profissional.
A respeito da carreira pública, uma observação. Vejo muitos amigos prestarem concursos, sem vislumbrar um cargo determinado. Há colegas que prestam todo o tipo de provas: juízes, promotores, defensores públicos, advogados em estatais e assim por diante. O que importa, para muitos, não é o cargo em si, mas apenas uma carreira pública. Esse fato é preocupante porque, parece-me, a carreira tem a ver com vocação. A função de um juiz é completamente distinta de um promotor de justiça. É difícil imaginar que o candidato queira ser todas as profissões ao mesmo tempo.
Mas àqueles que, como eu, são apaixonados pela advocacia e que não pensam em trilhar a carreira pública, aqui alguns apontamentos.
A advocacia não morreu, garanto. Ser advogado é uma profissão que me honra, todos os dias. Também é possível, acredite, ser bem remunerado por isso. Naturalmente não é um caminho fácil e há muitos desafios.
Há seis anos resolvi, junto com um amigo, montar a nossa própria banca de advocacia. O início é absolutamente desafiador e, tenho certeza, a maioria dos escritórios fecha nos primeiros meses ou anos de funcionamento. Os últimos dois anos mostraram-se mais rentáveis e com grandes perspectivas de crescimento. Ao chegar aqui, passamos por alguns desafios, mas, finalmente, verifico que estamos no caminho certo.
Reitero, jovem leitor, que essa não é uma carta de um advogado com carreira consolidada, com caráter de “aconselhamento”. É, na verdade, a união de dicas que daria a alguém menos experiente do que eu, que possui dúvidas a respeito de seguir, ou não, na advocacia.
Vamos a eles.
Estude I. Se você é formado por uma instituição de renome, o caminho pode ser mais fácil. De qualquer forma, mesmo tendo se formado nas melhores faculdades, uma grande dica é estudar. E não apenas estudar para passar na OAB. Estude para se destacar frente aos demais e porque a advocacia de ponta requer muito preparo.
Estude II. Quando era coordenador da Comissão dos Novos Advogados do IASP, em uma reunião por nós organizada no escritório Pinheiro Neto, um dos nossos membros indagou ao Prof. Cristiano Zanetti, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, quais conselhos ele daria ao jovem advogado. Zanetti nos deu três conselhos: estude, estude e estude. Por isso, seja você estudante ou advogado, não pare de estudar. E, se não gosta de estudar, repense se é a advocacia (ou o Direito) que você quer seguir.
Faça networking. Muitos colegas não gostam de fazer networking. Penso ser algo indispensável. O grande desafio da advocacia é conseguir clientes. Há quem não goste desse desafio. Pessoalmente, trata-se de um desafio que gosto muito. Assim, participe de palestras, faça parte de associações, promova bate-papos. Enfim, apareça.
Seja acadêmico. Ainda que você não pense trilhar para a docência, seja próximo da academia. Se tiver oportunidade, faça mestrado e doutorado. Não acredite naqueles que dizem que, para a advocacia, pouco importa um mestrado ou doutorado. A pessoa que normalmente diz isso é porque não possui tais titulações. A pesquisa melhora nosso desempenho e certamente auxilia na captação de clientes.
Tenha orgulho em ser advogado. Certa vez, um tio me perguntou: “Você pensa na carreira pública ou vai parar por ai?”. Na hora, não entendi o que meu tio quis dizer. Momentos depois entendi que, na cabeça dele, a advocacia estaria abaixo de outras profissões. Tive de explicá-lo que gosto muito da profissão e não pretendo mudar. Sempre que indagado, se você ama advocacia e não pensa em carreiras públicas, deixe isso claro. Eu sou advogado por escolha e não falta de opções.
Se faça respeitado. É notório que os melhores e maiores juízes brasileiros são aqueles que recebem o advogado, com cordialidade e educação. Mas há uma minoria, com menor preparo, comumente arrogante e, inúmeras vezes, deselegante em sala de audiência. Pior de tudo é verificar, sobretudo no interior, colegas mais jovens que admitem o tratamento. Certa vez fui a uma audiência em Valinhos. Ao entrar na sala de audiências, dei boa tarde à Juíza. Ela não me respondeu. Novamente disse boa-tarde. Mais uma vez sem resposta. Foi então que me dirigi ao escrevente e lhe disse: poderia dizer à nobre Juíza que estou lhe dando boa tarde. Só assim, vendo minha insistência, ela murmurou algo que entendi como “tarde”.
Respeite. Respeite a parte contrária, seu colega adverso, promotores e serventuários. Mas não aceite falta de respeito, principalmente na frente do seu cliente. Não tema. Exija ser atendido pessoalmente para despachar petições que, na sua opinião, merecem um diálogo pessoal.
Acredite. Tenha a certeza de que seremos demandados, sempre. Qualquer empresa precisa de um advogado ou departamento jurídico. A depender do investimento e do litígio envolvido, as empresas não economizam. E não pense que as empresas precisam apenas dos grandes escritórios. É comum que grandes empresas firmem contratos longos com dois, três ou quatro escritórios, dos mais variados portes. Apenas relembre que confiança não se conquista do dia para a noite.
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